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Pediatria4 abril 2024

Estudo da AAP mostra conflito entre orientações de sono seguro e o sono de bebês  

Estudo analisou as dificuldades presentes entre o seguimento das diretrizes de sono seguro da AAP e a realidade do sono do bebê

Nos Estados Unidos, mais de 3.400 bebês morrem inesperada e subitamente a cada ano, em casos conhecidos como mortes súbitas e inesperadas de bebês (sudden and unexpected infant deaths – SUID), composta por síndrome de morte súbita infantil (SIDS), sufocação acidental e estrangulamento na cama, e mortes mal definidas.

Para reduzir o risco desses óbitos, a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que os bebês durmam de barriga para cima, em superfícies firmes e planas, sem cobertores, protetores ou objetos espalhados no berço.

No entanto, muitas famílias não seguem essas diretrizes. A percepção de sono ruim do bebê e o esgotamento dos pais são razões comuns para essa não aderência. Além disso, os pais muitas vezes mudam os bebês para posições ou locais inseguros durante a noite em resposta aos despertares dos bebês.  

Infelizmente, a tomada de decisão dos pais sobre as práticas corretas de sono seguro ainda não está clara. Sendo assim, para compreender a tensão que as mães experimentam ao tentar seguir as diretrizes de sono seguro da AAP e melhorar o sono do bebê, pesquisadores dos Estados Unidos conduziram um estudo denominado “The Tension Between AAP Safe Sleep Guidelines and Infant Sleep”, cujos resultados foram publicados na edição de abril do jornal Pediatrics 

Sono seguro e o sono de bebês  

Metodologia 

Os pesquisadores conduziram um estudo transversal entre novembro de 2022 e março de 2023, utilizando cinco grupos focais virtuais (GFV) de mães de bebês saudáveis com menos de seis meses de idade e que nasceram com mais de 35 semanas de idade gestacional (IG). As mães foram recrutadas por meio de anúncios em mídias sociais (por exemplo, Instagram, Facebook) e por meio de panfletos enviados por e-mail a funcionários de hospitais. 

Os critérios de inclusão das mães foram: 

  • Idade maior ou igual a 18 anos; 
  • Falantes de inglês e residentes nos Estados Unidos; 
  • Possuir um dispositivo eletrônico habilitado para wi-fi ou dados para o GVF e que geralmente estavam em casa durante a hora de dormir do bebê; 
  • Já ter colocado seu bebê em uma posição não recomendada (não supina) e/ou local (por exemplo, cama de adulto, sofá ou cadeira) pelo menos duas vezes na semana anterior (pois o objetivo era entender as práticas de sono em relação à percepção de sono ruim do bebê). 

Foram excluídas mães que haviam perdido um bebê para SUID ou SIDS ou que optaram por compartilhar a cama com seu bebê devido a crenças parentais.  

Cada participante recebeu um cartão de débito de US$150 e as diretrizes da AAP para um sono seguro. 

Leia também: Utilidade da adenotonsilectomia para ronco e apneia leve do sono em crianças

Resultados 

Das 357 mães que responderam à pesquisa de seleção, 199 (55,7%) eram elegíveis e 154 (43,1%) deram seu consentimento. Dessas, 73 (47,4%) não completaram a pesquisa ou tiveram respostas inconsistentes. No final, 75 das 81 restantes (92,6%) foram convidadas a participar do estudo. Após exclusões técnicas, 25 participaram de grupos focais, cujas respostas foram usadas na análise final. As mães tinham em média 28,1 anos e os bebês, 3,7 meses. A maioria se identificava como branca (80%), era casada ou vivia com um parceiro (92%) e tinha renda familiar anual de pelo menos $85.000 (56%). A maioria das participantes (60%) residia em Ohio. 

Cerca de 80% das mães relataram ninar ou acalentar seus bebês para fazê-los dormir, enquanto 76% os alimentavam até pegarem no sono. Quase todas conheciam as diretrizes ABC (Alone, Back, Crib – Sozinho, de Barriga para Cima, no Berço) para um sono seguro e tinham a intenção de segui-las antes do nascimento. Contudo, muitas consideravam essas orientações pouco práticas e optavam por colocar seus bebês em posições ou locais não recomendados, acreditando serem mais confortáveis e facilitarem o sono do bebê.

As mães tendiam a adotar práticas não aconselhadas quando estavam despertas ou dormindo próximas ao bebê, confiantes de que poderiam monitorá-los de perto. Algumas delas questionavam se as regras ABC eram a única forma de garantir um sono seguro. Outras davam prioridade a diferentes aspectos da segurança, como a prevenção de quedas, em vez da prevenção da SUID ou SIDS. Embora as mães se sentissem seguras para fazer seus bebês dormirem de modo geral, expressaram menor confiança em conseguir isso seguindo as orientações. 

Conclusão 

O estudo mostra que, mesmo com o conhecimento e a intenção inicial das mães de aderir às recomendações de sono seguro da AAP, muitas vezes elas acabam adotando práticas de sono desaconselhadas quando enfrentam dificuldades para fazer o bebê dormir e continuar dormindo.

Métodos de sono que desconsideram as orientações da AAP podem elevar o risco de SUID. Portanto, é importante educar os pais sobre práticas saudáveis de sono e o perigo de SUID para o bebê em um ambiente de sono inadequado. Os pesquisadores descreveram que, dado que o risco dessa ocorrência pode não ser concreto para os pais, a utilização de termos mais claros como “asfixia” pode ser mais eficaz para transmitir esse perigo. Além disso, programas que instruem os pais sobre padrões de sono adequados ao desenvolvimento e táticas para incentivar o sono e o autoconsolo do bebê podem contribuir para uma maior observância das normas de sono seguro.  

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Comentário 

O estudo apresenta um objetivo relevante ao investigar práticas de sono materno-infantil, embora a limitação da amostra reduzida possa impactar a robustez dos achados. No contexto brasileiro, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) endossa as diretrizes da AAP para promover um sono seguro.

Entretanto, na prática clínica, eu observo de fato uma resistência por parte de algumas mães em aderir a essas recomendações, o que destaca a complexidade dos desafios enfrentados na maternidade, especialmente no que tange ao sono infantil. Nesse cenário, o papel do pediatra transcende a mera prescrição de orientações, com o acolhimento e suporte às famílias para enfrentar esses desafios de forma segura e informada.

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Referências bibliográficas

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