O estudo CIAO-ISCHEMIA selecionou 208 pessoas que inicialmente foram excluídas do trial principal ISCHEMIA por terem menos de 50% de obstrução coronariana (ou seja, selecionaram pacientes que apresentaram isquemia miocárdica mas com doença arterial coronariana não obstrutiva). O objetivo foi estudar seus sintomas e resultados em testes de estresse no início e depois de um ano.
Os resultados foram comparados aos dos 1.079 participantes do trial ISCHEMIA com doença obstrutiva documentada, e apresentados no congresso virtual do American College of Cardiology (ACC 2020).
Angina e DAC não obstrutiva
No início, os dois grupos tiveram o mesmo grau de isquemia nos testes de estresse, embora os pacientes do grupo CIAO não apresentassem obstrução coronariana. Em relação aos sintomas, os participantes do CIAO tiveram mais angina – 17% deles com angina semanalmente ou ainda mais frequente, comparado com 4% dos participantes do ISCHEMIA. Além disso, os pacientes do grupo CIAO também tiveram mais angina no mês anterior – 41% do grupo CIAO não reportou angina no mês anterior, comparado com 62% do grupo ISCHEMIA.
Depois de um ano, nos pacientes do grupo CIAO, o ecocardiograma se tornou normal em metade dos pacientes, mas em 45% o resultado foi o igual ou pior: os sintomas de angina melhoraram em 42% e pioraram em 24%! O número de medicações para controle da angina permaneceu o mesmo.
Conclusões
A autora principal do estudo destaca, então, que não devemos simplesmente “dar alta” aos nossos pacientes com angina apenas porque eles não apresentam doença coronariana obstrutiva, já que ao longo estudo os pacientes apresentaram piora dos sintomas e dos exames de estresse mesmo sem doença obstrutiva. Ele ressalta que estudos anteriores já mostraram que esses pacientes têm risco mais alto para doença cardiovascular do que a população em geral (que não refere angina), mesmo esse risco sendo menor do que o dos pacientes com DAC obstrutiva.
Ficamos à espera dos próximos estudos para nos esclarecer a dúvida, então, de quais são os fatores que contribuem para os sintomas desses pacientes que não têm placas obstrutivas. Assim, poderemos traçar melhores estratégias para tratar sua doença coronariana de forma eficiente.
Observação: Vale destacar que no grupo CIAO 66% dos participantes eram mulheres; no grupo ISCHEMIA, esse número era de 26%. Estudos anteriores já relataram que as mulheres experienciam mais angina e alteram mais os exames de estresse do que os homens, mesmo não tendo grandes placas obstrutivas nas artérias (aqui devemos nos lembrar de como a doença cardíaca se desenvolve de forma distinta na mulher e no homem).
Veja mais do ACC 2020:
- Vericiguat: nova opção de droga para ICFER
- Burnout na cardiologia: mulheres são mais afetadas que os homens
- Estudo VOYAGER-PAD: rivaroxabana para doença arterial periférica
- Rivaroxabana pode reduzir eventos cardiovasculares em pacientes com aterosclerose?
- Oclusões crônicas tratadas com angioplastias em pacientes pós-cirurgia de revascularização
- Denervação renal volta como opção no tratamento da hipertensão
- Novas indicações para NOACs conhecidos
- Risco x benefício do uso de aspirina nos pacientes com FA pós-SCA ou angioplastia
- Paciente com submetidos a TAVI com indicação de anticoagulação, o que fazer?
- TAVI é um procedimento seguro para pacientes com válvula aórtica bicúspide?
- Ablação alcoólica da veia de Marshall para fibrilação atrial persistente funciona?
- Monoterapia com ticagrelor pode ser benéfica após angioplastia em pacientes com SCA?
- CIAO-ISCHEMIA: como agir com pacientes com angina e DAC não obstrutiva?
- Novos dispositivos de MitraClip mostram boa eficácia
- Fazer ou não CAT no paciente com doença renal crônica?
Referência bibliográfica:
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.