A Dra. Charlotte Bradbury, professora e pesquisadora da Universidade de Bristol, Inglaterra, uma das mentes que compõe o grupo de investigadores REMAP-CAP, apresentou um dos trabalhos deste grupo no 41st International Symposium on Intensive Care and Emergency Medicine (ISICEM 2022), com lançamento simultâneo na revista JAMA.
O REMAP-CAP é um estudo de plataforma adaptativa internacional projetado para determinar as melhores estratégias de tratamento para pacientes com pneumonia grave em ambientes pandêmicos e não pandêmicos.
REMAP-CAP: terapia antiplaquetária na covid-19
Trata-se de um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, que incluiu 1.557 pacientes com o objetivo de determinar se havia benefício no uso de terapia antiplaquetária para pacientes críticos com covid-19. Os pacientes foram divididos em três grupos: que receberam aspirina (n = 565); que receberam um inibidor da P2Y12 (n = 455); ou que não receberam nenhuma terapia antiplaquetária (n= 529).
A dosagem dos antiplaquetários utilizados foi a seguinte: aspirina, 75 a 100 mg uma vez ao dia; clopidogrel, 75 mg uma vez ao dia sem dose de ataque; ticagrelor, 60 mg duas vezes ao dia sem dose de ataque; prasugrel, dose de ataque de 60 mg seguida de 10 mg por dia (se idade < 75 anos e peso ≥ 60 kg) ou 5 mg por dia (se idade ≥ 75 anos ou peso < 60 kg).
Foram utilizados inibidores de bomba de prótons (IBP) ou antagonistas do receptor H2 para supressão da acidez gástrica. Os pacientes receberam tromboprofilaxia química com anticoagulante concomitante de acordo com o tratamento padrão, se não randomizados no domínio de anticoagulação do estudo.
O desfecho primário medido foi a quantidade de dias livres de suporte respiratório ou cardiovascular na Unidade de terapia intensiva em 21 dias. A análise do desfecho foi realizada com um modelo logístico cumulativo bayesiano.
Resultados
Os grupos “aspirina” e “inibidores da P2Y12” atenderam aos critérios predefinidos de equivalência em uma análise adaptativa e foram estatisticamente agrupados para análise posterior, dando origem ao grupo “antiplaquetário”.
Entre os 1557 pacientes críticos randomizados, oito pacientes retiraram o consentimento e 1549 completaram o estudo (idade média: 57 anos; 521 [33,6%] do sexo feminino). Mediana para dias sem suporte de órgãos: 7 (IQR, -1 a 16) em ambos os grupos antiplaquetários e controle (Odds ratio [OR] mediana-ajustada, 1,02 [intervalo de confiança de 95% {IC95%}, 0,86-1,23]; 95,7% de probabilidade posterior de futilidade).
As proporções de pacientes que sobreviveram à alta hospitalar foram 71,5% (723/1011) e 67,9% (354/521) nos grupos antiplaquetário e controle, respectivamente (OR mediana-ajustada, 1,27 [IC95%, 0,99-1,62]; diferença absoluta ajustada, 5% [IC95%, -0,2% a 9,5%]; 97% de probabilidade posterior de eficácia).
Entre os sobreviventes, a mediana de dias livres de suporte de órgãos foi de 14 dias em ambos os grupos. Sangramento maior ocorreu em 2,1% e 0,4% dos pacientes nos grupos antiplaquetário e controle (OR ajustado, 2,97 [IC95%, 1,23-8,28]; aumento do risco absoluto ajustado, 0,8% [IC95%, 0,1%-2,7%]; 99,4% de probabilidade de dano).
Mensagem prática
Entre os pacientes críticos com covid-19, o tratamento com um agente antiplaquetário em comparação com nenhum tratamento antiplaquetário teve baixa probabilidade de melhorar o número de dias sem suporte de órgãos em 21 dias na unidade de terapia intensiva.
O trabalho tem algumas limitações, sendo a principal relacionada ao resultado composto (agrupar todos as intervenções em único grupo), o que potencialmente pode identificar diferentes efeitos do tratamento e, embora cada componente seja relatado separadamente, há um poder limitado para dar respostas definitivas sobre o efeito do tratamento em cada componente.
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