Logotipo Afya
Anúncio
Terapia Intensiva15 abril 2025

Prevalência, fatores de risco e tratamentos para sede nos doentes graves

Revisão sistemática sobre sede em pacientes de UTI observou necessidade de relatos de prevalência, fatores de risco e modos de tratamento em estudos da literatura

A UTI trouxe o cuidado mais intenso para os pacientes mais graves, porém sintomas desconfortáveis são comuns, principalmente na medida que o paciente melhora e fica mais desperto. O maior tempo de permanência também favorece a incidência de sintomas desconfortáveis, dentro os mais comuns: dor, delirium, náusea, dispneia, ansiedade e sede.

Embora a equipe de saúde tenha tendência a tratar prontamente sintomas de dor, náusea, delirium e dispneia, a sede pode persistir e ser encarada de modo mais subjetivo e como parte de tratamentos (por exemplo o uso de diuréticos para cardiopatias). Por isso, a prevalência e os tratamentos para sede em pacientes graves pode ter sido pouco estudada ao longo do tempo.

UTI

Objetivos e Metodologia:

Os autores realizaram uma revisão sistemática sobre sede em pacientes de UTI: havia a necessidade de relatos de prevalência, fatores de risco e modos de tratamento em estudos da literatura até meados de 2024. Foram pesquisadas 3 bases de dados: PubMed, Cochrane Library e Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Não houve restrição de tipos de estudos, mas somente textos em língua inglesa foram considerados. Foram incluídos pacientes com permanência maior que 24 horas na UTI, que referiram sede ou boca seca e/ou que usaram algum tipo de tratamento para este sintoma. O objetivo primário foi calcular a prevalência do sintoma, e secundariamente a revisão de fatores de risco e tratamentos de alívio da sede.

Resultados:

Partindo de 1267 referências, os autores revisaram 100 estudos e incluíram 15 para a meta-análise. Os estudos foram realizados predominantemente em países ricos, sendo apenas 3 de países em desenvolvimento (China e Coreia do Sul). Treze estudos foram publicados após 2010, revelando a preocupação mais recente com este sintoma. A dificuldade de relatar sede implica que o paciente deve ter alguma superficialidade de consciência para relatar o sintoma. Outro problema é que uma significativa parte dos pacientes também tinha delirium, o que pode ter reduzido o relato correto de sintomas. Os estudos foram muito heterogêneos, sendo que apenas dois estudos tinham baixo risco de viés.

A prevalência de sede foi 70% (intervalo de confiança entre 59% e 79%); mesmo nos estudos de menor risco de vieses, a prevalência ficou em 71%, muito próxima da média geral de todos os estudos. O sintoma de maior grau de sede (escala numérica) descrito em 1 destes estudos foi de 41%!

Os fatores de riscos mais relacionados foram:

  • Relacionadas ao paciente: sódio sérico; hiperglicemia; gravidade de doença aguda; xerostomia
  • Relacionadas ao tratamento: dieta zero; diuréticos; oxigenioterapia (máscara de Venturi); inibidores de recaptação de serotonina; doses elevadas de opioides (acima de 50 mg equivalentes de morfina).

Tratamentos como protetores de lábios, higiene oral (escovação, aplicação de solução de clorexidina ou de água fria) aliviaram a sede de 1 a 1,5 ponto na escala numérica. Em um estudo, spray com vitamina C, lavagem bucal com menta e aplicação de protetor labial conseguiu maior alívio da sede que o tratamento comum com salina ou enxágue bucal com água em temperatura morna. Entretanto, o efeito de outras intervenções contra sintomas como ansiedade, dor, dispneia e insônia (por exemplo musicoterapia ou uso de televisão), não reduziu o grau de sede. Este fato mostra como a sede é um sintoma desconfortável e básico de pacientes graves e não é ofuscada por outros sintomas.

Veja também: Sintomas autorrelatados por pacientes internados em terapia intensiva

Mensagens para o dia-a-dia:

  • A sede é comum na UTI, afetando em torno de 2 em cada 3 pacientes;
  • Fatores do paciente (como distúrbios do sódio e glicose) e do tratamento (diuréticos, antidepressivos, opioides, oxigenoterapia e suspensão de dieta oral) são determinantes;
  • O cuidado bucal e o alívio específico (por exemplo com água fria) alivia significativamente a sede de pacientes críticos.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Terapia Intensiva