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Cardiologia16 julho 2024

ECG como método de rastreio de DCV

O eletrocardiograma (ECG) é um dos métodos propostos para rastreio em pacientes assintomáticos, já que é acessível e não invasivo.

As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte no mundo e identificar pacientes de alto risco possibilita atuar preventivamente, reduzindo a ocorrência de eventos cardiovasculares (CV). O eletrocardiograma (ECG) é um dos métodos propostos para rastreio em pacientes assintomáticos, já que é acessível e não invasivo.

Porém, este método pode não ser custo-efetivo, já que achados incidentais parecem aumentar a realização de outros exames complementares sem necessariamente melhorar os desfechos. As evidências sobre o assunto são insuficientes, porém as principais diretrizes não recomendam ECG de rotina para pacientes de baixo risco CV.

Recentemente foi realizado um estudo de base populacional no Japão com objetivo de investigar se há relação entre alterações do ECG e DCV em pacientes assintomáticos.

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ECG

Métodos do estudo e população envolvida

Foi estudo de coorte com dados nacionais do Japão, no qual os seguros de saúde realizam ECG em trabalhadores assim que são contratados e anualmente para os que tem 35 anos ou mais. Quando são encontradas alterações, são orientados a procurar avaliação médica.

Os dados foram incluídos de 2015 a 2022 e os que tinham DCV já diagnosticada, alterações no ECG antes de 2015 ou dados faltantes foram excluídos. O risco cardiovascular foi avaliado pelo escore Suita, desenvolvido para a população japonesa e que classifica o paciente em baixo risco quando 40 e risco moderado quando > 40. O desfecho primário foi morte por todas as causas e internação por DCV.

Resultados

Foram incluídos mais de 3,5 milhões de pacientes com idade média de 47,1 anos, 33,4% do sexo feminino, 14,1% com hipertensão, 3,6% com diabetes e 8,1% com dislipidemia. O ECG era normal em 77,7%, 1 alteração menor foi vista em 16,8%, 2 alterações menores em 2,9% e 1 alteração maior em 1,5%. Os que tinham alteração maior eram mais velhos e tinham mais comorbidades.

No seguimento médio de 5,5 anos, o desfecho primário ocorreu em 4,2%. As alterações do ECG foram associadas ao aumento da incidência de mortalidade e internações por DCV, que no geral ocorreu em 103,7 por 10000 pessoas-ano.

Já a incidência de acordo com o ECG foi de 92,7 quando ECG normal, 128,5 quando havia 1 alteração menor, 159,7 quando 2 ou mais alterações menores e 266,3 por 10 mil pessoas-ano quando 1 alteração maior era encontrada.

Esse resultado foi significativo tanto para risco cardiovascular baixo quanto moderado-alto e se manteve significativo mesmo após ajustes para possíveis confundidores e ao se analisar os desfechos separadamente.

Ainda, a presença e número de alterações menores tiveram associação com surgimento de alteração maior comparado a quem tinha ECG sem alterações. O ecocardiograma foi realizado em 2,6% dos que tinham ECG normal, 4,3% dos que tinham 1 alteração menor, 5,6% dos que tinham 2 ou mais alterações menores e 26% dos que tinham 1 alteração maior. Coronariografia foi realizada em 0,2% nos com ECG normal, 0,3% nos com 1 alteração menor, 0,4% nos com 2 ou mais alterações menores e 1,2% nos com alteração maior.

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Comentários e conclusão

Este estudo avaliou registros de ECG de mais de 3,5 milhões de pacientes em idade produtiva e encontrou associação de alterações no ECG e desfechos clínicos, com maior ocorrência de eventos. Além disso, a presença e número de alterações menores teve relação com surgimento de alterações maiores no seguimento.

As diretrizes atuais não recomendam a realização de ECG de rotina, porém são baseadas em estudos pequenos e populações mais selecionadas, além de incluir alterações específicas do ECG e desfechos clínicos selecionados.

Uma limitação deste estudo é que quando a alteração maior era encontrada, o paciente era orientado a procurar um médico, porém de forma opcional, e uma grande parte deles não seguiu esta recomendação. Ainda, o estudo não avaliou se essas alterações e possíveis intervenções reduziriam o risco ou poderiam levar a tratamento e outras intervenções desnecessárias. O ideal é que o paciente seja submetido a uma estratégia de investigação e tratamento adequados.

Um ponto importante é que boa parte das alterações encontradas não são resolvidas com intervenções, apesar de ter relação com maior risco. Como conclusão, temos que mais estudos são necessários para avaliar o papel do ECG no rastreamento de rotina de pacientes assintomáticos, com objetivo de prevenir eventos cardiovasculares e definir estratégias de investigação e tratamento quando as alterações forem encontradas.

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Referências bibliográficas

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