O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é comum em pediatria e sua identificação oportuna diminui a ocorrência de formas graves de apresentação, como a cetoacidose diabética (CAD). Com o objetivo de avaliar se o diagnóstico de DM1 e de suas complicações agudas mudaram durante a fase inicial da pandemia de Covid-19, Guimarães e colaboradoras realizaram o estudo “Type 1 Diabetes in Children in Times of Covid-19 Pandemic”.
Os resultados foram divulgados no European Academy of Pediatrics Congress (EAP 2021).
Diabetes tipo 1 em crianças
As pesquisadoras realizaram um estudo retrospectivo baseado em análise de prontuários de pacientes pediátricos admitidos no departamento de emergência de um hospital português de nível 2 no primeiro semestre de 2020 e no mesmo período dos 5 anos anteriores e que tiveram diagnóstico inicial de DM1.
Os resultados encontrados mostraram que foram registrados 13 casos novos de DM1 entre janeiro e junho de 2020, 8 casos a mais que no mesmo período de 2019. A incidência foi maior em meninos (61,5%) e a mediana de idade foi de 12 anos. A maioria dos diagnósticos ocorreu no mês de maio (38,5%). Os sintomas apresentados foram: polidipsia (13), poliúria (11), emagrecimento (9), polifagia (5), noctúria (3) e alteração do estado de consciência (3).
Veja também: ENDO 2021: crianças com diabetes tipo 1 têm maior risco de complicações por Covid-19?
Dos 13 casos registrados, 53,8% apresentaram CAD e, destes, 42,8% tiveram formas graves (pH <7,1). Três pacientes tiveram que ser transferidos para uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). De todos os pacientes, 9 foram submetidos à pesquisa de PCR para SARS-CoV-2 (todos os testes foram negativos). Um paciente foi positivo para o anticorpo IgG SARS-CoV-2. Observando os cinco anos anteriores, no mesmo período, o número total de novos diagnósticos foi menor do que em 2020 (mediana de 5 em meio ano) e as apresentações foram menos graves (mediana de 1 CAD em meio ano).
Conclusões
As autoras concluíram que o surgimento da pandemia de Covid-19 teve um impacto importante no comportamento das famílias, pois elas procuraram menos os setores de emergência pediátrica e isso pode estar associado a uma maior incidência de CAD no momento do diagnóstico.
Além disso, o estudo sugere que a própria Covid-19 pode atuar como um gatilho responsável por mais casos de DM1 em comparação com os quadros diagnosticados nos últimos cinco anos.
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