Uma breve discussão sobre Hérnia de Spiegel
A Hérnia de Spiegel (HS) é definida como uma protusão da gordura pré-peritoneal ou vísceras abdominais através de um defeito na fáscia de Spiegel. Essa fáscia é formada pela aponeurose entre o músculo reto (medialmente) e a linha semilunar (lateralmente). É uma afecção rara e corresponde a cerca de 1 a 2% de todas as hérnias ventrais.
Pelo fato de serem hérnias de pequeno tamanho e serem cobertas pela aponeurose oblíqua externa e tecido adiposo abdominal, o diagnóstico pode ser desafiador e é preciso um nível de suspeição grande para identificar e conduzir adequadamente esses casos.
Um artigo recentemente publicado na Langenbeck’s Archives of Surgery conduziu uma revisão sistemática da literatura atual sobre HSs na população adulta com o objetivo de elucidar suas características e abordagem cirúrgica.
Metodologia
O estudo conduzido por Katsaros et al. analisou ensaios clínicos randomizados, coortes prospectivas e retrospectivas, estudos de caso-controle, séries de casos ou relatos de casos, publicados entre 1908 e 2024. A maioria dos artigos levantados foram americanos e publicados após 2010. Um total de 1.629 pacientes com hérnia se Spiegel foram envolvidos, sendo 58,7% (957) mulheres e 41,3% (672) homens.
Discussão
Na maioria dos casos, a hérnia de Spiegel é pequena, de cerca de 1 a 2 cm de diâmetro, com leve predileção pelo sexo feminino e apresentação durante a quarta até a sétima década de vida.
Katsaros et al. sugere que quase 6 em cada 10 pacientes portadores de HS são mulheres na sexta década de vida e com sobrepeso. Outros fatores de risco relatados incluem doença pulmonar obstrutiva crônica, distúrbios do colágeno, aumento da próstata e gestações múltiplas.
Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar dor abdominal associado a nódulo palpável ao longo da linha semilunar.
Na propedêutica, o ultrassom (USG) de parede abdominal é um exame com ótima acurácia. A tomografia computadorizada (TC) de abdome também é um excelente exame, com sensibilidade relatada em até 100% e pode confirmar a suspeita tanto clínica como em USG que possa ter gerado dúvidas.
Em relação ao tratamento, a laparoscopia é, atualmente, a mais indicada para o tratamento das hérnias de Spiegel em situações eletivas. Esse método tem menores taxas de complicações e menor período de hospitalização (2,53 ± 2.04 nas abordagens minimamente invasiva versus 6.49 ± 4.82 dias nas cirurgias abertas).
Em casos de urgência com encarceramento ou estrangulamento, a abordagem mais encontrada na literatura foi a via aberta. Mas essa indicação não é absoluta e pode ser, em parte, pelo fato de alguns artigos levantados serem de períodos anteriores à laparoscopia ou no seu início. Artigos e estudos mais modernos já colocam a laparoscopia uma boa indicação mesmo nos casos de urgência.
Em relação ao uso de telas, as diretrizes da Sociedade Europeia de Hérnia e da Sociedade Americana de Hérnia sugerem o uso de tela para o tratamento de HSs tanto na abordagem aberta quando na laparoscopia.
Suspeitou de Hérnia de Spiegel?
Diante de um paciente com dor e abaulamento na região da linha semilunar, é indicado um exame de imagem, que pode ser USG ou TC de abdome. Grande parte desses pacientes são mulheres, entre a quarta e sétima década de vida e, em geral, com sobrepeso.
Após a confirmação diagnóstica, define-se o tratamento. A laparoscopia está muito bem indicada em casos eletivos. Em caso de urgência, com encarceramento ou estrangulamento, a via, laparoscópica ou aberta, vai depender das condições clínicas do paciente e da experiência do cirurgião.
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