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Terapia Intensiva29 julho 2024

Infecção do trato urinário (ITU) relacionada a cateteres vesicais de demora

Por Leandro Lima

A utilização de cateter (“sonda”) vesical de demora (CVD) está associada ao incremento do risco de infecção do trato urinário (ITU) em decorrência da violação de sua integridade, manipulações frequentes e propensão à formação de biofilmes.   

O aspecto da urina, continuamente exposta no interior do cateter e do sistema coletor, muitas vezes gera preocupação para os pacientes, familiares e profissionais de saúde, seja pela presença de muco, grumos ou sangue, bem como pela turbidez, concentração ou odor fétido.  

Veja também: Guia para o uso de vasopressores e inotrópicos em pacientes em choque

Dessa forma, considera-se, com frequência, o diagnóstico de infecção do trato urinário associada ao dispositivo (ITU-AD). Contudo, antes do automatismo de instituir antibioticoterapia, precisamos racionalizar a abordagem, evitando tratamentos desnecessários, muitas vezes norteados apenas por sintomas inespecíficos ou bacteriúria assintomática.   

Uma ferramenta de auxílio à tomada de decisão nesse cenário é a definição de ITU-AD do CDC, que exige a presença, em simultaneidade, dos 3 critérios abaixo elencados: 

Cateter vesical de demora (CVD) implantado há pelo menos 2 dias. 
Urocultura positiva para não mais do que 2 organismos, com ao menos 1 deles com contagem superior a 105 unidades formadoras de colônia (UFC)/mL; 
Presença de ao menos um entre os seguintes sinais e sintomas: febre (temperatura ≥ 38°C), dor suprapúbica ou em ângulo costovertebral, urgência ou frequência urinária e disúria.  
  1. A ITU-AD é uma causa comum de infecção relacionada aos serviços de saúde, associada com risco de bacteremia e aumento da mortalidade. Por outro lado, o tratamento não criterioso é um potente estímulo para a resistência antimicrobiana, além da indução de eventos adversos fármaco-induzidos. Os indivíduos expostos ao CVD comumente desenvolvem piúria, mesmo na ausência de infecção, e os sintomas de ITU tendem a ser mais específicos na ITU-AD.  
  2. O tratamento é pautado na remoção do CVD e, nos casos em que a sua permanência tem indicação urológica clara, deve-se prosseguir com a sua substituição. A urocultura deverá ser obtida logo após a troca do dispositivo, para evitar a contaminação resultante de biofilmes esperados nos cateteres antigos.   
  3. Os agentes mais frequentes incluem a Escherichia coli, Klebsiella spp, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus spp, Staphylococcus spp e Candida spp e o tempo de tratamento geralmente é limitado a 7 dias nos casos em que a resposta clínica é favorável.   

Saiba mais: Desfecho de pacientes sépticos neutropênicos de acordo com a causa da neutropenia 

Paciente em terapia intensiva com ITU

Conclusão e mensagens práticas  

  • Os indivíduos expostos ao cateterismo vesical de demora (CVD) apresentam frequentemente piúria, mesmo na ausência de infecção do trato urinário associada ao dispositivo (ITU-AD).  
  • A ITU-AD é uma infecção comum relacionada aos cuidados de saúde, com risco de bacteremia e morbimortalidade. Contudo, o diagnóstico tende a ser exagerado, fomentando a resistência antimicrobiana e expondo os pacientes aos eventos adversos dos antibióticos.  
  • Uma ferramenta útil na tomada de decisão nesse cenário é a definição de ITU-AD do CDC, pautada em 3 critérios: CVD instituído há mais de 2 dias; urocultura positiva para não mais do que 2 organismos, estando um deles com contagem superior a 105 UFC/mL; e presença de sinais e sintomas compatíveis, como febre, disúria ou dor em ângulo costovertebral.
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