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Psiquiatria25 dezembro 2023

Associação entre status socioeconômico e risco de demência precoce

Estudo avaliou a relação entre as demências com variáveis como status socioeconômico e medidas de bons hábitos de vida.

Por Danielle Calil

As demências são doenças de prioridade de saúde pública. Alguns estudos apontam que 3,9 milhões de pessoas entre 30 e 69 anos apresentem demência de início precoce, com incidência estimada de 370 pessoas-ano.

Embora haja fatores de risco modificáveis estabelecidos na literatura para demências em geral, há algumas lacunas acerca dos fatores contribuintes especificamente para esse grupo de demências de início precoce, em que o desenvolvimento dos sintomas dessa síndrome se inicia em idade abaixo de 65 anos.

Leia também: Tratamento de sintomas neuropsiquiátricos nas demências

A Lancet Healthy Longevity publica nesse ano estudo que se propôs a estimar e a comparar perfis de fatores de risco tanto para demência de início precoce e quanto para início tardio. Nessa estimativa, foi investigado a complexa relação entre as demências com variáveis como status socioeconômico e medidas de bons hábitos de vida.

Associação entre status socioeconômico e risco de demência precoce

Métodos do estudo sobre status socioeconômico e demência

Trata-se de um estudo de coorte prospectiva da UK Biobank, que recrutou participantes entre 37 e 73 anos, provenientes de 22 centros da Inglaterra, Escócia e País de Gales, entre 2006 e 2010.

Os dados coletados foram segmentados em dois grupos a partir da faixa etária dos participantes: (1) indivíduos abaixo de 60 anos sem diagnóstico de demência na linha de base do estudo e (2) indivíduos acima de 65 anos sem diagnóstico de demência na linha de base do estudo. Os participantes sem descrição de dados socioeconômicos foram excluídos.

Foram coletados variáveis dos participantes como: nível educacional, renda, status empregatício, escore de hábitos de vida (mensurado por tabagismo, consumo de álcool, dieta e atividade física). Outras variáveis como idade, gênero, cor autodeclarada, isolamento social, qualidade do sono, transtorno depressivo, presença de APOE e4, comorbidades prevalentes e história familial de demência também foram avaliados.

O objetivo do estudo foi avaliar a incidência de demência de início precoce e incidência de início tardio e avaliar a associação do status socioeconômico com esses dados epidemiológicos.

Para proceder com a investigação do estudo, foi realizado dois modelos. O primeiro modelo foi investigar a associação do status socioeconômico com incidência de demência de início precoce e de início tardio, ajustado para as covariáveis. Já o segundo modelo, consistia em também incluir a qualidade de vida como covariável.

Resultados

Entre os 502.492 participantes recrutados no UK Biobank, 443.627 foram incluídos na análise visto que 125 retiraram consentimento, 58.519 possuíam dados incompletos de fatores socioeconômicos e 221 apresentavam diagnóstico de demência na linha de base. Entre os incluídos, 257.345 participantes pertenciam ao primeiro grupo abaixo de 60 anos e 294.133 participantes ao segundo grupo com idade acima de 65 anos.

Para a análise de incidência em demência precoce, 95,9% completaram o follow-up, em que 502 participantes (0,2%) apresentaram demência de início precoce. Já na análise de incidência de demência de início tardio, 90,6% completaram o follow-up em que 5.768 apresentaram demência (1,96%).

Condições como baixo status socioeconômico, maus hábitos de vida, sexo masculino, isolamento social e carreadores de APOE e4 apresentaram associação com aumento da taxa de demência de início precoce e de início tardia. Algumas condições apresentaram maior magnitude de associação quando relacionadas à incidência de demência de início precoce. Um dos fatores foi o baixo status socioeconômico, que apresentou maior magnitude de associação para risco de demência de início precoce (HR 4,4, IC 95% 3,43-5,65) quando comparado para demência de início tardio (HR 2,32, IC95% 1,29-1,79).

Saiba mais: Demência, uma prioridade de saúde pública

Na análise do segundo modelo, os pacientes com baixo status socioeconômico e maus hábitos de vida, apresentaram 440% maior risco de demência de início precoce (HR 5,40, IC95% 3,66-7,97) ao comparar com participantes de alto nível socioeconômico e bons hábitos de vida.

Foi encontrada associação entre baixo status socioeconômico e maus hábitos de vida na incidência de demência, sendo essa relação mais pronunciada para demência de início precoce.

Conclusão sobre status socioeconômico e demência

Comparando com indivíduos de alto nível socioeconômico, os indivíduos com baixo status socioeconômico apresentaram três vezes maior risco para demência de início precoce, sendo que 1,3-11,7% da amostra apresentou associação mediada por hábitos de vida.

O estudo apresentou algumas limitações importantes de serem pontuadas. Grande parte das informações socioeconômicas e dos hábitos de vida foram autorrelatados pelos pacientes. O escore de hábitos de vida apresentou uma equação igualitária entre o peso desses fatores (tabagismo, consumo de álcool, dieta, atividade física), o que pode não refletir a realidade. Além disso, a amostra apresentou limitada diversidade étnica (> 85% ancestralidade europeia), limitando a generalização dos resultados. Por fim, os autores descrevem que muitos dos participantes excluídos da análise, em decorrência da falta de dados de covariáveis, provavelmente apresentavam baixo status socioeconômico — podendo, portanto, subestimar os resultados.

Mensagem prática

Foi encontrada associação de baixa renda com incidência de demência de início precoce nesse estudo. Apenas uma pequena proporção do risco de demência dessa amostra de baixa renda foi mediada por hábitos de vida — o que indica que outras medidas, além da promoção de estilo de vida saudável, são determinantes para melhorar o panorama de incidência dessa condição.

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Referências bibliográficas

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