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Psiquiatria20 junho 2024

Autoestima x narcisismo: como criar crianças confiantes

A autoestima está ancorada em pontos de vista realísticos sobre si e o narcisismo em pontos de vista irrealisticamente positivos sobre si.
Por Tayne Miranda

A autoestima é frequentemente associada a ter sucesso e felicidade, levando os pais a buscarem formas de aumentar a autoestima dos seus filhos. Atos bem-intencionados, como, por exemplo, fazer inúmeros elogios aos filhos, pode, no entanto, ter o efeito indesejado de cultivar o narcisismo.

O narcisismo é um traço de personalidade que está associado à ansiedade, à depressão, à raiva e à agressão, e em 4-15% das crianças evoluiu para o Transtorno de Personalidade Narcisista. Logo, como os pais podem aumentar a autoestima dos filhos sem criar narcisismo?

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Criança com narcisismo sentada ao chão

Fundamentos da autoestima e narcisismo

A autoestima é caracterizada por um senso de valor como pessoa, enquanto no narcisismo observamos uma percepção inflada de importância e merecimento. O narcisismo pode se expressar tanto como grandiosidade (ousadia, extroversão, arrogância) quanto como vulnerabilidade (neuroticismo, timidez e retraimento), mas aqui vamos nos concentrar em sua apresentação grandiosa. Desse modo, é incorreta a crença de que autoestima e narcisismo estão correlacionados, com pessoas narcisistas podendo apresentar inclusive baixa autoestima.

Brummelman e Sedikides sugerem três pilares para a autoestima e narcisismo. A autoestima está ancorada em pontos de vista realísticos sobre si (realismo), busca por autoaperfeiçoamento (crescimento) e sentimento intrínseco de valor (robustez) e o narcisismo em pontos de vista irrealisticamente positivos sobre si (ilusão), busca por superioridade (superioridade) e oscilação entre arrogância e vergonha (fragilidade).

Crianças narcisistas têm opiniões exageradas sobre si mesmas, ainda que as evidências não confirmem seu ponto de vista. Essa grandiosidade persiste na vida adulta, com adultos narcisistas se enxergando como gênios (mesmo com QI na média) ou grandes líderes (ainda que seu comportamento comprometa o desempenho do grupo). Nas crianças com autoestima, seus juízos sobre si estão ancorados na realidade.

Crianças narcisistas buscam por superioridade, olhando de “cima para baixo” para as outras crianças quando se comparam com elas, o que pode levá-las a ter pouco cuidado, preocupação e empatia pelos outros. Crianças com autoestima estão interessadas em se desenvolver, através do esforço e da educação, levando-as a serem curiosas e abertas para desafios.

As crianças narcisistas têm sentimentos frágeis sobre si, alternando entre percepções extremas de sucesso/falha, ficando envergonhadas diante de desempenhos negativos e muitas vezes respondendo com raiva ou agressivamente diante dessas situações. Já as crianças com autoestima têm uma percepção do seu valor constante, mesmo diante de situações negativas.

Como cultivar a autoestima

Os direcionamentos que serão descritos se aplicam a crianças maiores de sete anos, que já reconhecem as outras pessoas e são capazes de entender como os outros a avaliam.

Estudos sugerem que o narcisismo é cultivado, em parte, pela supervalorização parental – quanto os pais veem seus filhos como especiais e com direito a privilégios, cultivando uma ilusão nas crianças. Os pais que supervalorizam podem fazer elogios exagerados, utilizando advérbios ou adjetivos que demonstram um julgamento extremamente positivo (ex.: você foi incrivelmente bom).

Ainda que as crianças neguem feedbacks negativos, mesmo verdadeiros, pelo sofrimento que eles trazem, para cultivar a autoestima, é necessário que comentários realistas sejam fornecidos, com ponderações moderadamente positivas sendo superiores a comentários inflados ou grandiosos. Desse modo as crianças compreenderão que os comentários negativos não são um sinal de que elas são ruins como pessoas.

Os pais que fornecem elogios excessivos são preocupados com o status social das crianças e condicionam a consideração e reconhecimento dos filhos a seus padrões narcisistas, desencadeando o desejo de superioridade neles. Tais pais demonstram orgulho quando a criança supera as demais, levando as crianças a interpretarem que seu valor está ligado a atingir os parâmetros determinados por seus pais.

Para cultivar autoestima e a busca por crescimentos, quando a criança é bem-sucedida em uma tarefa, os pais podem elogiar o esforço e as estratégias utilizadas, reconhecendo o sucesso, mas reforçando que ele foi resultado de trabalho e boas estratégias. Diante de uma falha, os pais podem reforçar o que a criança pode aprender daquela experiência, como elas podem estudar seus erros para melhorar e como podem pedir ajuda para se desenvolver.

Os pais devem dar apoio incondicional às crianças, mesmo quando elas falham (ao invés de elogiar não importa o que aconteça). Por exemplo, diante de um comportamento inadequado, os pais devem corrigir a criança, mas continuar a ser afetuosos, aceitando-as como pessoas. Quando os filhos se esforçam para uma conquista, os pais devem valorizar os filhos, independente do resultado.

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Conclusão

Narcisismo e autoestima são construídos a partir de pilares distintos e implementando os comportamentos mostrados acima é possível construir uma base sólida para a autoestima de seus filhos.

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Referências bibliográficas

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