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Psiquiatria17 abril 2024

O consumo de alimentos ultraprocessados pode impactar na saúde mental?  

Revisão analisou os dados de 26 estudos de 12 países para verificar a relação dos alimentos ultraprocessados com questões mentais

Este foi o tema proposto para a pesquisa de Narges S et al. Neste trabalho, o foco é avaliar a relação entre algumas perturbações comuns da saúde mental (depressão, ansiedade e estresse) e hábitos de vida, nomeadamente, o consumo de alimentos ultraprocessados. Sabe-se que boa parte das perturbações mentais possuem potencialmente múltiplas etiologias. Por isso, os autores consideraram válido investigar se há associação com a alimentação. 

Antes de abordar a pesquisa propriamente dita, o estudo dedica-se a esclarecer o que seriam os alimentos ultraprocessados: aqueles que contém substâncias que não são usadas normalmente para a preparação de alimentos ou aquelas criadas em laboratório com a intenção de realçar um sabor, aumentar o tempo de conservação e/ou tornar o alimento mais atrativo.  

Estes produtos frequentemente podem ter baixo valor nutritivo ao mesmo tempo em que são ricos em substâncias como sal, açúcares, gorduras e calorias. Por essa razão, podem se associar a doenças clínicas, como diabetes e hipertensão. É possível que também alterem a microbiota intestinal. Seja por essas formas ou de outras maneiras, seu consumo pode invariavelmente afetar também a saúde mental.  

O consumo de alimentos ultraprocessados pode impactar na saúde mental?  

Imagem de cookie_studio no Freepik

Metodologia do estudo 

Para avaliar essa correlação, os autores fizeram uma revisão sistemática com metanálise. Isso significa que buscaram toda a literatura sobre o assunto em 3 bases de dados (Web of Science, PUBMED e Scopus), seguindo os protocolos que norteiam essa busca (PRISMA). Os estudos avaliados deveriam ter metodologia observacional, serem realizados com adultos e publicados até 28/12/2021. Foram tomados os devidos cuidados com possíveis vieses.  

Ao todo foram avaliados 26 trabalhos, após a eliminação de artigos duplicados ou que não cumprissem os critérios de inclusão. Foram incluídos estudos transversais, de caso-controle e de coortes, publicados em diversos países entre os anos de 2009 e 2021.  

Resultados 

Nos resultados, os autores ressaltam que foi encontrada uma correlação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e depressão. Parece haver também uma associação de dose-resposta entre a ingestão de ultraprocessados e o risco de depressão: a cada 10% de aumento na ingestão de comida ultraprocessada, há uma associação de 11% para o risco de depressão em adultos. Esses resultados foram mantidos, mesmo após a análise de subgrupos.  

Entretanto, não foram encontradas associações com ansiedade e estresse. Deve-se notar que os autores ressaltaram haver poucos estudos que avaliaram a relação entre alimentação e ansiedade e menos ainda sobre estresse.  

Esse trabalho ainda ressalta as características da dieta ocidental, marcada por um grande consumo de alimentos ultraprocessados. Outras pesquisas já evidenciaram uma associação entre certos tipos de gordura e um maior risco de depressão. É possível que esse tipo de substância esteja associado a um grau de disbiose que possa favorecer um processo pró-inflamatório. Já há algum tempo se especula sobre a ação da microbiota intestinal na saúde mental (eixo intestino-cérebro). Contudo, essa área ainda vem sendo estudada.  

Outra possibilidade é que o maior consumo de carboidratos e gordura gere neuroinflamação. É claro que não se pode descartar que há uma associação entre genética, o status socioeconômico e questões ambientais com o tipo de dieta adotada e, portanto, também se relacionando à possibilidade de ocorrência de transtornos mentais. Com a intenção de minimizar esse ponto, foram conduzidas as análises de subgrupos.  

Leia também: O poder das redes sociais na influência alimentar

Considerações sobre alimentos ultraprocessados e saúde mental

Esses resultados devem ser interpretados considerando-se alguns pontos. Primeiro, observou-se um grau de heterogeneidade a ser considerado entre os estudos. Segundo, alguns dos trabalhos analisados não permitem avaliar uma relação de causalidade entre os fenômenos (estudos transversais — nestes casos, é possível que a presença do transtorno depressivo tenha causado alterações no apetite, que teriam levado ao consumo de alimentos menos saudáveis), apesar de outros estudos indicarem uma relação causal (estudos de coortes). Terceiro, pode haver uma relação de outras características, como o sedentarismo e grau de escolaridade, com a alimentação.  

Ambos os fatores podem influenciar tanto na percepção do humor (ex: a prática de atividade física) como na compreensão dos benefícios e malefícios associados a um determinado tipo de dieta (escolaridade).  

Finalmente, deve-se considerar também a possibilidade de vieses no que tange o fornecimento de dados sobre o consumo de alimentos pelos participantes de cada pesquisa, bem como suas ferramentas de avaliação em cada estudo. Apesar dessas considerações, os autores ainda concluem que o consumo de alimentos ultraprocessados se associa a um maior risco de depressão. Haveria também uma relação entre a quantidade ingerida e o risco associado.

Saiba mais: A complexa relação entre hábitos alimentares, depressão e obesidade em pediatria

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Referências bibliográficas

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