O uso de radioterapia em associação a quimioterapia no tratamento de pacientes com câncer de pequenas células de pulmão em estágio limitado já é bem consolidado, com ganho em sobrevida global.
Esse artigo editorial explora a utilização de esquemas de radioterapia com fracionamento em duas vezes ao dia.
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Evidências relevantes
Essa estratégia teve origem com o estudo de Turrisi et al, em 1999, estabelecendo o regime de 45Gy em 30 frações de 1,5Gy duas vezes ao dia em três semanas consecutivas como padrão. O racional radiobiológico é que regimes mais curtos e intensivos seriam superiores aos esquemas convencionais uma vez ao dia, uma vez que nesses tumores há alto índice proliferativo e repopulação tumoral acelerada.
Em 2017 e 2023, os estudos de fase III CONVERT e CALGB 30610/RTOG 0538 testaram regimes de dose única diária escalonada (66–70 Gy) versus o regime clássico de duas vezes ao dia, sem evidência de ganho em sobrevida global com o uso de doses mais altas administradas em maior tempo, e com toxicidade semelhante, o que reforçou que a duração total do tratamento e a dinâmica de repopulação celular são determinantes mais críticos do que apenas a dose total.
O regime de radioterapia realizado duas vezes ao dia, mesmo com evidências de superioridade é ainda pouco implantado, com pesquisas sugerindo baixa adesão por percepção maior de toxicidade principalmente em pacientes idosos, barreias logísticas e restrições institucionais.
Práticas internacionais
Enquanto nos Estados Unidos, em média 15% dos pacientes vêm recebendo o tratamento fracionado, países como a Noruega incorporaram rapidamente esse regime após estudos nacionais demonstrarem sua segurança e possível benefício adicional, chegando a tratar cerca de 90% dos pacientes com essa estratégia já em 2018.
Essa divergência pode ser em decorrência de diferenças socioculturais entre os dois países, diversidade de modelos de atenção (público x privado).
Conclusão e mensagem prática
O autor defende, nesse cenário, o papel de organizações como a ASTRO (American Society for Radiation Oncology) em formular recomendações oficiais e até diretrizes com implicações financeiras.
O maior desafio atual para esse esquema de fracionamento, portanto, não é científico, mas prático e estrutural: superar barreiras logísticas, culturais e institucionais que limitam sua implementação em diversos países.
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