O mau funcionamento da vesícula biliar pode estar associado à doença celíaca em crianças, ocasionando sintomatologia, como dor no quadrante superior direito do abdome. No entanto, uma alteração na vesícula pode também ser um achado incidental na ultrassonografia de rotina.
No European Academy of Pediatrics Congress (EAP 2021), Sandeep Aggarwal e Shallu Aggarwal, pesquisadores de Amritsar, Índia, apresentaram um estudo realizado com o objetivo de se criar consciência sobre a associação da doença da vesícula biliar com doença celíaca em pacientes pediátricos.
Vesícula biliar e doença celíaca
Foram avaliados 23 casos de doença celíaca, cujos diagnósticos foram determinados com o auxílio de anticorpos antitransglutaminase tecidual solicitados para realização de teste de triagem em crianças com uma tríade de anemia, deficiência de crescimento e distúrbio intestinal. Esses diagnósticos foram confirmados por anticorpos antiendomísio e biópsia intestinal. Os exames de rotina também incluíram ultrassonografia abdominal.
Desses 23 pacientes, quatro apresentam cálculos na vesícula biliar, sendo que, em dois casos, os cálculos eram solitários. As outras duas crianças apresentavam cálculos múltiplos. Apenas um paciente sentia dor no quadrante superior direito do abdome e, nos outros três, os achados foram incidentais.
A colecistoquinina (CCK) é o hormônio responsável pela contração da vesícula biliar. A maior quantidade de CCK é produzida no duodeno. A doença celíaca ativa pode causar uma redução da produção duodenal desse hormônio, o que pode diminuir, anormalmente, a contração da vesícula biliar em pacientes celíacos, resultando na produção de cálculos. Dessa forma, o estudo destaca que a ocorrência de cálculos ocorre como resultado da diminuição da produção endógena de CCK e não da falta de responsividade do órgão-alvo.
Conclusões
Esse trabalho é bem pertinente, pois serve de alerta para que o pediatra sempre pense na possibilidade de doença celíaca em crianças com presença de cálculos em vesícula biliar, encontrados em exames para investigação de manifestações clínicas, como dores abdominais, náuseas e vômitos, por exemplo, ou em achados incidentais de exames de rotina.
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Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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