Terapia profilática por pressão negativa em feridas de laparotomia
A laparotomia mediana é uma forma de acesso à cavidade abdominal, que tem uma quantidade importante de complicações pós-operatórias, podendo ser citado as infecções de sítio cirúrgico (ISCs) como uma das principais. Essas complicações trazem transtornos à saúde e à qualidade de vida dos pacientes, além de onerar muito os sistemas de saúde.
Diversas formas são propostas para reduzir as infecções do sítio cirúrgico. A aplicação profilática de dispositivos de terapia de pressão negativa para feridas é uma delas, mas carece de dados de ensaios clínicos randomizados multicêntricos avaliando seu uso profilático em feridas após laparotomia mediana. É necessário comprovação dos seus benefícios para desenvolver um consenso em relação a esses métodos de fechamento.
Metodologia
Um ensaio clínico prospectivo randomizado irlandês, PROPEL-2, está em desenvolvimento para comparar curativos cirúrgicos padrão (grupo controle) com curativos de terapia por pressão negativa para feridas (Prevena™ e PICO™). O recrutamento dos pacientes incluirá adultos com 18 anos ou mais, submetidos a laparotomia de urgência ou eletiva. O cálculo amostral foi correspondente a 1006 pacientes em cada grupo, que serão recrutados ao longo de 36 meses.
A terapia profilática por pressão negativa em feridas
O uso da terapia profilática por pressão negativa para feridas (TPNF) foi proposto como uma nova estratégia para combater infecções crônicas de feridas e vem ganhando notoriedade nas últimas décadas.
Uma meta-análise conduzida por Sahebally et al., com 1266 pacientes, demonstrou uma redução relativa de 75% em ISCs em pacientes com ferida operatória abdominal fechada.
A justificativa para o uso de TPNF se apoia em alguns fatores: o ambiente hipóxico criado através do curativo selado diminui a carga bacteriana nos tecidos locais, facilitando assim a melhora da cicatrização de feridas. Esse ambiente hipóxico promove o aumento dos níveis de interleucinas circulantes e o aumento da expressão do fator de crescimento, que aumentam a angiogênese, a remodelação da matriz extracelular e a formação de tecido de granulação. Além disso, o uso de TPNF está associado ao aumento da estabilização e maturação da microvasculatura nos tecidos locais, aumentando o fluxo sanguíneo (particularmente nos últimos estágios da cicatrização de feridas).
Os pacientes recrutados para estudo conduzido por Davey et.al podem ser randomizados para curativo padrão (transparente e resistente à água), ou TPNF (PICO™, Prevena™, etc.).
Os curativos TPNF usam uma camada de espuma que é colocada sobre a ferida e, então, coberta com uma membrana adesiva impermeável. Um tubo selado perfura a membrana para conectar o curativo a uma bomba de sucção, levando à criação de um vácuo parcial da ferida. O primeiro curativo aplicado no final da operação é deixado no local até que a ferida esteja pronta para a retirada dos pontos em aproximadamente 7 a 10 dias.
É esperado que 15% dos participantes randomizados para curativos padrão desenvolverão uma ISC e a taxa entre pacientes recebendo TPNF profilática de uso único será de 10% (ou seja, uma redução de risco relativo de 33%, redução de risco absoluto de 5%).
Já podemos indicar TPNF para todas as laparotomias medianas?
No momento, ainda é cedo para o uso rotineiro da terapia profilática de feridas por pressão negativa. Ainda tem que se considerar vários aspectos, como custo do tratamento em relação ao benefício, disponibilidade, indicações mais precisas e resultados mais consistentes. Esperamos que o PROPEL-2 possa ser elucidativo e que traga novos horizontes no tratamento de feridas abdominais.
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