Antibioticoprofilaxia em pacientes com artroplastias submetidos a procedimentos dentários invasivos?
Adoção da antibioticoprofilaxia intra e pós-operatória foi a responsável por reduzir as taxas de infecção precoces após artroplastias.
A adoção da antibioticoprofilaxia intra e pós-operatória foi a principal responsável por reduzir as taxas de infecção precoces (até 3 meses de pós-operatório) após artroplastias, caindo hoje a taxas de 1 a 2%. A aparente resolução desse problema levou a um aumento da atenção sobre as infecções periprotéticas tardias (após 3 meses de pós-operatório). As infecções tardias podem resultar em remoção da prótese e amputação do membro e o custo com tratamento chega a ser 4 a 6 vezes o valor gasto na artroplastia primária. Esses processos infecciosos são a principal causa de revisão de artroplastia de joelho e a segunda principal causa de revisão das artroplastias de quadril.
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As infecções tardias são normalmente atribuídas a disseminação hematogênica de algum outro sítio anatômico e esse é o motivo de muitos ortopedistas recomendarem aos pacientes protetizados que realizem antibioticoprofilaxia ao realizar procedimentos dentários invasivos. Tal prática é responsável por onerar os gastos com saúde e gerar resistência bacteriana. Entretanto, há escassez de dados acerca dessa prática, sem relato de ensaio clínico randomizado comprovando sua eficácia. Além disso, estudos anteriores demonstraram que microrganismos da flora oral correspondem a menos de 10% das infecções periprotéticas.
O estudo
Foi publicado esse mês no Journal of the American Medical Association (JAMA) um estudo de coorte com o objetivo de determinar associação entre infecção periprotética tardia e procedimentos dentários invasivos. Foram pesquisados nas bases de dados de atendimentos na Inglaterra admissões hospitalares com o CID-10 T84.5 (inflamação e infecção devido a próteses articulares internas) entre dezembro de 2011 e março de 2017. Foram colhidos de cada paciente dados pessoais e informações clínicas de prontuários, incluindo ocorrência de procedimentos dentários até 3 meses antes do episódio de infecção.
Foram encontrados 9.427 pacientes admitidos com infecções periprotéticas e com registros de procedimentos dentários, sendo assim incluídos no estudo (média [desvio padrão] de idade, 67,8 [13,1] anos), incluindo 4897 (52,0%) homens e 4529 (48,0%) mulheres. Destes, 2385 (25,3%) tinham próteses de quadril, 3168 (33,6%) de joelho, 259 (2,8%) outras próteses e 3615 (38,4%) tipos de próteses desconhecidas. Não houve associação temporal significativa entre procedimento dentário invasivo e infecção periprotética tardia subsequente. De fato, houve uma menor incidência de procedimentos dentários invasivos nos 3 meses anteriores às infecções periprotéticas (taxa de incidência, 0,89; IC 95%, 0,82-0,96; P = 0,002).
Conclusão
Os achados do estudo sugerem que não há evidência para a prescrição de antibioticoprofilaxia antes de procedimentos dentários em pacientes com artroplastias. O uso indiscriminado de antibiótico representa um custo desnecessário e gerador de efeitos adversos aos pacientes e resistência bacteriana.
Referências bibliográficas:
- Thornhill MH, Crum A, Rex S, Stone T, Campbell R, Bradburn M, Fibisan V, Lockhart PB, Springer B, Baddour LM, Nicholl J. Analysis of Prosthetic Joint Infections Following Invasive Dental Procedures in England. JAMA Netw Open. 2022 Jan 4;5(1):e2142987. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2021.42987.
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