A pandemia da Covid-19 trouxe a enorme necessidade de reorganização da sociedade com o objetivo de diminuir a propagação da doença e também o seu impacto na saúde da população, independente da faixa etária.
Medidas como o distanciamento social, o fechamento das escolas e também dos estabelecimentos de atividades recreativas ou realização de esportes fez com que crianças e adolescentes ficassem restritos ao domicílio e diminuíssem o seu gasto energético, adaptando as atividades de vida diária para formato remoto e consequentemente aumentando o seu tempo de uso de telas, seja televisão, tablet ou celulares.
Diversos são os agravos resultantes do uso abusivo das telas, dentre eles pode-se destacar a sua relação direta com a obesidade na infância e adolescência. Um trabalho realizado por pesquisadores do Texas nos Estados Unidos e apresentado no AAP Experience 2021, congresso da American Academy of Pediatrics, avaliou de forma retrospectiva pacientes com idades entre 12 e 18 anos, que estiveram no serviço de saúde no período pré-pandêmico comparando com um segundo momento, já durante a pandemia.
IMC, tempo de tela e pandemia
Os dados avaliados foram o índice de massa corporal (IMC) e o tempo de tela (< ou > que 2 horas) utilizado durante cada período.
Após a análise dos dados, os resultados obtidos foram:
- O percentil do IMC pré-Covid (média = 68,6200, DP = 29,1762) foi menor que o percentil do IMC pós-Covid (média = 69,9232, DP = 29,2334), p = 0,004;
- A prevalência de obesidade foi de 25,1% no período pré-Covid e 27,5% no período pós-Covid;
- O percentual de adolescentes que tinham mais de 2 horas de tela por dia foi de 42,1% no período pré-Covid e de 55,5% no período pós-Covid.
Conclusão e discussão
A obesidade é um processo multifatorial e grave em pediatria, tornando-se cada vez mais crescente nos últimos anos, sendo o tempo de tela apenas um dos fatores dentre vários que implicam nessa condição.
No trabalho apresentado no AAP 2021, a prevalência de obesidade e o relato de mais de 2 horas diárias de tela aumentaram do período pré-epidêmico para o pós-pandêmico, porém, a relação direta entre os dois não foi estatisticamente significativo. Mas isso não nos isenta de manter as recomendações sobre o uso moderado das telas e também de avaliar outros fatores relacionados à obesidade.
Estamos acompanhando o congresso da AAP 2021. Fique ligado no Portal PEBMED!
Mais do AAP Experience 2021:
Referência bibliográfica:
- BMI and Screen Time in Adolescents Before and After the COVID-19 Pandemic, Crystal Craig, MD, and Easton Brewer – Texas Tech University Health Sciences Center, Department of Pediatrics, Lubbock, TX – AAP Experience 2021 Virtual – National Conference e exhibition
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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