A síndrome pós-cuidados intensivos (post-intensive care syndrome – PICS) tem sido bastante discutida em adultos como morbidade de longo prazo relacionada à doença crítica. Apenas recentemente esse conceito foi aplicado a crianças e, ainda assim, permanece incerto.
No World Federation of Pediatric Intensive & Critical Care Societies (WFPICCS 2022), realizado de 12 a 16 de julho, pesquisadores japoneses mostraram resultados de um estudo prospectivo de coorte que investigou desfechos funcionais de longo prazo em crianças sobreviventes de Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) e nos pais.
Metodologia
O estudo foi realizado por meio de questionários na web. Foram incluídos todos os pacientes menores de 16 anos que permaneceram na UTIP do National Center for Child Health and Development, em Tóquio, Japão, por mais de 48 horas, no período de março de 2020 a fevereiro de 2022.
Nos pacientes foi utilizada a Escala de Status Funcional (Functional Status Scale – FSS) e, nos pais, a Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (Hospital Anxiety and Depression Scale – HAD). Essas escalas foram aplicadas em um, três, seis e 12 meses após a alta da UTIP.
Resultados
Durante o período do estudo, houve 1.722 internações. Em última análise, 348 casos foram incluídos. As taxas de resposta foram de 51,7%, 44,0%, 39,4% e 33,2% em um, três, seis e 12 meses após a alta, respectivamente. A idade mediana dos pacientes foi de 22 meses e o tempo mediano de permanência na UTIP foi de oito dias.
As pontuações medianas do FSS dos pacientes em um, três, seis e 12 meses após a alta foi de seis, considerada uma boa faixa. Em relação ao escore HAD dos pais, os escores medianos dos domínios “ansiedade” e “depressão” estavam ambos na faixa “possível”. Esses escores melhoraram ao longo do tempo, mas permaneceram na faixa “possível” 12 meses após a alta. Uma limitação do estudo foi o fato que a taxa de respostas diminuiu ao longo dos meses.
Conclusões
Os pesquisadores concluíram que o estado funcional do paciente melhorou gradualmente ao longo do tempo. No entanto, a ansiedade e a depressão dos pais persistiram 12 meses após a alta.
Comentário
Sabemos que a internação em uma UTIP é difícil não somente para a criança, mas também para sua família. Até pouco tempo, o foco na terapia intensiva pediátrica era a sobrevivência de crianças em estado crítico. Hoje, esses pacientes sobrevivem, mas a abordagem das consequências em longo prazo e a luta por uma melhor qualidade de vida fora do hospital têm ganhado destaque.
A morbidade em longo prazo envolve não somente sequelas motoras, mas também cognitivas e os autores deram um grande passo para essa avaliação, apesar de ter sido um estudo envolvendo um único centro. Um olhar mais cuidadoso do pediatra intensivista hoje exige pesar os efeitos em longo prazo da terapêutica empregada e o acolher os familiares do paciente pediátrico grave.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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