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Pediatria5 junho 2024

WFPICCS 2024:  PICU Liberation - Escolha da analgesia e da sedação 

Apresentação reforçou que a analgesia deve ser sempre avaliada primeiro e que a sedação deve ser baseada na analgesia.

O elemento C é o terceiro do A-F bundle e sua aplicação foi abordada no workshop PICU Liberation, atividade pré-congresso da World Federation of Pediatric Intensive and Critical Care Societies (WFPICCS) 2024, em Cancún, México. O bundle A-F faz parte da iniciativa ICU Liberation da Society of Critical Care Medicine (SCCM) e seu objetivo é “liberar” o paciente o mais rápido possível da unidade de terapia intensiva (UTI).   

WFPICCS 2024:  PICU Liberation - Escolha da analgesia e da sedação 

Imagem de stefamerpik/freepik

C) Choice of Analgesia and Sedation = Escolha da analgesia e da sedação

O elemento C foi apresentado pelos pesquisadores Erwin Ista (Holanda) e Sapna Kudchadkar (Estados Unidos). Ambos reforçaram a importância da identificação da dor, sua prevenção e seu manejo e, no tocante ao elemento C, os palestrantes enfatizaram que a analgesia deve ser sempre avaliada primeiro e que a sedação deve ser baseada na analgesia.

Leia mais: WFPICCS 2024: PICU Liberation – Elemento A: avaliar, prevenir e manejar a dor

Dessa forma, como opções de analgésicos, podemos incluir: 

  • Fentanil em infusão contínua ou somente em bolus; 
  • Morfina em infusão contínua ou somente em bolus; 
  • Hidromorfona em infusão contínua ou somente em bolus (no entanto, não temos hidromorfona no Brasil); 
  • Metadona enteral ou intravenosa de horário; 
  • Acetaminofeno e ibuprofeno  
  • Analgesia controlada pelo paciente (PCA).

Já as opções de sedativos, quando necessários, incluem: 

  • Infusão de dexmedetomidina; 
  • Infusão de cetamina; 
  • Infusão de propofol com cautela, devido à possibilidade de ocorrência de síndrome de infusão de propofol; 
  • Infusão de clonidina ou em administração regular de horário intermitente ou enteral ou transdérmica. 

E os benzodiazepínicos? 

A infusão contínua de benzodiazepínicos, como midazolam, não deve ser feita de rotina devido ao risco de delirium, a não ser que seja absolutamente necessária (seu uso deve ser restrito a pacientes com crises convulsivas). Em pacientes sem convulsão, o uso de diazepam enteral é preferível ao uso de infusão contínua de benzodiazepínicos. “Os benzodiazepínicos como primeira opções de sedação devem ser a exceção e não a regra”, de acordo com a Dra. Sapna. 

E como devemos fazer na prática? 

  • Os profissionais de saúde devem discutir, nos rounds interdisciplinares, sobre os níveis atuais de sedação do paciente e sobre seus alvos; 
  • Quando a sedação for discutida, uma linguagem universal deve ser usada, por isso a importância do uso de instrumentos válidos de avaliação; 
  • O medicamento deve ser usado com a dose mínima necessária e deve haver promoção de sono — a privação de sono leva à agitação; 
  • Assegurar que os medicamentos estejam sendo dados corretamente, quando necessários. Por exemplo: não administrar fentanil se a indicação é sedação e não usar dexmedetomidina ou midazolam se a indicação é analgesia.

Protocolos de sedação têm resultados? 

Os palestrantes mostraram o estudo de Yang et al. (2021) intitulado “Implementation of an analgesia-sedation protocol is associated with reduction in midazolam usage in the PICU”, que concluiu, como desfecho primário, que a dose total de midazolam IV administrada em pacientes submetidos à ventilação mecânica (VM) até o 14º dia de ventilação, foi reduzida em 73% na coorte pós-implementação.  

A arte de “começar com uma dose baixa e ir devagar” 

Os opioides, em crianças virgens de sedação, devem ser iniciados com a menor dose possível e com um escalonamento lento de acordo com as metas estipuladas de sedação para o paciente, individualmente (por exemplo: fentanil = iniciar com 0,3 mcg/kg/h e não 1,0 mcg/kg/h; morfina = iniciar com 0,05 mg/kg/h ao invés de 0,1 mg/kg/h). 

Finalizo este texto com a seguinte mensagem passada pelo Dr. Ista: “Quando estamos diante de um paciente na UTI, os medicamentos estão sendo prescritos para aliviar a ansiedade dele ou a nossa, como profissionais?”. Deixo aqui essa importante reflexão: A cultura da “supersedação” é a maior barreira para a implementação da iniciativa PICU Liberation. 

Veja os destaques do congresso da World Federation of Pediatric Intensive and Critical Care Societies! 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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