Ontem postamos em nossos perfis nas redes sociais uma enquete perguntando a vocês qual assunto mais interessa na série do congresso do American College of Cardiology (ACC 2022) “Clinical Spotlight” e o mais votado foi “dislipidemia”.
Dislipidemia
O primeiro tema abordado foram os eventos adversos em uso de estatina e o percentual de pacientes que de fato aderiram ao tratamento. Das diversas drogas para redução do colesterol, as estatinas são as mais estudadas e aquelas que apresentam benefícios concretos e relevantes na redução do risco de morte, AVC e/ou IAM. O efeito colateral mais comum são queixas musculares.
Na prática, muitos pacientes interrompem o tratamento e não tentam mudar a droga nem reintroduzi-las, o que pode privá-los do benefício cardiovascular. Em um estudo recente, foi demonstrado que até 90% das queixas são iguais em pacientes usando estatina ou placebo! Isto é, apenas 10% das queixas são de fato intolerância. Neste caso, a recomendação é dar um “wash out” sem estatina por 4 semanas e tentar reintroduzir uma outra estatina, em dose menor, pois muitas vezes isso é suficiente para adaptação.
Medicações
A seguir, entrou-se no debate das opções medicamentosas quando atingimos a dose máxima de estatina e mesmo assim o LDL ainda não está na faixa ideal. Estudos mostram que até 75% dos pacientes não conseguem um LDL < 50 mg/dl, como é recomendado nas diretrizes europeias. Hoje temos três opções nestes pacientes:
- Ezetimibe;
- Inibidores PCSK9;
- Ácido bempedoico.
No congresso, foram mostrados resultados do estudo com ácido bempedoico em associação com estatina e ezetimibe, mostrando seu potencial de sinergismo com baixo risco de efeitos colaterais, com um ganho de até 24% a mais na redução do LDL. O principal efeito colateral foi o aumento do ácido úrico e crises de gota.
Já o inclisiran é uma nova droga que atua na via do PCSK9, mas por mecanismo diferente do alirocumab e do evolocumab: ele inibe o RNA mensageiro responsável pela produção da proteína PCSK9. Com isso, obtém excelente efeito na redução do LDL sem grandes efeitos colaterais.
Outro aspecto importante é que são necessárias menos injeções da droga, porque seus efeitos duram várias semanas! No estudo Orion-10, foram 4 injeções em 2 anos! A redução do LDL ficou em torno de 58% quando associado a uma estatina, comparado à estatina isoladamente.
Infelizmente, ainda aguardamos o lançamento no Brasil do onclisiran e do ácido bempedoico, assim como estudos com desfechos clínicos “duros”, como mortalidade, IAM e AVC.
Estamos acompanhando o congresso americano de cardiologia. Fique ligado no Portal PEBMED e em nosso Twitter e Instagram.
Mais do ACC 2022:
- Restrição de 1.500 mg/dia de sódio traz benefícios na insuficiência cardíaca?
- Mavacamten na miocardiopatia hipertrófica obstrutiva – VALOR-HCM trial
- Ácido tranexâmico em cirurgias não cardíacas – POISE-3
- Tratamento de hipertensão crônica leve em gestantes – the CHAP project
- Sotaglifozina em pacientes com DM e DRC – análise de subgrupos do SCORED trial
- Infarto com supra de ST – qual o impacto da revascularização completa na qualidade de vida?
- Vupanorsen para colesterol – TRANSLATE-TIMI 70 trial
- Alirocumab + estatina em pacientes com IAM – PACMAN-AMI trial
- Como engajar os pacientes na dieta DASH? – estudo SUPERWIN
- Novo guideline de insuficiência cardíaca
- Vacinação contra influenza e insuficiência cardíaca
- Omecamtiv em pacientes com ICFER sintomático – estudo METEORIC-HF
- Patiromer apresenta benefícios na redução de risco de hipercalemia no paciente com ICFER
- Como aumentar adesão do médico às diretrizes de IC? – estudo PROMPT-HF
- Mavacamten e na redução de sintomas de miocardiopatia hipertrófica – MAVA-LTE
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.