Mudanças consideráveis na rotina diária hospitalar ocorreram devido à pandemia de Covid-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. Com isso, a telemedicina ganhou espaço a partir dessa necessidade de adaptação, permitindo amenizar o impacto dessa crise no paciente com doença crônica.
No European Academy of Pediatrics Congress (EAP 2021), David Rabiço e colaboradores, pediatras de Porto, Portugal, apresentaram o pôster The Impact Of SARS-CoV-2 Pandemic On Paediatric Follow-up of a Northern Portugal Tertiary Hospital, trabalho realizado com o objetivo de entender o impacto que a pandemia de Covid-19 teve no acompanhamento de pacientes pediátricos ambulatoriais.
Pandemia e follow-up pediátrico
Foi realizada uma análise retrospectiva das consultas pediátricas gerais e de subespecialidades no primeiro semestre de 2019 e de 2020. No primeiro semestre de 2019, foram realizadas 19.555 consultas, sendo que, deste total, apenas 22 foram remotas. As consultas de primeira vez foram 4.135, todas presenciais. No mesmo período de 2020, ocorreram 20.182 consultas, sendo que 8.202 foram remotas. Os atendimentos de primeira vez foram 3.544 (desses, 598 foram remotos). Houve redução de 38,7% nas consultas presenciais e de 28,8% nas consultas presenciais de primeira vez entre o primeiro semestre de 2019 e de 2020.
Todas as subespecialidades passaram de praticamente 100% de acompanhamento presencial para uma porcentagem de acompanhamento remoto, variando conforme a subespecialidade e o mês [entre 3,17% (gastroenterologia em junho) e 100% (neurologia em abril)]. Os pesquisadores desenvolveram um novo acompanhamento exclusivamente remoto para rastrear pacientes infectados com SARS-CoV-2, responsáveis por 141 atendimentos de primeira vez e 709 visitas subsequentes.
Conclusões
Esse estudo mostrou que as consultas remotas vieram para preencher uma falha potencial que poderia se tornar muito grave. Isso porque o paciente crônico não poderia ficar sem acompanhamento. No entanto, ao mesmo tempo, levar os pacientes ao hospital seria imprudente diante do caos da pandemia em 2020.
Por meio da telemedicina, os médicos puderam saber o estado de saúde de seus pacientes e encaminhar apenas os que precisavam de consulta médica presencial, reduzindo a interação entre profissionais e pacientes, o que poderia aumentar a disseminação do vírus. O Dr. Rabiço finalizou a apresentação, enfatizando que a pandemia de Covid-19 foi um catalisador de inovação na prática da medicina e certamente mudará o futuro da gestão ambulatorial.
Estamos fazendo a cobertura do EAP 2021; acompanhe com a gente!
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Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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