A sepse é caracterizada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção e disfunção orgânica. Devido às elevadas taxas de complicações e óbitos em crianças, é considerado um grande desafio no Brasil. Com o objetivo de avaliar as internações por sepse em crianças e seus gastos para o sistema público de saúde no país, pesquisadores brasileiros conduziram o estudo The epidemiological behavior of sepsis among children and its costly impact on the Brazilian public health system, apresentado no último congresso da World Federation of Pediatric Intensive & Critical Care Societies (WFPICCS 2022), que aconteceu de 12 a 16 de julho em formato virtual.

Metodologia
Brito e colaboradores coletaram dados através do Sistema de Informações Hospitalares do Ministério da Saúde do Brasil. Foram incluídos pacientes pediátricos de 0 a 14 anos de idade diagnosticados com sepse no período de janeiro de 2008 a novembro de 2021. As variáveis foram internações e óbitos ao longo dos anos, tempo de internação, gastos e faixa etária.
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Resultados
Ao longo dos anos, foram notificadas 249.455 internações por sepse, das quais 95,4% foram consideradas emergências médicas, totalizando 3.332.519 dias de internação e R$ 186.220.788,89 em gastos com saúde. A taxa de mortalidade foi de 11,52%, sendo que a faixa etária responsável pelo maior custo (75,9%) foi a população de lactentes com menos de um ano de idade.
Conclusões
Os pesquisadores concluíram que, devido à alta frequência de doenças infecciosas e indicadores socioeconômicos ruins no Brasil, a sepse é responsável por gastos exorbitantes e elevada taxa de complicações e mortalidade entre pacientes pediátricos. Destaca-se o fato de que a idade é inversamente proporcional à suscetibilidade e gravidade. Dessa forma, essas informações obtidas podem estar relacionadas à imaturidade do sistema imunológico e à produção de armadilhas extracelulares de neutrófilos. Por isso, é crucial o investimento na prevenção primária de infecções, incluindo estratégias como incentivo ao aleitamento materno e capacitação de profissionais de saúde para reconhecimento e tratamento precoces de quadros sépticos em pediatria.
Comentário
De fato, a maior carga de morbidade e mortalidade relacionadas à sepse e choque séptico pediátricos está em países de baixa e média renda, onde as populações infelizmente sofrem com más condições de higiene, desnutrição e alta prevalência de infecções. Apesar de os dados nessas nações ainda serem limitados, sabe-se que há um padrão de atendimento distinto em comparação com países de renda elevada. Parabenizo os autores pela iniciativa, já que trabalhos científicos que analisam dados epidemiológicos auxiliam na compreensão do comportamento da doença e na adoção de medidas para prevenção e manejo adequado.
Veja os outros temas abordados na WFPICCS 2022:
- Vivências e sentimentos de mães de primeira viagem durante internação na UTI neonatal
- Comportamento epidemiológico das internações por dengue e febre hemorrágica no Brasil
- Desfechos funcionais de longo prazo em familiares e crianças sobreviventes de UTIP
- Práticas de sedação, analgesia e dieta zero para a retirada de drenos de tórax em crianças no pós-cirúrgico cardíaco
- Revisão sistemática com meta-análise aborda os fatores de risco para delirium pediátrico
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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