O estudo ADVOR, apresentado no Congresso europeu (ESC 2022), teve como objetivo avaliar se a utilização de acetazolamida associada à terapia padrão com diuréticos de alça via endovenosa levaria a maior sucesso na melhora da congestão em pacientes com insuficiência cardíaca (IC).
Foi um estudo multicêntrico, randomizado, placebo controlado e duplo cego, que incluiu pacientes com IC descompensada com pelo menos um sinal de sobrecarga volêmica (edema, derrame pleural ou ascite) confirmado por exame de imagem (radiografia ou ultrassonografia de tórax e abdome) com mais de um mês de uso de diuréticos de alça e NT-próBNP > 1000pg/mL ou BNP > 250pg/mL. Os critérios de exclusão eram uso prévio da medicação, uso de iSGLT2 (a medicação não era recomendada de rotina no início do estudo), pressão arterial sistólica menor que 90 mmHg e TFG menor que 20ml/min.
Em relação a avaliação da congestão, os médicos foram treinados para cálculo de um escore de congestão, utilizado para definição do tempo de tratamento e avaliação do desfecho.
O desfecho primário foi sucesso na melhora da congestão em 3 dias e o desfecho secundário foi a duração da internação e mortalidade ou internação por IC em 3 meses de seguimento.
A idade média dos pacientes foi 78,5 anos no grupo placebo e 77,9 no grupo acetazolamida, a fração de ejeção era 43% nos dois grupos, a taxa de filtração glomerular 38 no grupo placebo e 40 no acetazolamida e o NT-proBNP de 6483 no grupo placebo e 5600 no acetazolamida. Comparado a outros estudos de IC, esses pacientes eram mais velhos e com níveis maiores de NT-proBNP, o que representa um grupo de pacientes mais graves.
A dose de 500mg endovenosa associada ao diurético de alça padrão mostrou redução importante da congestão em três dias (46% mais chance de redução da congestão, com p = 0,0009), sendo que houve melhora em 42,2% do grupo acetazolamida e em 30,5% do grupo placebo. Esse benefício ocorreu em todos os subgrupos e o NNT foi de 8,5.
Além disso, pacientes que fizeram uso da medicação tiveram menor tempo de permanência no hospital e, na alta, a taxa de sucesso de melhora da congestão foi de 78,8% no grupo acetazolamida e 62,5% no grupo placebo, com RR 1,27, p = 0,0001 e NNT = 6. Ou seja, um resultado que mostra grande benefício em melhora de congestão na alta, que tem relação com menor taxa de reinternação por IC. Além disso, esse beneficio foi incremental, com benefício desde o primeiro dia de uso e aumento desse benefício ao longo do tempo.
Esse foi o maior estudo que mostrou benefício do uso de diurético em melhora de congestão em pacientes com IC agudamente descompensada e com utilização de uma medicação barata, fácil de usar, segura e bastante eficaz.
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