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Pediatria3 setembro 2024

O que afeta o sono de crianças internadas?

Um artigo do European Journal of Pediatrics avaliou o sono de 272 crianças internadas de 1-12 anos de idade em um hospital pediátrico holandês

O sono é muito importante para recuperação da saúde, mas a internação hospitalar afeta o sono do paciente à medida que a doença traz desconforto, o ambiente é barulhento e por conta das rotinas de cuidado. Burger e colaboradores publicaram em julho de 2024 no European Journal of Pediatrics um artigo sobre seu estudo prospectivo observacional que avaliou o sono (tempo e qualidade de sono assim como fatores que o afetam) de 272 crianças internadas de 1-12 anos de idade em um hospital pediátrico holandês terciário comparando com o sono em casa 6-8 semanas após a alta hospitalar. Neste artigo, resumiremos como foi feito o estudo e quais foram seus resultados. 

sono de crianças internadas

Objetivos do estudo  

O objetivo primário foi identificar os fatores relacionados ao ambiente, à doença, à equipe, ao paciente e ao tratamento que influenciaram mais significativamente o sono durante a internação. Os objetivos secundários foram comparar o sono da internação com o de casa. 

Veja mais: Estudo da AAP mostra conflito entre orientações de sono seguro e o sono de bebês  

Metodologia 

Incluíram pacientes que ficaram internados por pelo menos uma noite de 1-12 anos de idade de março de 2021 a dezembro de 2023. Excluíram adolescentes por conta das alterações que a puberdade geram no sono, lactentes < 1 ano de idade por terem ritmo circadiano instável, pacientes em pós-operatórios nas últimas 24 horas, pacientes que já tinham distúrbios de sono moderados a graves, pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica por terem maior chance de receber sedativos, estar sob ventilação mecânica invasiva e sofrerem procedimentos invasivos. 

As seguintes medidas foram obtidas: 

  1. Informações gerais: idade, sexo, internações prévias, comorbidades, causa da internação, sinais vitais, tipo de tratamento e medicações em uso; 
  2. O diário de sono continha informações sobre horários de dormir/acordar, latência para iniciar o sono (SOL), tempo para acordar após dormir (WASO), número de despertares e cochilos diurnos; 
  3. Actigrafia, que é um método para quantificar o tempo de sono e vigília usando os movimentos do punho com a obtenção dos seguintes dados tempo total de sono (TST), latência do início do sono (SOL), eficiência do sono, número de despertares e despertar após o início do sono (WASO). Junto com o diário do sono, derivavam medidas de TST e eficiência do sono; 
  4. Questionário que avaliava os fatores que impactavam o sono. 

Análise por regressão identificou fatores determinantes que afetam os padrões de sono, enquanto modelos lineares mistos compararam o sono no hospital com o sono em casa.  

Resultados 

Dos 621 pacientes elegíveis, 154 não foram convidados principalmente porque os enfermeiros consideraram a inclusão muito penosa para estas famílias, enquanto 467 foram convidados e 272 (58%) consentiram em participar.  

A idade média dos participantes foi 6,4 anos com desvio-padrão (DP) de 3,6 anos, sendo 44% meninas e 243 dos 272 participantes usaram actigrafia por pelo menos 1 noite. A duração da participação média foi de 2 noites com DP de 1,5 noites. 53% dos pacientes eram de subespecialidade cirúrgica. 129 pacientes tiveram seguimento em casa.  

Os principais determinantes do sono incluíram dor, número de internações anteriores, doenças crônicas (subjacentes) e fatores ambientais (ex. luzes acesas, barulho de equipamentos), de pessoal (como fazer escore de dor à noite e aferir sinais vitais) e relacionados à doença (como ter doença crônica, dor ou administração de medicamentos). Pais relataram menor qualidade do sono no hospital em comparação com em casa, 97 minutos (diferença média 9) menor tempo total de sono, 100 minutos (5) mais de despertar após o início do sono, mais dificuldades em adormecer, menor satisfação com o sono e mais despertares. Os resultados da actigrafia revelaram menor tempo total de sono no hospital em média 20 min (DP 6), mas melhor eficiência do sono e menos despertares no hospital. 

Leia também: Utilidade da adenotonsilectomia para ronco e apneia leve do sono em crianças

Discussão e conclusão 

Esse estudo revelou que o comprometimento do sono no hospital comparado ao sono em casa aconteceu principalmente por distúrbios relacionados ao tratamento (analgesia não otimizada e administração de medicamentos), ambiente (luzes acesas e barulho de equipamentos) e equipe (como fazer escore de dor à noite e aferir sinais vitais). Devemos atentar que não conseguir dormir bem aumenta o estresse emocional assim como a chance de evoluir com depressão e ansiedade.  

Os resultados desse estudo reforçam a necessidade de: se estratificar quais intervenções realmente são necessárias à noite, a importância de promover a analgesia, o silêncio e reduzir a luminosidade para promover o sono em crianças hospitalizadas. 

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Referências bibliográficas

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