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Pediatria1 janeiro 2024

Utilidade da adenotonsilectomia para ronco e apneia leve do sono em crianças

Estudo avaliou a eficácia da adenotonsilectomia precoce em comparação com a conduta expectante e os cuidados de suporte em crianças com distúrbios respiratórios do sono leves.

A hipertrofia adenotonsilar é o fator de risco mais reconhecido para distúrbios respiratórios do sono (DRS) em crianças. Consequentemente, a adenotonsilectomia é o tratamento de primeira linha para DRS em crianças saudáveis. Em 2019, das mais de 560.000 tonsilectomias realizadas nos Estados Unidos, a maioria foi realizada para respiração obstrutiva usando categorias diagnósticas de hipertrofia adenotonsilar (79%) e apneia obstrutiva do sono (AOS) (74%).

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No entanto, Redline e colaboradores questionaram se, entre as crianças que roncam sem eventos obstrutivos frequentes, a adenotonsilectomia precoce melhora o neurodesenvolvimento, o comportamento ou outros sintomas no acompanhamento de 12 meses, quando comparada a conduta expectante com cuidados de suporte?

Dessa forma, o estudo, Pediatric Adenotonsilectomia Trial for Snoring (PATS), publicado no JAMA, foi desenhado para avaliar a eficácia da adenotonsilectomia precoce em comparação com a conduta expectante e os cuidados de suporte em crianças de 3 a 12,9 anos com DRS leves.

Utilidade da adenotonsilectomia para ronco e

Metodologia

O PATS foi um ensaio clínico randomizado conduzido de 29 de junho de 2016 a 1º de fevereiro de 2021 em sete centros acadêmicos de sono dos Estados Unidos. Os exames de acompanhamento foram concluídos em 25 de fevereiro de 2022.

Os critérios de inclusão foram:

  • Idades entre 3 e 12,9 anos;
  • Hipertrofia tonsilar e DRS leve (definido por ronco habitual, ocorrendo a maior parte da noite em, pelo menos, três noites por semana, durante pelo menos três meses];
  • Índice de apneia obstrutiva (número de pausas respiratórias por hora de sono) < 1 e um índice de apneia-hipopneia obstrutiva (IAH) (número de episódios obstrutivos completos e parciais por hora de sono) < 3, considerados candidatos adequados para adenoamigdalectomia por um otorrinolaringologista.

Os critérios de exclusão foram:

  • Amigdalites recorrentes;
  • Escore z baseado no índice de massa corporal (IMC) ≥ 3;
  • Comorbidades graves.

Os participantes foram randomizados 1:1 para adenoamigdalectomia precoce ou conduta expectante. Para avaliar a função executiva entre os dois grupos, as mudanças entre a linha de base e 12 meses no escore T do Composto Executivo Global (Global Executive Composite – GEC) do Inventário de Classificação de Comportamento de Função Executiva (Behavior Rating Inventory of Executive Function – BRIEF) relatado pelo cuidador foram analisadas. Ademais, foram também comparadas as mudanças nas pontuações de detecção de sinal d-prime do teste Go/No-go (GNG), um teste computadorizado de atenção, entre o grupo de adenotonsilectomia e o grupo de conduta expectante.

Resultados

Foram avaliadas 458 crianças com idade média de 6,1 anos, sendo 50% do sexo feminino, 16,3% hispânicos e 26,9% negros/afro-americanos. Os pacientes apresentavam distúrbios respiratórios leves do sono: 231 foram submetidos à adenotonsilectomia precoce e 227 receberam conduta expectante.

Os resultados mostraram que não houve diferenças estatisticamente significativas na mudança da linha de base entre os 2 grupos na função executiva:

  • Pontuações T do BRIEF GEC: -3,1 para adenotonsilectomia vs -1,9 para conduta expectante; diferença, -0,96 [intervalo de confiança de 95% (IC 95%), -2,66 a 0,74]); ou
  • Pontuações GNG d-prime (atenção): 0,2 para adenotonsilectomia vs 0,1 para conduta expectante; diferença, 0,05 [IC 95%, -0,18 a 0,27]) aos 12 meses.

A adenotonsilectomia (mais que a conduta expectante) permitiu a melhora de alterações comportamentais, sonolência, sintomas e a qualidade de vida. Além disso, foi associada a:

  • Declínio maior em 12 meses nos níveis percentuais de pressão arterial sistólica e diastólica (diferença nas alterações, -9,02 [IC 97%, -15,49 a -2,54] e -6,52 [IC 97%, -11,59 a -1,45] , respectivamente;
  • Menor progressão do IAH para mais de 3 eventos/h (1,3% de crianças no grupo adenotonsilectomia em comparação com 13,2% no grupo de conduta expectante; diferença, -11,2% [IC 97%, -17,5% a – 4,9%]).

Seis crianças (2,7%) apresentaram um evento adverso grave associado à adenotonsilectomia.

Saiba mais: Relação entre duração do sono materno e infantil nos primeiros 2 anos do bebê

Conclusão

Redline e colaboradores mostraram que, em crianças com DRS leve, a adenotonsilectomia não melhorou significativamente a função executiva ou a atenção aos 12 meses, quando comparada à conduta expectante. Por outro lado, as crianças com adenotonsilectomia melhoraram os desfechos secundários, incluindo comportamento, sintomas e qualidade de vida, e diminuíram a pressão arterial e o IAH, no acompanhamento de 12 meses.

Comentários

A escolha entre essas abordagens (cirúrgica e conservadora) depende de vários fatores, incluindo a gravidade dos sintomas, a idade da criança e as preferências dos pais, destacando a importância de uma abordagem individualizada na decisão de tratamento.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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Referências bibliográficas

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