Esse cenário é uma situação comum na prática da oncodermatologia. Muitas vezes o paciente não quer se submeter a um procedimento cirúrgico ou até mesmo não pode devido a comorbidades, condições clínicas ou financeiras. Diante desse quadro, os especialistas discutiram sobre o manejo do carcinoma basocelular (CBC) nesses casos no 78º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Discussão
Primeiramente, os palestrantes enfatizaram a importância de questionar o porquê da recusa à cirurgia, que é a melhor conduta para o tratamento do carcinoma basocelular (CBC), que consiste em um tumor tratável e curável na maioria das vezes. O papel do dermatologista deve ser orientar com clareza sobre os riscos e benefícios da cirurgia, avaliando alternativas baseadas em evidências, como a cirurgia de MOHS.
Diversas causas podem estar envolvidas na recusa, como questões socioculturais, econômicas, subestimação da gravidade e inclusive as “fake news”. Entretanto, fatores como a longevidade dos pacientes, subtipo histológico do tumor, potencial metastático e morbidade da neoplasia não podem ser menosprezados. Além disso, o defeito estético muitas vezes é temido pelos pacientes, porém os palestrantes ressaltaram a importância de não preterimos a cura em prol da estética e realizarmos uma comunicação clara e assertiva.
Nos casos clínicos apresentados, algumas opções não cirúrgicas foram utilizadas. Dos tratamentos citados, o Itraconazol foi utilizado na dose de 200 mg de 12/12 horas no contexto paliativo. A radioterapia também foi empregada em um contexto de uma paciente idosa cuja família recusava a cirurgia para um CBC na região clavicular. Porém a lesão ulcerou e progrediu, afetando a clavícula e posterior evolução para óbito.
Outro caso clínico apresentado foi de uma paciente idosa com CBC extenso na fronte, cujo cardiologista contraindicou o tratamento cirúrgico devido às comorbidades. Foi optado pelo tratamento conservador com Imiquimod, cinco vezes por semana, por 6 semana. O medicamento é um imunomodulador tópico, agonista do TLR7 e seus efeitos colaterais citados foram o eritema, edema, crostas e ulceração.
Para minimizar o desconforto durante o tratamento se os efeitos colaterais forem intensos, foi sugerido ajustar o regime de aplicação, com pausas temporárias ou diminuição da frequência de uso, além de cuidados locais, com vaselina, creme de barreira ou corticoterapia.
Mensagens práticas nos casos de CBC em pacientes que recusam a cirurgia:
- Investigue a recusa e eduque o paciente: a cirurgia (incluindo MOHS) é o tratamento padrão-ouro. Oriente adequadamente seu paciente sobre os riscos, benefícios e prognóstico. Questione os motivos de recusa, como medo estético, desinformação, questões clínicas, subestimação da gravidade ou longevidade;
- Considere alternativas baseadas em evidência: em casos bem selecionados ou quando há contraindicação clínica à cirurgia, pode-se usar Imiquimod tópico, radioterapia e em contexto paliativo, o itraconazol.
- Monitorização do paciente e ajustes: avalie o subtipo histológico, risco metastático, idade e comorbidades. Ajuste o tratamento não cirúrgico conforme a tolerância do paciente, oferecendo suporte, manejo das reações locais e conforto.
Confira outras discussões do congresso:
- Métodos diagnósticos para neoplasias malignas
- Quais as novidades sobre o diagnóstico das lesões melanocíticas?
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