A febre é uma das maiores queixas dos pais que procuram atendimento em serviços de emergência pediátrica. No Marrocos, os pais frequentemente a veem de uma forma equivocada, pois informações sobre como cuidar de crianças febris em casa são raras no país.
O European Academy of Pediatrics Congress (EAP 2021) mostrou o estudo dos pesquisadores Widad Lahmini, Karim Lakraïmi e Mounir, de Marrakesh, cujo objetivo foi avaliar o conhecimento, as atitudes e as práticas dos pais marroquinos frente a uma criança febril.
Febre em crianças
Foi realizado um survey descritivo e analítico durante o período de um ano (1° de fevereiro de 2017 a 31 de janeiro de 2018) no departamento de emergência pediátrica do Marrakech’s Mohammed VI University Hospital. Um questionário pré-formulado foi respondido pelos pais de crianças que levaram seus filhos à emergência pediátrica por queixa de febre no período do estudo.
Foram respondidos 1.500 questionários por pais que procuraram o pronto-socorro pediátrico devido a queixa de febre na criança (a idade variou desde a criança recém-nascida até 15 anos). Todos foram incluídos no estudo. A idade média dos pais foi 37 anos (18-62). A maioria deles era analfabeta ou tinha completado somente o ensino primário (66,5%). Mais de 1/3 dos pais tinha baixo nível socioeconômico. A maioria das mães era do lar (69,5%).
Além disso, 53,9% dos pais tinham três ou mais filhos. Apenas 25% dos pais sabiam o limiar exato da temperatura definindo um estado febril e 40,1% determinavam a febre do filho subjetivamente sem um termômetro. Trinta por cento dos pais não tinham um termômetro em casa.
Todos os pais consideraram a febre uma condição muito grave que pode ter efeitos colaterais. Os mais citados foram: danos neurológicos (65,1%), óbito (39,1%), desidratação (13,6%) e complicações renais (10,2%). A automedicação era praticada por 45,6% dos pais, 31,3% compareciam à consulta após terem feito tratamento em casa e 23,1% iam diretamente para a emergência.
Com relação ao uso de medicamentos, 53,2% dos pais administravam paracetamol, 23,2% davam ibuprofeno e 7,6% recorriam ao ácido acetilsalicílico. Medidas não farmacológicas incluíram o uso de toalha molhada (53,9%), bebidas geladas (9,7%), banhos frios (24,9%) e despir a criança (14,7%). Por fim, muitos pais eram adeptos de métodos tradicionais: M’khinza (erva conhecida no Brasil como mastruz – 87,6%), limão (59,6%), vinagre (32,55) e água de rosas (23,1%).
Menos da metade dos pais (43,3%) relataram nunca terem recebido nenhum tipo de informação sobre febre. A maior fonte de informação dos pais que responderam o questionário era composta pelos profissionais de saúde (36,4%). No entanto, 6% responderam que a família era uma fonte de informação. As redes de comunicação (TV, rádio e Internet) representaram 6,7%.
Conclusões
O que chama atenção nesse estudo é que ele enfatiza que existe uma notória falta de conhecimento, percepção e cuidado dos pais marroquinos sobre a febre infantil. As lacunas foram mais marcantes entre pais de baixo nível socioeconômico e intelectual.
Dessa forma, os pesquisadores reforçam a necessidade de uma campanha de saúde pública em grande escala para explicar, tranquilizar e informar maciçamente os pais sobre como conduzir com segurança a febre em seus filhos.
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