Recente documento científico emitido pelo Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) abordou o uso de ivermectina em crianças, baseado em evidências.
De acordo com a SBP, a ivermectina possui amplo espectro de atividade contra inúmeros ectoparasitas (Sarcoptes scabiei, Pediculus humanus capitis, Tunga penetrans e Ancilostoma brasiliensis) e endoparasitas (Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e Enterobius vermicularis). Todavia, não age em parasitoses intestinais causadas por protozoários.
O uso da ivermectina só está indicado para crianças com mais de cinco anos de idade e com o peso superior a 15 kg. A segurança e a efetividade do medicamento em crianças com menos de 15 kg de peso corporal ainda não está bem estabelecida. Deve-se evitar também seu uso em gestantes e lactantes.
No entanto, estudos mais recentes com utilização off-label mostraram que a ivermectina foi segura e eficaz em crianças com peso inferior a 15 kg. Os efeitos adversos foram menores que 15% nas crianças tratadas e os sintomas foram de intensidade moderada, como eczema, diarreia e vômitos (mas ainda há necessidade de mais estudos para avaliar a segurança do uso em pacientes com menos de 15 kg e em gestantes).
A SBP destaca que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda o uso da ivermectina em gestantes, crianças com menos de 90 cm de estatura e/ou com peso corporal menor que 15 kg, e em pacientes em estado grave (particularmente aqueles com quadros neurológicos descompensados).
Comercialização e efeitos colaterais do uso da ivermectina
No Brasil, a apresentação comercial da ivermectina disponível é em comprimidos de 6 mg. A dose preconizada é de 0,2 mg/kg (dose única):
Peso corporal (kg) | Dose única diária |
15 – 24 | ½ comprimido |
25 – 35 | 1 comprimido |
36 – 50 | 1 e ½ comprimidos |
51 – 65 | 2 comprimidos |
66 – 79 | 2 e ½ comprimidos |
≥80 | 200 µg/kg |
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria (2020).
Efeitos colaterais mais frequentes: diarreia, náuseas, astenia, anorexia, constipação intestinal, vômitos, dor abdominal, cefaleia e febre. Manifestações neurológicas também podem estar presentes (tonturas, sonolência, vertigem, tremor, parestesia e convulsões), além de manifestações cutâneas (urticária, erupção cutânea, coceira e edema).
Por fim, a SBP enfatiza que, até o momento, não existe comprovação in vivo do efeito antiviral da ivermectina em animais e seres humanos. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em publicação recente, desaconselha o seu uso para o tratamento da Covid-19. Existem chances de que, no futuro, possa haver liberação desse fármaco para uso em crianças com peso inferior a 15 kg, com a disponibilidade de solução oral e tópica, com boas evidências científicas.
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Referência Bibliográfica:
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. “O uso de ivermectina baseado em evidências em Pediatria”. 2020. Disponível em: https://www.sbp.com.br/ Acesso em: 07/12/2020
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