Especialistas expõem o grande prejuízo das telas no sono
Nos últimos 20 anos, diversas revisões sistemáticas e meta-análises relataram uma associação entre maior uso de telas e pior qualidade de sono, especialmente quando os dispositivos eletrônicos são usados antes de dormir. No entanto, muitas destas pesquisas são baseadas em autorrelatos e não fornecem recomendações direcionadas para diferentes faixas etárias.
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Efeitos deletérios no sono trazem prejuízos relevantes no bem-estar físico e mental, como ganho de peso, comprometimento da imunidade, aumento dos sintomas de ansiedade e depressão, queda do desempenho acadêmico e cognitivo. Portanto, dificuldades do sono consistem em um importante problema de saúde pública. Nos Estados Unidos, por exemplo, a maioria dos adolescentes e adultos dorme menos do que o tempo recomendado ou sofre de distúrbios do sono, como apneia do sono e insônia. Aliás, crianças e adolescentes, em particular, são mais suscetíveis aos possíveis efeitos negativos das mídias digitais sobre o sono devido à sua restrita autonomia sobre o ambiente e os horários e ao seu rápido desenvolvimento cerebral e físico.
Em agosto de 2024, uma publicação no periódico Sleep Health trouxe recomendações baseadas em evidências para a melhoria da qualidade do sono ao longo da vida nas diferentes faixas etárias. Tais recomendações foram desenvolvidas por um painel de especialistas da National Sleep Foundation, que concluiu que, de modo geral, o uso de telas prejudica a saúde do sono de crianças e adolescentes, que o conteúdo consumido antes de dormir também tem um impacto negativo e que estratégias comportamentais podem mitigar esses efeitos adversos. Todavia, alguns tópicos não puderam ser apontados pelo consenso devido à falta de evidências suficientes, como o papel da luz das telas antes de dormir e os efeitos do uso de telas no sono dos adultos.
A seguir, encontra-se um resumo das declarações do consenso.
Crianças e adolescentes
- Em geral, o uso de telas e o conteúdo visto antes de dormir prejudicam a saúde do sono;
- Estratégias e intervenções comportamentais podem reduzir os efeitos potencialmente negativos do uso de telas na saúde do sono.
Adultos
- Estratégias e intervenções comportamentais podem reduzir os efeitos potencialmente negativos do uso de telas na saúde do sono.
Melhores comportamentais práticas sugeridas pelo painel
- Conversar com crianças e adolescentes desde cedo sobre o uso responsável da tecnologia;
- Estabelecer limites para o uso de telas (sendo flexível quanto aos benefícios);
- Monitorar o conteúdo para garantir segurança e adequação;
- Ensinar etiqueta online (para evitar desinformação e cyberbullying);
- Estabelecer rotinas saudáveis durante o dia, que favoreçam amizades presenciais, exposição à luz natural pela manhã, prática regular de exercícios físicos e refeições consistentes com familiares e amigos sem a presença de telas.
Momento de uso e conteúdo sugeridos pelo painel
- Limitação do uso de telas antes de dormir e durante a noite;
- Limitar ou restringir o uso de dispositivos no quarto, como colocar a bateria de celulares e tablets para carregar em um local central da casa;
- Uso de controles parentais para restringir o uso de telas após determinado horário;
- Desconectar o roteador à noite (embora muitas crianças saibam contornar isso).
Rotina de sono sugerida pelo painel
- Adequada à idade, com atividades tranquilas antes de dormir;
- Ambiente favorável ao sono: silencioso, escuro, fresco e seguro.
Políticas e regulamentações
- Muitos especialistas em sono já apoiam diversas políticas para melhorar a saúde do sono da população. Entre elas está a proposta de início tardio das aulas às 8h30 ou mais tarde para estudantes de ensino fundamental e médio;
Conclusão
Em suma, os especialistas da National Sleep Foundation chegaram às seguintes conclusões:
- O uso de telas entre crianças e adolescentes, em geral, prejudica a saúde do sono;
- O conteúdo visto antes de dormir prejudica a saúde do sono subsequente de crianças e adolescentes;
- Estratégias e intervenções comportamentais podem mitigar os efeitos negativos do uso de telas na saúde do sono.
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Comentário
Essas publicações são extremamente pertinentes em pleno cenário pós-pandemia. Compreendemos, cada vez mais, a necessidade de reduzir o uso de dispositivos eletrônicos como parte fundamental da higiene do sono. Entretanto, como apontado pelos especialistas, o equilíbrio é essencial. A ideia de eliminar totalmente as telas da rotina moderna seria uma utopia. Para crianças mais velhas, adolescentes e adultos, as diretrizes da National Sleep Foundation parecem bastante plausíveis, embora sua execução, na prática, seja um grande desafio. Apesar das dificuldades, o que considero ainda mais complexo é sensibilizar sobre a importância de evitar o uso de telas por crianças com menos de dois anos. Nessa faixa etária (e, diria ainda, até os cinco anos), a exposição a telas deve ser evitada completamente, dado os inúmeros prejuízos cognitivos evidenciados pela literatura científica.
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