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Cirurgia13 outubro 2024

Uso do ácido tranexâmico em ressecções hepáticas

Foram avaliados os possíveis efeitos do ácido tranexâmico no sangramento, transfusão de hemoderivados e complicações pós-operatórias em pacientes submetidos a hepatectomias.
Por Jader Ricco

O ácido tranexâmico é um agente antifibrinolítico muito usado em traumas graves com hemorragia maciça. É bem recomendado em algumas cirurgias, como cardíacas e ortopédicas, para reduzir sangramentos de pequenos vasos. Seu uso foi avaliado em cirurgias com alto potencial de sangramento como ressecções hepáticas e os desfechos positivos e negativos foram avaliados.  

A perda sanguínea e a hemotransfusão nas hepatectomias são fatores diretamente relacionados a morbidade e mortalidade, à recidiva tumoral e sobrevida livre de doença. Portanto, identificar maneiras que possam reduzir o sangramento e a necessidade de hemotransfusão pode levar a melhores desfechos. 

 

Metodologia  

Um estudo randomizado e multicêntrico, HeLiX, avaliou 1245 pacientes no período entre 01 de dezembro de 2014 até 08 de novembro de 2022 – 10 em grandes hospitais no Canadá e 1 nos Estados Unidos. Os pacientes foram submetidos a hepatectomia e randomizados em grupos que receberam ácido tranexâmico e outro placebo. Foi administrado um bolus de 1g na indução anestésica e mais um grama em infusão contínua.  

O HeLiX avaliou os possíveis efeitos do ácido tranexâmico no sangramento, transfusão de hemoderivados e complicações pós-operatórias em pacientes submetidos a hepatectomias. 

 

Discussão  

O ácido tranexâmico, um agente antifibrinolítico, é usado com bons resultados em determinadas cirurgias, como cardíacas e ortopédicas. Nesses casos, existe sangramento de pequenos vasos, “em lençol”, no qual o uso do ácido tranexâmico ajuda a reduzir, melhorando o campo cirúrgico e reduzindo complicações hemorrágicas.  

Em grandes traumas em que há hemorragia importante, com indicação de transfusão maciça de hemoderivados, o ATLS recomenda o uso de ácido tranexâmico em até 3 horas do trauma e uma dose de reforço após 8 horas. 

Motivado pelo potencial de reduzir o sangramento, Karanicolas et al. conduziram um ensaio clínico randomizado no Canadá e nos Estados Unidos. Foram avaliados pacientes submetidos a ressecções hepáticas. Um grupo controle, composto por 626 pacientes, recebeu dose de placebo e o grupo de 619 recebeu ácido tranexâmico.   

O desfecho primário avaliado foi transfusão de concentrado de hemácias nos primeiros 7 dias de cirurgias. 16,3% no grupo ácido tranexâmico receberam transfusão e, do grupo placebo, foram 14,5%. Portanto, não houve diferença significativa entre os dois grupos.  

Outros desfechos secundários foram avaliados. A perda sanguínea durante a cirurgia foi de 817,3 ml no grupo ácido tranexâmico e 836,7 ml no grupo placebo. Nos 7 primeiros dias de pós-operatorio, a perda sanguínea total estimada foi de 1.540,0 ml no grupo ácido tranexâmico e 1.551,2 ml no grupo placebo. Portanto, também não houve significância estatística nesses desfechos.  

Em relação as complicações pós-operatorias, o estudo HeLiX não discriminou as complicações uma a uma. Elas foram agrupadas em graus, sendo a maioria complicações não graves. Nesse caso, as complicações gerais foram mais expressivas no grupo ácido tranexâmico (43,8%) do que no grupo placebo (37,9%)   

Entretanto, em relação ao tromboembolismo, não houve diferença significativa entre os dois grupos – 5,0% no grupo ácido tranexâmico e 3,0% no grupo placebo. 

 

O que podemos inferir?  

O uso do ácido tranexâmico não mostrou benefícios em cirurgias hepáticas. O possível motivo disso é que a maior parte do sangramento nessas cirurgias é proveniente de grandes vasos e, nesses casos, o ácido tranexâmico não consegue agir. Há uma chance de aumentar complicações gerais, apesar de, no tromboembolismo venoso, não ter sido encontrado diferença significativa. Esses desfechos não podem ser extrapolados para outras cirurgias abdominais grandes, como gastrectoias, pancreatectomias, pancreatoduodenectomias, e estudos específicos nesses casos são necessários. 

 

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