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Pediatria24 agosto 2021

Doença de Kawasaki (DK) e doenças infecciosas pediátricas durante a pandemia

Estudos recentes relatam uma redução da incidência de doença de Kawasaki (DK) durante a pandemia gerada pelo SARS-CoV-2.

Por Jôbert Neves

A doença de Kawasaki (DK) é uma vasculite sistêmica de vasos de médio calibre, caracterizada por início agudo e autolimitado, com presença de febre alta e prolongada associada a outros sinais e sintomas, dentre eles a possibilidade de aneurisma de coronária. Estudos recentes relatam uma redução da incidência de DK durante a pandemia gerada pelo SARS-CoV-2, assim como apontam também para a redução dos quadros infecciosos no geral quando comparada a anos anteriores à pandemia. 

Leia também: Doença de Kawasaki: quais fatores maternos e perinatais podem estar associados?

Doença de Kawasaki e doenças infecciosas pediátricas durante a pandemia

Relembrando os critérios para o diagnóstico de DK:

  • Febre persistente por, pelo menos, 5 dias, associada a 4 dos 5 critérios abaixo:
    • Alterações da cavidade oral e/ou dos lábios;
    • Exantema polimorfo;
    • Alteração de extremidades;
    • Hiperemia conjuntival; 
    • Linfonodomegalia cervical, geralmente unilateral,  1,5 cm.

Com o objetivo de avaliar a incidência de DK durante a pandemia, estudiosos do Japão realizaram um estudo retrospectivo a partir de duas bases de dados importantes do país: uma direcionada a pacientes com DK, contemplando os dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes em questão e uma base de dados de doenças infectocontagiosas, sendo elas a infecção causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR) e a faringite por Estreptococo do grupo A. Foi realizada uma comparação e avaliação das características básicas dos pacientes diagnosticados durante 2020 com os pacientes que desenvolveram DK ou uma doença infecciosa durante 2017–2019. 

Os resultados relevantes obtidos foram: 

  • De um total de 4.603 pacientes com DK identificados nesses hospitais, 4.596 pacientes foram incluídos:
    • Um total de 868 (19%) tiveram diagnóstico de DK em 2020;
    • Entre 2017-2019, cerca de 3.738 (81%) pacientes desenvolveram DK; 
    • Para sexo, não foram encontradas diferenças entre os dois grupos.
  • As comparações das características de pacientes que desenvolveram DK em 2020 e 2017–2019 revelaram os seguintes achados:
    • O acometimento de pacientes com idade < 1 ano foi significativamente maior em 2020 em comparação com a proporção em 2017–2019 (24% vs. 19%; p < 0,01);
    • O número de pacientes com idade < 1 ano que desenvolveram DK em 2020 (n = 209) foi 12% menor quando comparado com 2017-2019;
    • O número de pacientes com idade ≥ 1 ano com DK em 2020 (n = 649) foi 36% menor do que aqueles em 2017–2019.
  • Quanto ao número de sinais e sintomas para o diagnóstico de DK, não houve diferença significativa: em ambos os grupos, os pacientes mantiveram a mesma proporção de diagnóstico de DK completa (5 ou mais critérios) e incompleta (4 ou menos critérios); 
  • Utilizando a correlação de Pearson, foi evidenciada também uma redução dos quadros respiratórios por VSR e faringite estreptocócica;
  • O tempo desde o início dos sintomas da DK até a primeira visita ao hospital não diferiu significativamente entre os anos examinados.

Saiba mais: Doença de Kawasaki: podemos avaliar o risco de aneurismas coronarianos só a partir dos marcadores inflamatórios?

Discussão e conclusão 

O diagnóstico e manejo da DK durante a pandemia e fora dela continua sendo um desafio para o pediatra. O estudo em questão, através dos seus resultados, nos trouxe a percepção de que, apesar da diminuição expressiva dos diagnósticos realizados durante a pandemia comparada aos anos anteriores, os pacientes e seus familiares não deixaram de procurar atendimento médico para elucidar o quadro clínico, mesmo em período pandêmico. Os resultados também sugerem que quadros infecciosos podem participar do desencadeamento da DK, apesar dessa patogênese ainda não estar bem esclarecida. 

Referências bibliográficas: 

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