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Infectologia6 setembro 2024

Fatores associados à sobrevivência em pacientes com leishmaniose visceral 

Leishmaniose visceral é uma doença infecciosa causada pelo complexo Leishmania donovani, que possui três espécies morfologicamente diferentes

Nas Américas, L. chagasi e L. infantum são as espécies mais comuns do complexo Leishmania donovani. A leishmaniose visceral (LV) é a forma mais grave de leishmaniose, podendo alcançar uma letalidade de 95% nos casos não tratados. Classicamente, a apresentação clínica é de febre prolongada, hepatoesplenomegalia e palidez cutânea, podendo causar também anorexia e perda ponderal. As alterações laboratoriais incluem pancitopenia, que favorece a ocorrência de coinfecções bacterianas e eventos hemorrágicos. 

Na América Latina, 70% dos casos de LV ocorrem no Brasil, acometendo principalmente crianças com menos de dez anos de idade. A letalidade estimada da doença no país é de aproximadamente 6,82%, de acordo com dados de 2007 a 2020. Diversos fatores são reconhecidos como preditores de menor probabilidade de sobrevivência, tais como comorbidades, icterícia, desnutrição grave, período prolongado de doença, infecções bacterianas concomitantes, infecção pelo HIV, plaquetopenia < 50.000/mm³, relação TGO/TGP elevada e idade ≥ 60 anos ou < 12 meses. 

Um estudo brasileiro procurou avaliar a sobrevivência em 20 anos de pacientes admitidos em um hospital terciário de Minas Gerais entre os anos de 1995 e 2016 com diagnóstico de LV e identificar possíveis fatores relacionados a um pior prognóstico nessa população. 

Fatores associados à sobrevivência em pacientes com leishmaniose visceral 

Imagem de freepik

Materiais e métodos 

Trata-se de um estudo retrospectivo que coletou dados de todos os pacientes internados com LV no período de 1995 a 2016 no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), um serviço de referência para leishmaniose na cidade de Montes Claros (MG). 

Foram coletados dados clínicos, demográficos, socioeconômicos, testes realizados e terapia escolhida. O período de seguimento foi de 24 meses e, para a análise de sobrevivência, considerou-se o tempo entre o início dos sinais e sintomas e óbito por LV. Os casos de alta hospitalar, transferência para outros serviços e óbitos por outras causas foram censurados. 

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Resultados do estudo sobre leishmaniose visceral

Foram identificados 972 indivíduos com diagnóstico de LV no período de estudo (mediana de idade = 12,9 ± 17,06 anos; proporção de homens: mulheres = 1,18:1). A maioria dos casos ocorreu em crianças provenientes de áreas consideradas endêmicas para leishmaniose. Aproximadamente 20% residiam em áreas rurais. 

Em mais de 90% dos casos, os pacientes apresentaram a tríade clássica de LV de febre, hepatoesplenomegalia e palidez cutânea. O diagnóstico mais comumente foi confirmado por sorologia, seguido por exames clínicos e/ou parasitológicos. Os tratamentos consistiram em antimoniato pentavalente, como primeira linha, e anfotericina B, como segunda linha. Interessante notar que, em 36,9% dos casos, houve necessidade de terapia com ambas as drogas, com substituição do antimoniato pela anfotericina devido à presença de eventos adversos. 

O intervalo de tempo decorrido do início dos sintomas até a admissão hospitalar foi de 39,8 dias, variando de 2 dias a 2 anos. O tempo médio de hospitalização foi de 18,41 dias, variando de 1 a 90 dias. Dos casos que foram seguidos, 18 (2,0%) morreram, sendo a maioria desses casos do sexo masculino e tratada com anfotericina B. A maioria dos pacientes (96,5%) teve alta hospitalar. 

A análise de sobrevivência mostrou que a probabilidade de sobrevivência após um ano de seguimento foi de 78%. Não houve diferença quando se dicotomizou a população em indivíduos com < 10 anos ou com > 10 anos de idade. A diferença em relação ao tipo de tratamento foi limítrofe, não se podendo excluir que exista uma diferença na sobrevivência relacionada à terapia instituída. 

No modelo de fatores prognósticos, os valores de hemoglobina e a idade permaneceram como relevantes. Uma variação de 1 unidade na hemoglobina reduziu a HR para óbito em 44,7%, enquanto o aumento em 1 ano na expectativa de vida aumentou a HR para óbito em 3%.

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Referências bibliográficas

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