Uma das dúvidas mais comuns da prática clínica da terapia intensiva é quando utilizar ou suspender a nutrição enteral em pacientes em uso de droga vasoativa. Durante o ISICEM 22, o Prof, Paul Wischmeyer, um dos experts em nutrição no paciente grave, abordou tal temática.
Nutrição enteral precoce na UTI/choque pode desacelerar o motor da disfunção orgânica
A administração de 20% do aporte de nutrição enteral (nutrição trófica) previne disbiose, atenua a perda de enterócitos, promove a função da barreira intestinal assim como aumenta a imunidade inata.
Estudo publicado por Ohbe et al, em 2019, na Critical Care Medicine mostrou que o uso de nutrição enteral precoce esteve associado à redução na mortalidade de pacientes adultos ventilados mecanicamente e tratados com dose média ou baixa de vasopressores mas não com doses mais elevadas.
Ou seja, talvez nós estejamos aumentando a mortalidade quando NÃO alimentamos pacientes na UTI em uso de dose baixa de vasopressores.
Como fornecer nutrição enteral de forma segura em pacientes usando vasopressores?
De acordo com o Prof. Wischmeyer, é importante que a nutrição seja administrada a nível gástrico, não diretamente por via pós-pilórica como primeira opção. A via gástrica transmitirá informações importantes (“melhor monitorização para perfusão do trato gastrointestinal e segurança) a respeito de intolerância à nutrição, como quando observamos resíduo gástrico aumentado (> 500 mL) ou outros sinais de intolerância.
O mesmo frisa que em alguns casos que a via pós-pilórica é utilizada para alimentação, mantém, no período do choque ou uso de vasopressores, uma sonda gástrica, visando vigilância quanto a sinais de intolerância.
Vamos agora avaliar as principais recomendações sobre o tópico. Encontre o artigo completo aqui.
1) Dose do vasopressor e uso da nutrição enteral
Noradrenalina
- < 0,1 ug/kg/min: mais ideal;
- 0,1 a 0,3 ug/kg/min: pode ser aceitável;
- > 0.5 ug/kg/min: risco significativo (não administrar nutrição enteral).
2) Marcadores e sugestões de segurança
1. Lactato normalizado ou em queda rápida;
2. Dose do vasopressor em queda ou estável;
3. Saturação venosa de oxigênio normal ou elevada.;
4. Demanda por fluidos em estabilidade ou ausência de sangramento ativo;
5. Limite a ressuscitação fluida excessiva com cristaloides (evitar edema intestinal)
3) Estratégia nutricional
1. Inicie com alimentação trófica por via gástrica (10 a 20 ml/h). Não iniciar com nutrição pós-pilórica.
2. Progrida a nutrição enteral de forma gradual e monitore sinais de intolerância;
3. Considere administração de fórmulas peptídicas para reduzir o consumo intestinal de O2 para absorção
4) Sinais de intolerância
1. Aumento do resíduo gástrico (> 500 mL)
2. Distensão abdominal
3. Náuseas ou vômitos
4. Dor abdominal nova
5. Elevação inexplicável do lactato após início da nutrição ou da sua progressão
6. Hipertensão intra abdominal ou síndrome compartimental abdominal
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