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Infectologia7 janeiro 2022

Novas características clínicas na síndrome Covid-19 nas infecções pela variante Ômicron

O mundo entrou em alerta sobre os riscos para a população mundial frente ao surgimento de variantes do coronavírus e a síndrome Covid-19.

Por Rafael Duarte

Após a descrição da nova variante de SARS-CoV-2 publicada em 24 de novembro de 2021, denominada Ômicron (B.1.1.529), durante a quarta onda de casos da síndrome Covid-19 na África do Sul, o mundo entrou em novo alerta sobre os novos riscos para a população mundial frente ao surgimento de novas estirpes virais no coronavírus pandêmico, mesmo para os indivíduos vacinados. O alto número de mutações na espícula viral elevou as preocupações quanto ao potencial capacidade dessa nova variante em escapar dos alvos vacinais e elevada propriedade de disseminação.

Desconhecidos também ainda são os efeitos clínicos das infecções pela variante ômicron. Alguns dados publicados até o momento esclarecem alguns aspectos relacionados aos aspectos clínicos observados na infecção pela nova variante de SARS-CoV-2. Descrevemos abaixo alguns dos principais achados divulgados até o momento.

síndrome Covid-19

Ômicron no Reino Unido

O governo do Reino Unido têm descrito inúmeros casos de infecção pela estirpe ômicron no território inglês. E os estudos baseados nas observações até o momento descrevem os sinais e sintomas abaixo como mais comuns na nova síndrome Covid-19 associada a essa nova variante (Iacobucci, 2021). Em sua maioria correspondem a um quadro influenza-like. São eles:

  • Coriza;  
  • Cefaleia intensa holocraniana; 
  • Fadiga (leve ou moderada); 
  • Mialgia; 
  • Congestão nasal; 
  • Odinofagia. 

O quadro de febre, tosse, anosmia/disgeusia, comumente descrito nas infecções pela variante alfa de SARS-CoV-2 não foi frequente, mas permanecem na lista de sinais e 

sintomas que sugerem síndrome Covid-19 de forma geral. Por outro lado, não há distinção significativa no quadro clínico que permita diferenciar as infecções pela variante delta das infecções pela ômicron. Adicionalmente, o governo inglês ressalta que qualquer sintomático respiratório, frente ao cenário epidemiológico que enfrentamos atualmente, deve-se descartar infecção por SARS-CoV-2 até que se prove o contrário. É importante lembrar que outros sinais e sintomas adicionais também já foram descritos e podem ser verificados em conteúdo específico no Whitebook.

A África do Sul apresenta um histórico atual de quatro ondas de casos de Covid-19:  

  • Junho a agosto de 2020: Variante ancestral; 
  • Novembro de 2020 a janeiro de 2021: Variante beta; 
  • Maio a setembro de 2021: Variante delta;
  • Novembro de 2021 até a data atual: Coincidente com a descrição da variante ômicron.

Estudo sobre síndrome Covid-19

Em estudo publicado recentemente, Maslo et al. (2021) avaliaram pacientes assistidos em 49 hospitais (> 10.000 leitos) na África do Sul rastreados por teste laboratorial (PCR ou rápido) à detecção de SARS-CoV-2 em nasofaringe e com resultado positivo (média de 26% de positividade dentre os avaliados) até 20 de dezembro de 2021. Tais casos positivos foram incluídos para a comparação de características clínicas apresentadas entre os indivíduos nas quatro ondas de Covid-19 descritas, baseado em dados obtidos dos prontuários. O resumo das características podem ser vistos na tabela abaixo:  

Tabela 1. Resumo das características dos pacientes admitidos com Covid-19 confirmada por teste laboratorial nas quatro ondas na África do Sul.

 

No.(%) de pacientes 

Pacientes Covid-19 tratados Onda 1  

3875  

Onda 2  

4632  

Onda 3  

6342  

Onda 4  

2351 

Pacientes Covid-19 admitidos 2628 (67,8%)  3198 (69,0%)  4400 (69,3%)  971 (41,3%) 
Idade em anos  

(mediana – IQR) 

53 (21,75)  54 (21)  59 (24)  36 (32) 

 

Sexo F/M  1337/1291  1657/1541  2035/2365  590/381 
Pacientes com  

comorbidades 

1472 (56,0%)  1868 (58,4%)  2311 (52,5%)  227 (23,3%) 
Síndrome respiratória aguda na admissão 1909 (72,6%)  2783 (87,0%)  4013 (91,2%)  307 (31,6%) 
Oxigenioterapia  

implementada 

2119 (80,3%)  2624 (82,0%)  3260 (74,0%)  171 (17,6%) 
Ventilação mecânica necessária 431 (16,4%)  259 (8,0%)  548 (12,4%)  16 (1,6%) 
  • Admissão aos cuidados intensivos: 1104 (42%) 1172 (36,6%) 1318 (29,9%) 180 (18,5%)  
  • Duração da internação em dias (mediana – IQR)  :  8,9 (9) 7,8 (8) 7 (9) 3 (3)  
  • Óbitos: 520 (19,7%) 790 (25,5%) 1284 (29,1%) 27 (2,7%) Status vacinal  
  • Vacina não disponível (VND)
  • VND sem registros: 235 (24,2%)  
  • Não vacinados VND VND Sem registros 645 (66,4%) 
  • Desconhecido  
VND  VND  Sem registros  91 (9,4%) 

Como pode-se observar nos dados apresentados, na onda 4 de infecções por SARS-CoV-2 os pacientes foram caracteristicamente mais jovens, com maior proporção de mulheres, com menor número de comorbidades e menor incidência de síndrome respiratória aguda na admissão. A maior proporção dos admitidos foi de pacientes não vacinados (66,4%).

Leia também: Variante Ômicron em crianças: o que sabemos até o momento?

Sugere-se que há um padrão clínico distinto entre os pacientes infectados nessa fase precoce da onda 4, quando comparado com aqueles assistidos em ondas anteriores. Estima-se que a variante ômicron corresponda a 81% das variantes isoladas em novembro de 2021 e 95% daquelas obtidas em dezembro do mesmo ano. Com base nesses achados, antes de concluir que a variante ômicron apresenta menor patogenicidade, deve-se considerar ressalvas quanto a existência atual de imunidade natural adquirida em ondas anteriores por grande parte dos expostos (> 50% da população) em nova infecção por SARS-CoV-2 e o status vacinal como favorável (44,3% da população estava vacinada na África do Sul.  

Detalhes adicionais sobre esses resultados podem ser vistos nas referências abaixo. 

Referências bibliográficas:

  • Iacobucci GCovid-19: Runny nose, headache, and fatigue are commonest symptoms of omicron, early data show doi:10.1136/bmj.n3103
  • Maslo C, Friedland R, Toubkin M, Laubscher A, Akaloo T, Kama B. Characteristics and Outcomes of Hospitalized Patients in South Africa During the COVID-19 Omicron Wave Compared With Previous Waves. JAMA. Published online December 30, 2021. doi:10.1001/jama.2021.24868

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