O efeito das estatinas na redução do risco de eventos cardiovasculares é bem conhecido e muito bem estabelecido, e muito bem estabelecido também é a relação do risco cardiovascular com o nível sérico de LDL-colesterol. No entanto, até então, antilipidêmicos não-estatinas (como fibratos, ácido nicotínico e inibidores CETP) ainda não haviam demostrado benefício adicional quando utilizados em associação à estatina.
Neste contexto, o inibidor da absorção intestinal de colesterol Ezetimiba, utilizado como droga adjuvante no tratamento da dislipidemia, pode ser responsável por uma redução de cerca de 20% no LDL-colesterol, porém seu benefício em termos de mortalidade ainda não haviam sido revelados. Até que o estudo IMPROVE-IT acaba de publicar resultados animadores, mostrando que, de fato, a associação com estatina diminui o risco de eventos.
O estudo prospectivo duplo-cego multicêntrico, envolvendo 1158 centros em 39 países diferentes, utilizou-se de uma população alvo de adultos com pelo menos 50 anos, hospitalizados nos últimos 10 dias por síndrome coronariana aguda com ou sem supra de ST; estando elegíveis aqueles com LDL-colesterol entre 50-125 (ou 50-100 se uso prévio de antilipidêmico) e presença de 1 ou mais fatores de risco de alto risco para evento cardiovascular (troponina aumentada, diabetes, infarto prévio, doença arterial periférica, alterações do segmento ST, doença cerebrovascular, coronariopatia triarterial); sendo exclusos hepatopatas com doença ativa, portadores de doença renal crônica com clearance < 30 mL/min, em pacientes com evento isquêmico, arrítmico, hemodinâmico, ou coronariografia nas últimas 24 horas, e aqueles em uso de estatinas mais potentes do que 40 mg de sinvastatina. Os pacientes foram randomizados em um grupo tomando a associação Exetimiba + Sinvastatina 10/40 mg, e um grupo controle tomando Sinvastatina 40 mg. Foram seguidos por pelo menos 2 anos e meio (sendo a média de 6 anos de seguimento), sendo analisado como desfecho primário a morte cardiovascular, infarto do miocárdio, hospitalização por angina instável, acidente vascular encefálico e necessidade de revascularização após 30 dias de randomização.
A conclusão do estudo foi que a associação reduz o risco de evento cardiovascular quando comparado a monoterapia, atinge menor dosagem sérica de LDL-colesterol e não determina aumento do risco de câncer, ou de eventos adversos musculares e cólica biliar. A associação também demonstrou-se segura para o uso após uma síndrome coronariana aguda. A redução do risco relativo foi de cerca de 6%, representando um resultado modesto porém real, como nunca antes observado com outras associações.
O resultado também reforça a estratégia “lower is better” (mais baixo é melhor), em relação ao LDL-colesterol, valorizando as recentes recomendações dos guidelines americanos de que o menor nível de LDL-colesterol possível deve ser perseguido com a maior dose tolerável de estatina e, hoje, com a possível adição do Ezetimiba ao tratamento.
Fonte: Cannon, CP et al; “IMPROVE-IT Trial: A comparison of Ezetimibe/Simvastatin versus Simvastatin monotherapy on cardiovascular outcomes after acute coronary syndromes”, AHA 2014
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