O congresso da European Society of Cardiology (ESC 2020) está rolando online para todo o mundo. No evento, foi publicada e apresentada a nova diretriz de fibrilação atrial (FA). Selecionamos os destaques para você!
Nova diretriz de fibrilação atrial
- Triagem: deve ser encorajada em pacientes com fatores de risco como idade acima de 65 anos e hipertensos de longa data. Mas deve-se orientar bem o paciente sobre como e quando fazer a triagem, principalmente se for por meio de monitores “wearables”.
- Diagnóstico: independente do dispositivo utilizado, é considerado diagnóstico de FA qualquer registro da arritmia com pelo menos 30 segundos. Atentar para o aumento de falsos positivos por conta de artefatos e erros diagnósticos de monitores mais recentes, como os chamados “wearables”. E não se sabe ao certo a segurança e aplicabilidade desses dispositivos a longo prazo.
- Classificação: além da distinção temporal (paroxística, persistente e permanente), é sempre necessário classificar o paciente com FA segundo o risco de tromboembolismo (usando o escore CHA2DS2-VASc), a presença ou não de sintomas diretos, de comorbidades e a “carga” de FA, ou seja, a quantidade e a frequência das crises.
- Tratamento geral: a tomada de decisão, mais do que nunca, deve ser compartilhada com o paciente e/ou familiares. A FA sempre está associada a uma série de outras doenças e, portanto, o tratamento deve visar, sobretudo, a qualidade de vida do paciente, inclusive com a inclusão de questionários de autoavaliação do paciente na rotina de acompanhamento.
- Anticoagulação: a preferência é pelos DOACs para todos os homens com escore CHA2DS2-VASc acima de 2 pontos e mulheres acima de 3 pontos. Varfarina somente em pacientes com prótese valvar metálica ou estenose mitral moderada a grave (INR entre 2 e 3, e TTR acima de 70%. Escores de risco de sangramento não servem para tomada de decisão e sim para orientar o seguimento.
- Cardioversão: Usar DOACs ou varfarina por pelo menos três semanas ou ecocardiograma transesofágico sem evidência de trombo, feito a qualquer tempo após o início da anticoagulação. Manter anticoagulação após cardioversão, mesmo se estiver em ritmo sinusal, e reavaliar suspensão a longo prazo.
- Ablação: não é necessário interromper anticoagulação, nem fazer ponte com varfarina. A manutenção da anticoagulação após ablação é de no mínimo dois meses, mas depende do escore de CHA2DS2-VASc. Deve-se oferecer ablação como primeira linha de tratamento em pacientes após uma falha de tratamento com antiarrítmicos ou com suspeita de taquicardiomiopatia por FA.
- Após angioplastia: para qualquer tipo de stent, suspender aspirina dentro de sete dias se procedimento eletivo não complicado. Continuar dupla terapia com P2Y12 (de preferência clopidogrel) e DOAC por até 12 meses. Se o risco de trombose de stent é baixo e o risco de sangramento é alto, pode-se optar pela suspensão do clopidogrel após seis meses e manter somente DOAC.
- Estilo de vida: perda de peso é fundamental em pacientes com FA, principalmente que vão para ablação. Controle de fatores de risco como apneia do sono, etilismo crônico e sedentarismo devem fazer parte do tratamento.
- Atividade física: atividades competitivas de alta intensidade devem ser desaconselhadas. Já atividades de leve a moderada intensidade podem contribuir para qualidade de vida e controle dos fatores de risco.
Espero ter ajudado, mas recomendo que leiam o texto completo assim que possível.
Lembre-se, por fim, que diretrizes são feitas para que tenhamos um rumo a seguir. Não existe receita de bolo em medicina. Cada paciente tem suas particularidades, e isso não deve ser ignorado na tomada de decisão.
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Referência bibliográfica:
- Hindricks G, et al. 2020 ESC Guidelines for the diagnosis and management of atrial fibrillation developed in collaboration with the European Association of Cardio-Thoracic Surgery (EACTS): The Task Force for the diagnosis and management of atrial fibrillation of the European Society of Cardiology (ESC) Developed with the special contribution of the European Heart Rhythm Association (EHRA) of the ESC. European Heart Journal, ehaa612. 29 August 2020. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehaa612
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