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Cirurgia8 outubro 2024

Terapia profilática por pressão negativa em feridas de laparotomia

Um ensaio clínico está em desenvolvimento para comparar curativos cirúrgicos padrão com curativos de terapia por pressão negativa para feridas.
Por Jader Ricco

A laparotomia mediana é uma forma de acesso à cavidade abdominal, que tem uma quantidade importante de complicações pós-operatórias, podendo ser citado as infecções de sítio cirúrgico (ISCs) como uma das principais. Essas complicações trazem transtornos à saúde e à qualidade de vida dos pacientes, além de onerar muito os sistemas de saúde. 

Diversas formas são propostas para reduzir as infecções do sítio cirúrgico. A aplicação profilática de dispositivos de terapia de pressão negativa para feridas é uma delas, mas carece de dados de ensaios clínicos randomizados multicêntricos avaliando seu uso profilático em feridas após laparotomia mediana. É necessário comprovação dos seus benefícios para desenvolver um consenso em relação a esses métodos de fechamento. 

 

Metodologia 

Um ensaio clínico prospectivo randomizado irlandês, PROPEL-2, está em desenvolvimento para comparar curativos cirúrgicos padrão (grupo controle) com curativos de terapia por pressão negativa para feridas (Prevena™ e PICO™). O recrutamento dos pacientes incluirá adultos com 18 anos ou mais, submetidos a laparotomia de urgência ou eletiva. O cálculo amostral foi correspondente a 1006 pacientes em cada grupo, que serão recrutados ao longo de 36 meses. 

 

A terapia profilática por pressão negativa em feridas  

O uso da terapia profilática por pressão negativa para feridas (TPNF) foi proposto como uma nova estratégia para combater infecções crônicas de feridas e vem ganhando notoriedade nas últimas décadas. 

Uma meta-análise conduzida por Sahebally et al., com 1266 pacientes, demonstrou uma redução relativa de 75% em ISCs em pacientes com ferida operatória abdominal fechada. 

A justificativa para o uso de TPNF se apoia em alguns fatores: o ambiente hipóxico criado através do curativo selado diminui a carga bacteriana nos tecidos locais, facilitando assim a melhora da cicatrização de feridas. Esse ambiente hipóxico promove o aumento dos níveis de interleucinas circulantes e o aumento da expressão do fator de crescimento, que aumentam a angiogênese, a remodelação da matriz extracelular e a formação de tecido de granulação. Além disso, o uso de TPNF está associado ao aumento da estabilização e maturação da microvasculatura nos tecidos locais, aumentando o fluxo sanguíneo (particularmente nos últimos estágios da cicatrização de feridas). 

Os pacientes recrutados para estudo conduzido por Davey et.al podem ser randomizados para curativo padrão (transparente e resistente à água), ou TPNF (PICO™, Prevena™, etc.).  

Os curativos TPNF usam uma camada de espuma que é colocada sobre a ferida e, então, coberta com uma membrana adesiva impermeável. Um tubo selado perfura a membrana para conectar o curativo a uma bomba de sucção, levando à criação de um vácuo parcial da ferida. O primeiro curativo aplicado no final da operação é deixado no local até que a ferida esteja pronta para a retirada dos pontos em aproximadamente 7 a 10 dias.  

É esperado que 15% dos participantes randomizados para curativos padrão desenvolverão uma ISC e a taxa entre pacientes recebendo TPNF profilática de uso único será de 10% (ou seja, uma redução de risco relativo de 33%, redução de risco absoluto de 5%). 

 

Já podemos indicar TPNF para todas as laparotomias medianas? 

No momento, ainda é cedo para o uso rotineiro da terapia profilática de feridas por pressão negativa. Ainda tem que se considerar vários aspectos, como custo do tratamento em relação ao benefício, disponibilidade, indicações mais precisas e resultados mais consistentes. Esperamos que o PROPEL-2 possa ser elucidativo e que traga novos horizontes no tratamento de feridas abdominais. 

 

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