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Pediatria27 maio 2024

IACAPAP 2024: Guideline para avaliação de ansiedade em crianças e adolescentes 

Neste artigo trazemos os principais pontos da palestra apresentada no IACAPAP 2024 sobre manejo de ansiedade em crianças e adolescentes 

No último dia do IACAPAP 2024, a palestra “Evidence based Guidelines for Child and Adolescent Anxiety disorders” foi apresentada pelo professor David Coghill (Chefe da Cadeira de Saúde Mental do Desenvolvimento, Universidade de Melbourne, Austrália). O palestrante enfatizou que a ansiedade é uma parte normal do desenvolvimento infantil, mas algumas crianças a experienciam de forma intensa e frequente, afetando sua vida diária. Quando esses sentimentos persistem, são desproporcionais ou levam a criança a evitar as situações do cotidiano, estamos diante de um transtorno de ansiedade.

Em 2015, uma pesquisa intitulada “Young Minds Matter” indicou que aproximadamente 7% das crianças e adolescentes australianos têm transtorno de ansiedade diagnosticável. Todavia, a pandemia de covid-19 provavelmente aumentou essas taxas devido ao seu impacto negativo na saúde mental global.   

Em sua explicação, o professor Coghill mencionou a versão mais atual do guideline australiano “Evidence-based Clinical Practice Guideline for Anxiety in Children and Young People 2023” (que contou com sua coordenação) e salientou as etapas de desenvolvimento desta publicação baseada em evidências.

IACAPAP 2024 - Guideline para avaliação de ansiedade em crianças e adolescentes 

Recomendações do palestrante de acordo com o atual guideline:

Triagem e diagnóstico 

  • Considere a triagem de ansiedade em crianças/jovens com:  
    • Fatores/condições de alto risco presentes (por exemplo, condições médicas crônicas ou de neurodesenvolvimento, dificuldades escolares ou sociais, histórico de trauma, outras condições de saúde mental); 
    • Sinais de transtorno de ansiedade. 

O instrumento indicado é o SCARED (Screen for Child Anxiety Related Disorders), usado somente pelos pais quando a criança têm de 3 a 7 anos. De 8 a 18 anos, a escala é aplicada aos pais e à criança ou ao adolescente. 

  • Confirmação diagnóstica: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e/ou Classificação Internacional de Doenças (CID-11).

Tratamento não farmacológico 

  • Terapia psicológica: 
    • Considerar necessidades individuais da criança, incluindo: idade ou nível de desenvolvimento; capacidade de participar de terapia ou desejo de interagir com o terapeuta; disponibilidade de terapias e modalidades; cuidadores mantendo inadvertidamente a ansiedade; fatores ambientais que contribuem para a ansiedade; 
    • Escolha a terapia apropriada: A terapia cognitivo comportamental (TCC) geralmente deve ser oferecida como primeira escolha e ministrada por meio de um programa baseado em evidências. Existem muitas modalidades de TCC que podem ser oferecidas de acordo com a adequação e disponibilidade; 
    • Abordagens baseadas em brincadeiras usando conceitos de TCC podem ser consideradas se a criança tiver oito anos de idade ou menos e com dificuldades para se envolver com a TCC (por exemplo, neurodivergência, deficiência intelectual); 
    • A terapia de aceitação e compromisso pode ser considerada se o jovem tiver 12 anos de idade ou mais e se ele estiver vivendo com uma condição crônica de saúde. 
    • A psicoeducação deve continuar durante todo o tratamento e manejo.

Tratamento farmacológico 

  • Antes de iniciar qualquer medicamento 
    • Avaliar a história, uso de outros medicamentos, comorbidades etc.; 
    • Discutir potenciais efeitos adversos; 
    • Obter consentimento informado. 
  • Escolha o medicamento: 
    • Primeiramente, oferecer inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), inclusive se houver comorbidade com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)/transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); 
    • Para reduzir o risco de efeitos adversos relacionados com a abstinência súbita, considere ISRS com meias-vidas mais longas. Para crianças e jovens, a fluoxetina seria o melhor exemplo. 
  • Considerações sobre dosagens: 
    • A dose deve ser apropriada para a idade. Começar sempre com a menor dose, aumentando-a lentamente; 
    • Titular gradualmente a dosagem. 
  • Se uma mudança de medicamento for considerada: 
    • Mude para outro ISRS como primeira escolha; 
    • Considerar inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN) se o ISRS não for tolerado/resposta inadequada, considerando a segurança etc.; 
  • Descontinuação do medicamento: 
    • Sabe-se que os ISRS apresentam sintomas de descontinuação. Para minimizar, estes devem ser reduzidos gradualmente e, depois, descontinuados. 

Observação  

O psiquiatra brasileiro Giovanni Salum (Porto Alegre/RS) participou da mesma sessão plenária e mostrou conceitos muito interessantes. De acordo com o Dr. Salum, há uma crença crescente de que a nosologia da psiquiatria tradicional (DSM-5, CID-11) pode ter atingido os seus limites em termos de utilidade. O palestrante destacou a chamada “perspectiva transdiagnóstica”, que se refere a abordagens ou práticas que atravessam os diagnósticos categóricos existentes e vão além deles para produzir um melhor conjunto de critérios de informação para decisões clínicas (Fusar-Poli e colaboradores, 2019):  

  • Research Domain Criteria (RDoC): busca transformar a abordagem dos transtornos mentais ao focar em dimensões fundamentais de funcionamento humano através de múltiplos níveis de análise, visando diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes);
  • Hierarchical Taxonomy of Psychopathology (HiTOP): abordagem dimensional e hierárquica para classificar transtornos mentais; 
  • Network: os transtornos mentais resultam de interações diretas entre os sintomas (Borsboom, 2017);
  • Staging: classifica os transtornos mentais em diferentes estágios de gravidade e de progressão. 

 Confira os destaques do IACAPAP 2024! 

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