Os resultados do estudo EAST-AFNET 4 foram publicados ontem e apresentados no congresso virtual da European Society of Cardiology (ESC 2020). O racional era: será que controlar o ritmo dos pacientes com fibrilação atrial (FA) recentemente diagnosticada (menos de 1 ano) reduz o risco de complicações cardiovasculares secundárias à doença?
Controle do ritmo na fibrilação atrial
Para o estudo, foram incluídos quase 3 mil pacientes de 11 países europeus, randomizados de forma aberta, com um seguimento médio de 5 anos.
Foram excluídos pacientes com baixo risco de complicações de FA. Como assim? Eu explico. O estudo só incluiu pacientes maiores de 75 anos, ou com AVC prévio ou com dois dos critérios a seguir: >65 anos, sexo feminino, diabetes, insuficiência renal (estágio 3 ou 4), insuficiência cardíaca, hipertrofia ventricular esquerda (>15mm), hipertensão e DAC grave.
Todos os pacientes recebiam anticoagulação e medicamentos para controle de frequência, de acordo com as recomendações. Só que:
- No braço intervenção, o investigador deveria controlar o ritmo, ou seja, reverter para ritmo sinusal assim que possível. As opções poderiam ser cardioversão química, elétrica ou ablação por radiofrequência;
- No braço controle, só eram utilizadas medicações para controle da frequência e antiarrítmicos somente para alívio de sintomas.
O objetivo primário era composto. Entrava morte por causas cardiovasculares, AVC isquêmico ou hemorrágico, internação por IC ou DAC aguda e a taxa de dias internado por ano, por paciente. O objetivo secundário incluía avaliação da qualidade de vida e função cognitiva ao longo do tempo ou após cada evento do objetivo primário.
Também houve análise de desfecho de segurança, ou seja, foram somados eventos adversos imputados à intervenção de controle de ritmo, como morte por qualquer causa e AVC.
Vamos aos resultados
- Mais de 50% dos pacientes já estavam em ritmo sinusal no momento da randomização;
- Ocorreram menos eventos no desfecho composto no braço intervenção, de forma estatisticamente significativa (HR 0,79 e p de 0,005);
- Não houve diferença no número de internações ou nas avaliações de qualidade de vida e função cognitiva. Nem mesmo nos desfechos de segurança.
Em suma:
- Apesar de ser um estudo aberto e com desfecho “soft”, a mensagem é que reverter precocemente o ritmo de pacientes recentemente diagnosticados, em uma realidade em que a ablação evoluiu bastante, principalmente em relação aos riscos do procedimento, parece reduzir as complicações secundárias à doença.
- Ponto para quem acredita que o controle de ritmo mais agressivo e precoce seja a melhor alternativa de tratamento nesse perfil de pacientes. As diretrizes também caminham nesse sentido.
Mais do ESC 2020:
- Empaglifozina pode reduzir mortalidade e hospitalização por insuficiência cardíaca?
- Nova droga para o tratamento da cardiomiopatia hipertrófica
- Qual o melhor esquema antitrombótico em pacientes submetidos ao TAVI?
- Edoxabana é eficaz para prevenção de AVC naqueles com FA e alto risco de sangramento?
- Início precoce da colchicina pode alterar desfecho no infarto agudo do miocárdio?
- Trimetazidina pode trazer benefícios após a intervenção coronariana percutânea?
- Confira as mensagens rápidas da nova diretriz de fibrilação atrial
- Colchicina reduz eventos cardiovasculares em portadores de doença coronária crônica
- Dapaglifozina pode reduzir desfechos renais em pacientes com doença renal crônica?
- Cardiopatas com Covid-19 devem manter o uso de IECA e/ou BRA?
Referência bibliográfica:
- Kirchhof P, et al. Early Rhythm-Control Therapy in Patients with Atrial Fibrillation. The New England Journal of Medicine. August 29, 2020. DOI: 10.1056/NEJMoa2019422. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2019422
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.