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Pediatria18 março 2025

Ensaio clínico compara cepas probióticas no tratamento da cólica infantil 

Análise foi feita sobre as cepas probióticas: Bifidobacterium longum KABP042 + Pediococcus pentosaceus KABP041 vs. Limosilactobacillus reuteri DSM17938

Um ensaio clínico randomizado (ECR) publicado em outubro de 2024 pelo European Journal of Pediatrics comparou a eficácia de duas formulações probióticas amplamente usadas na prática na melhora da cólica do lactente. Os resultados do estudo Comparative efficacy of probiotic mixture Bifdobacterium longum KABP042 plus Pediococcus pentosaceus KABP041 vs. Limosilactobacillus reuteri DSM17938 in the management of infant colic: a randomized clinical trial estão sintetizados a seguir.  

Metodologia: estudo com cepas probióticas 

Conduzido em ambulatórios de hospitais da Espanha e do México, o estudo consistiu em um ECR, paralelo e simples-cego (investigador), com 112 lactentes com idade entre 2 e 12 semanas diagnosticados com cólica do lactente segundo os critérios de Roma IV. O estudo começou em 1º de março de 2019 e foi finalizado em 30 de dezembro de 2023.  

Para que o bebê fosse incluído no estudo, os pais deveriam relatar uma “duração de choro ou irritabilidade ≥ 3 horas por dia, por pelo menos 3 dias na semana”, durante uma entrevista presencial conduzida pelo investigador. Essa confirmação foi feita por meio de um diário comportamental prospectivo de 48 horas. Outros critérios de inclusão foram: idade gestacional ≥ 37 semanas;  peso ao nascimento > 2.100 g; bebês em aleitamento materno exclusivo (AME) ou que faziam uso de fórmula exclusiva ou predominante (permitido um máximo de uma mamada diária de leite materno). 

Os critérios de exclusão foram:  

  • Bebês recebendo alimentos sólidos;  
  • Bebês recebendo fórmula extensivamente hidrolisada;  
  • Bebês que receberam (ou cujas mães receberam, naqueles que foram amamentados) antibióticos ou probióticos (incluindo fórmula infantil com probióticos) dentro de 2 semanas antes da inclusão no estudo;  
  • Bebês recebendo medicamentos específicos usados ​​para o tratamento de doença gastrointestinal funcional, como antiácidos (bloqueadores H2 ou inibidores da bomba de prótons), lactase, lactulose, magnésia, polietilenoglicol ou simeticona, passando por terapias relacionadas à acupuntura, ervas medicinais, homeopatia ou usando antiinflamatórios ou antiespasmódicos;  
  • Os pais não conseguiram cumprir adequadamente os procedimentos do estudo. 

Os bebês foram randomicamente distribuídos em dois grupos: 

  • Grupo LR: Limosilactobacillus reuteri DSM17938 – 10⁸ unidades formadoras de colônia(UFC)/dia  (n = 57); 
  • Grupo BL+PP: Bifidobacterium longum KABP042 + Pediococcus pentosaceus KABP041 – 10⁹ UFC/dia (n = 55).

O tratamento foi administrado por via oral (VO) durante 21 dias.  

Os desfechos primários foram:  

  • Determinar o percentual de bebês respondedores, isto é, bebês que tiveram uma redução de ≥ 50% no tempo de choro e irritabilidade em relação ao início do estudo, conforme relato dos pais em um diário estruturado; 
  • Determinar o tempo diário de choro e irritabilidade (minutos/dia) nos dias 7, 14 e 21 depois da randomização. 

Resultados 

Os pesquisadores não encontraram diferenças significativas com relação ao número de eventos adversos entre os grupos. O que eles observaram foi que a taxa de resposta foi significativamente maior no grupo BP+PP comparada ao grupo LR nos dias 7 (61,1% vs. 37,5%, p=0,013) e 14 (84,6% vs. 59,3%, p=0,004).  

No tocante ao tempo de choro e agitação, estes se tornaram significativamente menores (mediana e intervalo interquartílico [IIQ]) no grupo BL+PP comparados ao grupo LR no dia 7 (119 [60–210] vs. 180 [110–270]; p=0,028), no dia 14 (60,0 [30–105] vs. 120 [60–180]; p=0,017) e no dia 21 (29 [0–85] vs. 67 [30–165]; p=0,011). 

O número de evacuações e regurgitações não diferiu entre os grupos de estudo nos dias 7, 14 ou 21. Foram também encontrados desfechos semelhantes para ansiedade parental, depressão e qualidade do sono entre os grupos. Por fim, os pesquisadores descreveram que a melhoria na eficácia observada no grupo BL+PP em comparação com o grupo LR ocorreu de forma semelhante, independentemente do tipo de parto e do tipo de amamentação. 

Conclusão 

No presente estudo, a fórmula comercial combinando as cepas probióticas B. longum KABP042 (CECT7894) e P. pentosaceus KABP041 (CECT8330) foi superior à fórmula contendo L. reuteri DSM17938 na redução dos sintomas de cólica e esse efeito pareceu ser independente do tipo de parto e da alim. Ambas as fórmulas foram igualmente bem toleradas. No entanto, ECR adicionais são necessários para replicar esses desfechos em outras populações. 

Ensaio clínico compara cepas probióticas no tratamento da cólica infantil 

Imagem de jcomp/freepik

Comentário: cepas probióticas no tratamento da cólica infantil 

Os probióticos consistem em “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”. O uso de probióticos tem sido sugerido por evidências de alto nível como o tratamento mais eficaz para cólica do lactente, especialmente em bebês em aleitamento materno exclusivo (AME). Contudo, os seus benefícios são cepa-específicos, e a eficácia no alívio da cólica varia significativamente conforme a cepa utilizada 

O probiótico mais estudado no manejo da cólica do lactente em ECR e controlados por placebo é o Limosilactobacillus reuteri DSM17938 (anteriormente denominado Lactobacillus reuteri), principalmente em bebês em AME. Por isso, seu uso é recomendado pelas diretrizes da European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) e da World Gastroenterology Organization. Por outro lado, outra formulação composta pelas cepas Bifidobacterium longum KABP042 e Pediococcus pentosaceus KABP041 também demonstrou eficácia no tratamento da cólica do lactente, reduzindo o tempo de choro e irritabilidade em ECR, duplo-cegos e controlados por placebo. 

O estudo de Moreno-Villares e colaboradores destaca o papel da microbiota intestinal na fisiopatologia da cólica do lactente. Além disso, o fato da combinação das cepas probióticas BL + PP ter tido melhores desfechos pode trazer implicações na prática diária, influenciando na escolha da cepa probiótica a ser utilizada.

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Referências bibliográficas

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