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Pediatria23 maio 2024

IACAPAP 2024: Depressão na infância e na adolescência

A sessão plenária analisou a complexidade da depressão juvenil, abordando sua variabilidade clínica, fatores de risco e prognóstico diversificado.

O tema depressão também foi abordado ontem no congresso anual da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP), na sessão plenária sobre os avanços recentes na depressão juvenil. O primeiro ciclo de palestras foi aberto com a apresentação dos sintomas classicamente apresentados nos manuais diagnósticos e relembrando as abordagens mais comumente observadas entre as diretrizes sobre o assunto. Contudo, a partir dessa revisão, os palestrantes lembraram que a apresentação clínica, o desfecho dos casos e as abordagens podem variar.

Discussões

O termo “depressão”, tal como vem sendo usado, na verdade traduz um espectro de apresentações clínicas por se referir tanto a apenas um humor triste, passando por sua associação com alguns sintomas e culminando em quadros graves, persistentes e com considerável impacto na vida diária. Não fosse isso o bastante, ainda cabe lembrar que a manifestação do quadro varia conforme a idade e o grau de desenvolvimento do paciente. Dessa maneira, a apresentação clínica pode apresentar até 227 combinações de sintomas – embora algumas não sejam comuns.

Já na segunda aula da sessão, o professor Christian Kieling apresentou um material sobre como os jovens com depressão se sentem. Além de destacar a dificuldade de expressão de vários pacientes, houve menção a sintomas referidos pelos jovens com o transtorno, mas que não foram incorporados aos manuais diagnósticos ou até foram, mas como descritores do quadro. Exemplos que envolvem estresse e solidão.

Foram apresentados também constructos importantes sobre as dificuldades de como percebem sua depressão e que contribuem para uma manifestação diferenciada. Isso se refere às percepções e expectativas relacionadas a esta condição, como se relaciona com o papel social que acham que devem ocupar e a ideia de que fazem da abordagem ou tratamento. Outro fator a ser considerado nas diferentes apresentações envolve presença de comorbidades. Embora algumas pareçam ter uma relação mais estabelecida (por exemplo, ansiedade), outras precisam ser mais bem estudadas, até para se avaliar se as medidas relacionadas poderiam ter um caráter preventivo. Considerando tudo isto, não é de se admirar que o impacto do transtorno para o paciente varia conforme a duração e a gravidade dos sintomas.

Em relação aos fatores de risco, a palestrante Anita Thapar destacou que a depressão de início precoce (antes dos 21 anos) possui relação com maior hereditariedade, apresentando-se de forma diferente de outros tipos de depressão. Esta forma de início mais cedo do quadro também poderia ser correlacionado a outros transtornos do desenvolvimento. Outros fatores de risco mencionados foram a presença de estressores, história familiar positiva para depressão (especialmente nos genitores), estilo de vida, presença ou ausência de maus tratos, a ocorrência de doenças clínicas concomitantes, dentre outros. Ainda não está claro o quanto a variação destes fatores pode impactar na heterogeneidade da apresentação clínica.

Não é de se espantar, portanto, que o prognóstico também seja variado. Para alguns, pode chegar a haver recuperação espontânea. Para outros, o transtorno pode permanecer até a vida adulta, enquanto outro grupo pode ter na depressão a primeira manifestação de outro transtorno mental, como esquizofrenia ou transtorno afetivo bipolar.

Uma clínica tão diversa também irá se refletir no tratamento. Apesar de haver diretrizes baseadas em evidências norteando as abordagens, elas não irão necessariamente funcionar para cada caso. Ainda cabe ressaltar que o padrão de resposta ao tratamento de crianças e de adolescentes é diferente dos adultos.

Considerações

Resumindo, o que se costuma chamar “depressão”, pode ser entendido como um espectro heterogêneo de apresentações clínicas. Por isso, embora as dimensões categoriais tenham uma importante contribuição caracterizando o transtorno, a realidade é que talvez constituam uma visão parcial sobre ele.

Portanto, na prática clínica, o profissional deve considerar múltiplos fatores no momento da avaliação: a história familiar, o conjunto dos fatores de risco, a presença de comorbidades e demais aspectos que compõem um conjunto do que é a depressão naquele caso. A resposta ao tratamento também pode variar em função destes aspectos. A avaliação de risco e as medidas preventivas devem ser mais bem pesquisadas para que possam ajudar na abordagem dos casos, podendo levar em conta os fatores de risco.

Fique por dentro dos destaques do IACAPAP 2024!

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