Pacientes pediátricos submetidos a cirurgia cardíaca necessitam de drenagem torácica no período pós-operatório. Esses drenos são retirados na enfermaria ou na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). No entanto, não há diretrizes documentadas e existe grande variação na prática clínica com relação ao jejum pré-retirada do dreno e a necessidade de analgesia e sedação para o procedimento.
Muitos locais zeram a dieta dos pacientes de forma rotineira para cobrir tanto a sedação quanto o risco potencial de pneumotórax, caso haja necessidade de reinserção de emergência do dreno. Isso, muitas vezes, resulta em longos períodos de jejum, causando desequilíbrio hídrico e adicionando ansiedade e estresse para as crianças e os pais.
Em e-poster apresentado no WFPICCS 2022, Samadar e colaboradores realizaram um estudo retrospectivo com o objetivo de avaliar a prática de retirada de drenos no Alder Hey Children’s Hospital, em Liverpool, Reino Unido, e o risco de reinserção de emergência com vistas à mudança nas práticas de jejum.
Metodologia
Os pesquisadores coletaram dados de forma retrospectiva de todas as remoções de drenos torácicos pós-cirurgia cardíaca no período de fevereiro a junho de 2021. Esses dados foram analisados usando o software SPSS.
Resultados
Foram avaliados 153 pacientes com 306 drenos.
Os medicamentos mais comumente usados para o procedimento de retirada dos drenos foram:
- Fentanil intravenoso (IV) – 196 (69,01%);
- Midazolam IV – 36 (12,68%);
- Morfina IV – 2 (0,70%);
- Morfina via oral (VO) – 53 (18,66%);
- Paracetamol IV – 5 (1,76%);
- Cetamina ou Propofol IV – 11 (3,63%);
- Midazolam VO – 28 (9,86%).
O tipo de sedação variou dependendo do local onde o paciente se encontrava (UTIP ou enfermaria). O jejum foi utilizado para 195 (68,66%) retiradas de drenos. Apenas um paciente (0,35%) apresentou queda temporária de saturação durante a retirada do dreno. Somente um paciente (0,35%) necessitou de reinserção de dreno torácico de emergência entre três (1,05%) com pneumotórax pós-remoção. A duração média do jejum foi de 9,40 horas.
Conclusões
Os pesquisadores observaram que existe uma variabilidade considerável nos tipos de sedação utilizados. Um período significativo de jejum foi associado à remoção do dreno em crianças. A incidência de pneumotórax e reinserção de dreno de emergência foram insignificantes. Dessa forma, os pesquisadores recomendam que o jejum de rotina não seja necessário antes de todas as remoções de drenos torácicos e que possa ser implementado apenas em casos selecionados com base no cenário clínico individualizado.
Comentário
Atualmente, as recomendações da Society of Critical Care Medicine (SCCM) consideram os conceitos de “analgesia-first” (analgesia primeiro) e sedação baseada em analgesia. Na prática, isso significa que, antes da realização de procedimentos dolorosos (como a retirada de dreno de tórax, por exemplo), devemos considerar que esse procedimento de fato causa dor e desconforto na criança, devendo ser precedido por adequada analgesia.
Ademais, o uso de sedativos somente é necessário caso o paciente não responda a uma abordagem correta da dor. Por fim, a SCCM orienta o uso de analgésicos simples, como o paracetamol (no Brasil, é frequente o uso da dipirona IV) como forma de se poupar opioides.
Diante desses dados, me parece promissor que uma história da resposta da criança à dor deva ser realizada com cautela para que possamos rever a real necessidade de se suspender a dieta, evitando ainda mais estresse na criança e na família.
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