Os tumores pediátricos do sistema nervoso central (SNC) são raros e frequentemente apresentam um longo intervalo de tempo entre o início da sintomatologia até o diagnóstico. No entanto, não parece haver nenhuma literatura que analise a história relatada pelo paciente no pronto-socorro e seu exame físico e a precisão em prever um tumor no SNC em uma criança.
Na AAP Experience 2021, congresso da American Academy of Pediatrics, pesquisadores do Departamento de Pediatria do Rady Children’s Hospital San Diego, San Diego School of Medicine, University of California, apresentaram um estudo cujo objetivo foi avaliar os sinais e sintomas de um tumor de SNC que ocorrem em pacientes pediátricos que dão entrada no pronto-socorro antes ou no momento do diagnóstico dessa tumoração.
Além disso, avaliaram a concordância dos resultados de exames realizados por pediatras clínicos na emergência e o diagnóstico realizado por neuro-oncologistas.
Metodologia
Foi realizada uma revisão retrospectiva de prontuários eletrônicos de todos os pacientes com diagnóstico de tumor do SNC que foram vistos no pronto-socorro (antes ou durante o diagnóstico) durante um período de sete anos. Os seguintes dados foram colhidos: dados demográficos, queixas principais dos pacientes, data da ida do paciente ao departamento de emergência, data de realização dos exames neurológicos e de seus resultados, achados do exame físico no pronto-socorro e dos exames neurológicos.
A análise estatística foi feita por meio do programa STATA 16,0 (College Station, TX).
Resultados
Um total de 126 tumores do SNC foram detectados no pronto-socorro antes ou no momento do diagnóstico, sendo que 91,3% foram internados. A idade média dos pacientes foi de 7,5 (4,4 – 12,6) anos. A localização mais comum do tumor foi no cerebelo (31,8%), seguido do hemisfério cerebral (29,4%) e tronco encefálico (18,3%). Os tipos de tumor mais comuns foram astrocitoma (31,8%), meduloblastoma (14,3%) e craniofaringioma (9,5%).
Os sintomas de cefaleia, vômitos, alterações na visão e desempenho escolar alterado diferem de acordo com o tipo de lesão do SNC. Dos pacientes com diagnóstico de craniofaringioma, 91,7% tiveram cefaleia (p = 0,07). Dos pacientes com diagnóstico de glioma difuso intrínseco pontino ou meduloblastoma, 83% apresentaram vômitos (p = 0,04).
Cinquenta por cento daqueles com diagnóstico de tumores neuroectodérmicos primitivos (PNET) ou de craniofaringioma tiveram alterações na visão (p = 0,06). Dezessete por cento daqueles com diagnóstico de tumores de células germinativas e 11,1% daqueles com diagnóstico de meduloblastoma tiveram desempenho escolar alterado (p = 0,06).
Com relação à comparação do exame realizado no pronto-socorro com o exame do neuro-oncologista, o exame sensorial anormal no departamento de emergência produziu uma sensibilidade de 100% e especificidade de 95,7% com uma razão de verossimilhança (RV) de 23. Anormalidades do nervo craniano produziram uma sensibilidade de 90,7%, especificidade de 61% e uma RV de 2,3.
Conclusão
Com esses resultados, os pesquisadores descreveram que alguns sintomas na história do paciente e achados do exame físico foram significativamente correlacionados com o diagnóstico de tumor cerebral em crianças que deram entrada ao pronto-socorro. O reconhecimento desses sinais e sintomas pode facilitar um diagnóstico precoce para pacientes com esse diagnóstico. Por fim, houve concordância elevada da avaliação dos pediatras com a avaliação por neuro-oncologista em alguns achados de exames. Dessa forma, a realização de um exame focado e simplificado pode auxiliar no diagnóstico precoce de tumores do SNC no cenário agudo.
Comentários
Profissionais de saúde devem estar sempre alertas nos casos de crianças e adolescentes com quadros inespecíficos, mas que procuram muitas vezes o pronto-socorro para serem atendidos pelas mesmas queixas. Inclusive, esses pacientes merecem uma atenção especialmente redobrada, principalmente se não melhoram com medidas terapêuticas previamente iniciadas.
Outra coisa é a importância de a criança ter um acompanhamento por um pediatra e não procurar a emergência quando a situação parece estar fora de controle: um dos papeis dos profissionais de saúde é, inclusive, orientar as famílias sobre, não apenas sinais de alerta, mas também sobre o quanto é fundamental que a criança tenha um acompanhamento linear por um profissional que o conheça e não seja visto esporadicamente no pronto-socorro cada vez por um profissional diferente.
Por fim, devemos nos lembrar que os tumores na infância podem ser curados, mas para isso, é extremamente relevante a realização de um diagnóstico precoce para que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível.
Estamos acompanhando o congresso da AAP 2021. Fique ligado no Portal PEBMED!
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