Apesar de ainda seguirmos em um contexto pandêmico, ficou evidente que nas fases iniciais da pandemia foram adotadas estratégias mais rígidas e necessárias na tentativa de minimizar a propagação do coronavírus e, consequentemente, do número de casos da Covid-19. No entanto, as medidas de isolamento social, de restrição de contato interpessoal influenciaram na organização e nas experiências sociais para as famílias, especialmente para o binômio mãe-bebê, com um grande potencial para impactar de forma negativa o desenvolvimento infantil.
Já durante a pandemia, foi observado e relatado que as mulheres no pós-parto aumentaram as taxas de ansiedade e depressão, que já são sabidamente fatores de risco para atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) infantil. O uso de máscara, o isolamento social e a permanência em casa prolongada diminui de forma expressiva as informações visuais, como as expressões faciais e os movimentos orofaciais, o que pode gerar um impacto negativo à comunicação e ao desenvolvimento socioemocional das crianças.
Estudo americano
Pesquisadores do Nemours Children ‘s Hospital, nos Estados Unidos, recrutaram um total de 125 binômios mãe-bebê. Como critério de inclusão, as crianças deveriam ter até três meses de idade e somente mães pela primeira vez. As mães eram entrevistadas em dois tempo (0-2 meses – T1; 5-7 meses – T2), sendo avaliado o desenvolvimento infantil, as queixas socioemocionais, o impacto da Covid-19 na família, a frequência de atividades de cuidado mãe-bebê e os sintomas de depressão pós-parto, todos através de um questionário especializado. O trabalho foi apresentado no AAP Experience 2021, congresso da American Academy of Pediatrics, e os resultados obtidos foram os seguintes:
- O impacto da Covid-19 não se relacionou à uma menor frequência de contato entre mãe-bebê e às atividades de cuidado ou desenvolvimento infantil nos primeiros 6 meses de vida;
- Os sintomas de depressão pós-parto foram relacionados a menos atividades simultâneas de cuidado mãe-bebê (p = 0,007) e previu um desenvolvimento socioemocional infantil mais pobre aos 6 meses de idade (p = 0,013).
Discussão e resultado
O DNPM é complexo e difícil de ser avaliado de forma global e predizer os impactos da Covid-19 em duas avaliações pontuais e isoladas, concentradas no primeiro semestre de vida da criança. Claro que, atrasos já podem ser detectados nessa fase, porém um maior seguimento desses pacientes seria importante para uma avaliação mais completa e efetiva. Em estudos anteriores, já havia evidências de que a presença de sintomas depressivos pós-parto, gera um impacto negativo no DNPM.
Quanto a Covid-19, é realmente possível que os seus efeitos desempenhem um papel mais proeminente à medida que a linguagem complexa e as habilidades sociais dos bebês começam a surgir, em geral a partir do sexto mês de vida. No entanto, os resultados atuais não apoiam um efeito direto do da pandemia no desenvolvimento infantil durante os primeiros seis meses de vida, mas reforça a necessidade constante de estímulos neurossensoriais, que são fundamentais para um DNPM adequado.
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Referências bibliográficas:
- Harrison M, et al. Postpartum Mental Health and Infant Development During the COVID-19 Pandemic. In: AAP Experience 2021 Virtual – National Conference e exhibition. [internet]. Disponível em: https://www.eventscribe.net/2021/AAPexperience/searchbyposterbucket.asp?f=PosterSessionName&pfp=BrowsebyPosterFormat
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