Cirurgia8 março 2024
Ácido tranexâmico no trauma: novas evidências a partir de metanálises
O uso de ácido tranexâmico na emergência e no atendimento pré-hospitalar pode reduzir a mortalidade do paciente vítima de trauma.
As lesões traumáticas representam uma das principais causas de morte e incapacidade, com aproximadamente 4,4 milhões de óbitos em todo o mundo a cada ano, correspondendo a quase 8% da taxa global de mortalidade total. Os traumas graves incluem traumatismos cranioencefálicos, lesões raquimedulares e danos em múltiplos órgãos, podendo resultar em quadros hemorrágicos graves com risco de vida.
Os quadros hemorrágicos sem controle adequado respondem por aproximadamente um terço das admissões hospitalares por trauma. O ácido tranexâmico (TXA) é um análogo sintético da lisina que inibe a ativação do plasminogênio e conversão em plasmina.
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O TXA pode reduzir a hemorragia ao inibir a ativação da plasmina e manter a estabilidade e a integridade do coágulo. Revisões sistemáticas publicadas anteriormente sugeriam que o ácido tranexâmico diminui a mortalidade em pacientes vítimas de trauma, mas não incluíram os dados de estudos mais recentes com maior rigor metodológico.
Metanálises prévias
- JAMA 2022
- Cochrane Database Systematic Review 2015
Método de seleção de estudos
Na presente metanálise, a busca foi limitada a ensaios clínicos randomizados que compararam o TXA com placebo. Foram incluídos ensaios realizados em ambientes relacionados ao atendimento de emergência a trauma e ambientes pré-hospitalares. Além disso, foram excluídos estudos que avaliaram pacientes por internações cirúrgicas, obstétricas ou outras internações hospitalares não relacionadas a emergências, bem como estudos que incluíam pacientes com menos de 15 anos de idade. Os pesquisadores utilizaram a escala MASTER para determinação da qualidade metodológica.Desfechos primários e secundários
O desfecho primário analisado foi a mortalidade em 1 mês. Os desfechos secundários incluíram a mortalidade em 24 horas e eventos oclusivos vasculares em 1 mês, abrangendo: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, trombose venosa profunda e embolia pulmonar.Resultados
Após a triagem de resumos e a remoção de duplicatas, 7 ensaios foram incluídos na revisão sistemática e metanálise. Todos os 7 eram randomizados e duplo-cegos. Assim, 3 estudos abordaram trauma em geral, enquanto 4 se concentraram em traumatismos cranioencefálicos. Apenas dois ensaios tiveram o ácido tranexâmico (ou placebo) administrado 3 horas após a lesão, e as doses de TXA seguiram o cronograma de dosagem do estudo CRASH-2 (1 g inicialmente, seguido na maioria por doses de infusão de 1 g).- Mortalidade em um mês e em 24 horas: uma metanálise ajustada para viés de todos os ensaios que relatam a mortalidade em um mês apresentou um efeito estimado que sugere benefício moderado para o ácido tranexâmico (OR 0,89), com forte evidência (IC 95%, 0,84 a 0,95) e muito pouca heterogeneidade. O número necessário para tratar com TXA para evitar uma morte adicional em um mês é de 61 pacientes. Uma síntese dos quatro ensaios que relatam a mortalidade em 24 horas também indicou que a administração de TXA teve benefício moderado semelhante (OR 0,76), com forte evidência (IC 95% 0,65 a 0,88) e muito pouca heterogeneidade.
- Momento da administração de TXA: a presente metanálise não teve dados suficientes para avaliação desse desfecho. Mesmo assim, o ensaio CRASH-2 mostra uma redução de 11% no risco de morte para pacientes vítimas de trauma que receberam TXA em menos de 3 horas em comparação com aqueles que receberam TXA em mais de 3 horas (OR 0,89, IC 95% 0,78 a 1,00).
- Fora do hospital versus dentro do hospital: as estimativas agrupadas de ensaios com TXA fora do hospital mostram que as chances de morte são 22% menores em comparação com o placebo (OR 0,78, IC 95% 0,64 a 0,95).
- Eventos oclusivos vasculares: uma combinação das estimativas dos ensaios não demonstrou evidências de aumento nos eventos oclusivos vasculares (OR 0,96, IC 95% 0,73 a 1,27); no entanto, houve substancial heterogeneidade.
Mensagem prática
Os dados de importantes metanálises sugerem benefício da administração precoce (até 3 horas do evento) de ácido tranexâmico para pacientes vítimas de politrauma com quadros hemorrágicos, com benefícios ainda maiores sendo observados no contexto pré-hospitalar. Até o momento, não foram observados eventos vaso-oclusivos importantes que contraindiquem a conduta devido à heterogeneidade de coleta dos dados relativos aos eventos de segurança.Anúncio
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