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Terapia Intensiva19 março 2024

POCUS: cinco estudos novos e relevantes sobre ultrassonografia à beira leito

A ultrassonografia à beira do leito (POCUS) é uma ferramenta que veio para ficar, fomentando literatura médica crescente.  
Por Leandro Lima
A ultrassonografia à beira do leito (POCUS) tem se consolidado como ferramenta de baixo custo, não invasiva e dinâmica para avaliação dos pacientes, especialmente no âmbito da medicina de emergência, terapia intensiva, anestesiologia e medicina interna, motivando um boom da literatura médica referente ao tema nos últimos anos.   Traremos aqui um compilado de 10 estudos proeminentes publicados no ano de 2023, que mostram as tendências e inspiram o aprofundamento dos estudos em nosso meio.    Veja também: Painel em delirium desenvolve ferramenta para uso na prática clínica 1. A disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (VE) está associada ao aumento da mortalidade por sepse?  Uma coorte retrospectiva avaliou 3.151 pacientes adultos admitidos em CTI com sepse (N = 1.254) ou choque séptico (N = 1.897) e submetidos à ecocardiografia nos primeiros 3 dias.    A fração de ejeção do VE (FEVE) foi definida pelo método Simpson ou de forma subjetiva, permitindo a estratificação de 5 categorias de FEVE:   
  • Gravemente reduzida (< 25%); 
  • Moderadamente reduzida (≥ 25% e < 40%) 
  • Levemente reduzida (≥ 40% e < 50%); 
  • Normal (≥ 50% e < 70%); 
  • Hiperdinâmica (≥ 70%). 
Após a análise de regressão logística que levou em conta os principais fatores de confusão, foi identificada uma relação entre FEVE e mortalidade hospitalar expressa por uma curva em formato de U:  
  • FEVE < 25%: OR de 2,3 (IC 95%: 1,52 a 3,49) para mortalidade hospitalar (51,1%); 
  • FEVE ≥ 70%: OR de 1,42 (IC 95%: 1,07 a 1,87) para mortalidade hospitalar (41,9%). 
Entre as limitações do estudo citamos a alta prevalência de suporte inotrópico durante a análise da FEVE (40% entre os indivíduos com FEVE grave ou moderadamente reduzida e surpreendentes 20% entre os com FEVE hipercinética) e a baixa taxa de recrutamento: ecocardiograma realizado em apenas 52,7% dos pacientes elegíveis para o estudo.    2. Fenótipos do envolvimento do ventrículo direito (VD) e mortalidade entre pacientes com ARDS pela covid-19 A análise exploratória de dados do estudo ECHO-COVID buscou avaliar três fenótipos principais de envolvimento do VD entre indivíduos com ARDS pelo covid-19:  
  • Cor pulmonale agudo: caracterizado por dilatação do VD e movimentação paradoxal do septo interventricular (SIV);  
  • Insuficiência do VD: definida por dilatação do VD e evidências de congestão venosa sistêmica (pressão venosa central elevada ou dilatação da veia cava inferior); 
  • Disfunção do VD: identificada a partir da redução da excursão sistólica do plano anular da valva tricúspide (TAPSE). 
Dois a cada três pacientes com ARDS avaliados apresentaram envolvimento do VD (67%), sendo o fenótipo predominante o de insuficiência. Em termos de mortalidade, o cor pulmonale agudo foi o que se associou à mortalidade (HR 3,25), enquanto o fenótipo de menor risco foi o de disfunção de VD. A presença de múltiplos fenótipos em simultaneidade desenhou o cenário mais ominoso.    Leia ainda: American Heart Association atualiza recomendações do suporte avançado de vida 3. Reversão precoce da disfunção de VD após a instalação de ECMO venovenosa entre os pacientes com pneumonia pela covid-19? A disfunção do VD é uma das graves complicações hemodinâmicas agudas da ARDS, sendo explicada pela alta vulnerabilidade do VD à pós-carga.    Em estudo retrospectivo observacional, envolvendo um único centro e poucos pacientes (15), a avaliação ecocardiográfica sistemática e seriada pré e pós-ECMO demonstrou melhora de função de VD em 24 horas, com reversão do cor pulmonale agudo e da demanda por suporte inotrópico.    Os prováveis mecanismos implicados são o alívio da vasoconstrição hipóxica e hipercápnica da artéria pulmonar, além da viabilidade de estratégias de ventilação mecânica ultra-protetoras na vigência de ECMO, gerando impactos benéficos sobre a pós-carga do VD.    4. Fluido-responsividade sob a perspectiva ecocardiográfica e análise fisiológica do retorno venoso O conceito de fluido-responsividade está atrelado à capacidade de converter a débito cardíaco os fluidos intravenosos administrados em bolus.   Em um grande estudo (N = 540 pacientes), o tempo de velocidade integral pela via de saída do VE (VTI) foi avaliado antes e após a manobra de elevação passiva dos membros inferiores.    As conclusões apontam que uma interpretação binária é artificial, devendo ser preferida a análise de parâmetros fisiológicos contínuos. O aumento da pressão intra-abdominal e a disfunção do VD, entre outros fatores, geram grande confusão na predição da fluido-responsividade.    5. Ultrassonografia pulmonar e acurácia para diferenciar pneumonia e atelectasia As imagens de hipotransparências de padrão acinar à radiografia de tórax são comuns entre os doentes críticos, mas diferenciar entre pneumonia e atelectasia representa um grande desafio. Em um protocolo de ultrassonografia pulmonar estendida (LUS) que envolveu 120 pacientes, foram evidenciados os seguintes parâmetros:  
  • Broncogramas aéreos estáticos e ausência de fluxo sanguíneo ao doppler: alta probabilidade de atelectasia; 
  • Broncogramas aéreos dinâmicos e presença de fluxo sanguíneo pulsátil ao doppler: alta probabilidade de pneumonia. 
Saiba mais: O cuidado neurocrítico no status epilepticus

Conclusão e mensagens práticas 

  • A ultrassonografia à beira do leito (POCUS) é uma ferramenta que veio para ficar, fomentando literatura médica crescente.  
  • A revisão dos artigos de destaque do ano de 2023 trouxe perspectivas interessantes de aplicabilidade do POCUS baseada em evidências, especialmente no ambiente da terapia intensiva e medicina de emergência.  
  • Destaca-se o interesse crescente na análise da função do ventrículo direito, o impacto da fração de ejeção do ventrículo esquerdo entre pacientes sépticos e a capacidade de diferenciação entre síndromes intersticiais pulmonares e cardiogênicas pelo POCUS. 
  • A natureza observacional dos estudos, bem como a utilização de uma ferramenta não invasiva, são atrativos para a realização de estudos com desenhos semelhantes contemplando a realidade brasileira.  
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Referências bibliográficas

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