Logotipo Afya
Anúncio
Pediatria10 outubro 2021

AAP 2021: práticas hospitalares relacionadas a medidas não farmacológicas para alimentação na SAN

Um estudo, apresentado na AAP 2021, analisou as políticas hospitalares relacionadas a medidas não farmacológicas de alimentação para SAN.

Dados da literatura mostram que o transtorno do uso de opioides na gestação tem sido associado a parto prematuro, baixo peso ao nascer, distúrbios de alimentação e síndrome de abstinência em recém-nascidos (RN) expostos – a síndrome de abstinência neonatal (SAN) ocorre por exposição pré-natal a opioides e outras drogas, gerando uma constelação de manifestações clínicas em neonatos.

À medida que o uso de opioides aumentou, a incidência de RN norte-americanos com SAN também aumentou de 1,5 (1999) para 7,3 (2017) por 1.000 nascimentos. Em geral, o atendimento a esses pacientes é prestado em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN), porém o foco, historicamente, tem sido o uso de medidas farmacológicas.

No entanto, atualmente, estratégias não farmacológicas, como amamentação, contato pele a pele e alojamento conjunto, estão cada vez mais sendo reconhecidas como relevantes nesse contexto, pois reduzem a gravidade das manifestações clínicas, o tempo de internação, o uso de medicamentos e os custos hospitalares.

Um estudo muito interessante, apresentado na AAP Experience 2021, congresso da American Academy of Pediatrics, analisou as políticas e práticas hospitalares relacionadas a medidas não farmacológicas de incentivo à alimentação para bebês com SAN nos EUA.

mãe segurando bebê com SAN

Síndrome de abstinência neonatal – SAN

Um questionário online foi preenchido por pessoas com maior conhecimento sobre as políticas e práticas hospitalares em hospitais que oferecem cuidados de maternidade de rotina nos Estados Unidos e territórios. Esses locais receberam a pesquisa Práticas de Maternidade em Nutrição e Cuidado Infantil (mPINC) em 2020 (n = 2.103, taxa de resposta: 74%).

Foi realizada uma análise descritiva das políticas hospitalares escritas relacionadas ao manejo de RN com SAN (“política específica da SAN”), assim como práticas relacionadas à alimentação de RN com diagnóstico de SAN (“prática específica da SAN”).

Resultados

A maioria dos hospitais não apresentava fins lucrativos (73,4%), 74,3% eram considerados como instituição de ensino e 28,2% eram hospitais “amigos da criança”. Um total de 94,9% tinha políticas escritas específicas da SAN, que compreendiam:

  • Uso de uma ferramenta padronizada para avaliar os sintomas da SAN (95,6%);
  • Tratamento farmacológico da SAN (73,2%);
  • Promoção de terapias não farmacológicas, incluindo:
  • Contato pele a pele / método canguru (86,2%);
  • Alojamento conjunto (79,3%);
  • Aleitamento materno (77,7%).

Entre os hospitais (93,5%) que indicaram ter cuidado de RN com SAN, a proporção de hospitais onde mais da metade dos RN com SAN recebeu terapias não farmacológicas englobou:

  • Contato pele a pele / método canguru: 82,8%;
  • Alojamento conjunto: 75,3%;
  • Amamentação ou leite humano ordenhado: 56,2%.

Por fim, 25% dos hospitais que atendiam lactentes com SAN relataram que a maioria dos RN com esse diagnóstico foi atendido em uma UTIN.

Leia também: Fenobarbital ou clonidina para tratamento da síndrome de abstinência neonatal?

Conclusão

Esse importante estudo demonstrou que as políticas e práticas hospitalares baseadas em evidências para a estimular a alimentação infantil, como cuidados pele a pele e alojamento conjunto, são ideais para a maioria dos RN, mas podem ser particularmente relevantes para aqueles com SAN. O alojamento conjunto é preferível e as intervenções não farmacológicas devem ser consideradas a base do cuidado de bebês com exposição a opioides.

Dessa forma, os hospitais podem considerar a revisão de suas políticas e práticas específicas de SAN para garantir que estejam prestando cuidados ideais para não somente os RN elegíveis que experimentam abstinência de substâncias, mas também para suas mães.

Comentário

A SAN e a síndrome de abstinência iatrogênica têm sido cada vez mais descritas na literatura pediátrica e um grande passo é esse aumento dos relatos de sucesso no uso de medidas não farmacológicas, principalmente em bebês, cujo cérebro está em formação.

Não sabemos ainda os efeitos do uso de fármacos sedativos e/ou analgésicos para tratamento das manifestações clínicas decorrentes da abstinência em longo prazo, portanto, acredito muito que o uso de abordagens não farmacológicas de humanização contribuem grandemente para poupar a prescrição dessas medicações.

Estamos acompanhando o congresso da AAP 2021. Fique ligado no Portal PEBMED!

Mais do AAP Experience 2021:

Referência bibliográfica:

  • Nelson, Jennifer et al. Virtual Oral Poster – Section on Breastfeeding Program. Infant Feeding-Related Hospital Policies and Practices for Neonatal Abstinence Syndrome, United States, 2020. AAP Experience Virtual 2021 National Conference and Exhibition.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Pediatria