Um estudo publicado na edição de abril de 2025 da Pediatrics comparou a precisão diagnóstica de procalcitonina associada à proteína-C-reativa (PCT+PCR) versus procalcitonina associada à contagem absoluta de neutrófilos (PCT+ANC) para identificação de infecções bacterianas invasivas (IBI), como bacteremia e meningite bacteriana, em lactentes jovens com febre.
Introdução
Lactentes febris com idade igual ou inferior a 60 dias são mais vulneráveis à IBI, como bacteremia e meningite bacteriana. A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda punção lombar (PL), antibióticos empíricos e hospitalização para todos os lactentes entre 8 e 21 dias de vida com febre. Por outro lado, para lactentes de 22 a 60 dias, deve-se realizar uma estratificação de risco utilizando marcadores inflamatórios (MI), sendo de melhor precisão diagnóstica a procalcitonina (PCT).
A AAP recomendava que a PCT fosse obtida juntamente com a ANC ou a PCR. Posteriormente, as diretrizes passaram a recomendar a coleta de PCT com ANC [essa recomendação semelhante à regra preditiva da Pediatric Emergency Care Applied Research Network (PECARN), que também inclui os resultados de EAS (elementos anormais do sedimento), embora esta regra não tenha sido desenvolvida especificamente para IBI].
Metodologia
Os pesquisadores conduziram uma análise secundária de casos completos envolvendo lactentes previamente saudáveis, nascidos a termo (≥ 37 semanas de gestação), com idade entre 8 e 60 dias. O estudo utilizou dados prospectivos de melhoria da qualidade em um departamento de emergência pediátrica terciária em Montreal, Canadá, entre junho de 2020 e setembro de 2024.
Para todos os bebês com temperatura retal > 38,0 °C, medida em casa ou na triagem da emergência, foram coletados dados clínicos, laboratoriais e de seguimento telefônico padronizados. Além disso, quase todos os lactentes realizaram exames de MI, EAS e culturas de sangue e de urina; PL era realizada a critério médico.
Foram excluídos lactentes com doença crítica:
- Maior nível de gravidade na triagem;
- Pacientes que necessitaram de intervenções de emergência, como uso de vasopressores ou intubação endotraqueal;
- Pacientes admitidos em unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP);
- Avaliação anormal no Triângulo de Avaliação Pediátrica.
O desfecho primário consistiu na identificação de IBI determinada pela revisão dos resultados das culturas microbiológicas e pelo seguimento telefônico realizado mais de 14 dias após a alta hospitalar. A acurácia na detecção de IBI foi avaliada utilizando os limites de marcadores inflamatórios recomendados pela AAP:
- PCT ≤ 0,5 ng/mL;
- PCR ≤ 20,0 mg/L;
- ANC ≤ 4.000/mm³.
As características dos testes (sensibilidade, especificidade e valor preditivo negativo [VPN]) foram analisadas com base em três estratégias de estratificação de risco:
- PCT e PCR;
- PCT e ANC;
- PCT, ANC e EAS.
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Resultados
O estudo incluiu 2.032 lactentes com febre:
- > 21 dias de vida: 1.703 (83,8%);
- Sexo masculino: 1172 (57,7%);
- 29 (1,4%) apresentaram IBI, sendo 6 (0,3%) com meningite bacteriana e 23 (1,1%) com bacteremia.
Os resultados mais relevantes foram:
- Todas as estratégias apresentaram sensibilidade de 100% e VPN, sem IBIs não detectadas entre lactentes de 22 a 60 dias de vida e em geral;
- PCT+PCR: classificou corretamente a maioria dos lactentes como de baixo risco. Lactentes > 21 dias apresentaram a maior especificidade em todas as faixas etárias (85,6%);
- PCT+ANC: sua especificidade entre bebês com mais de 21 dias foi de 73,7%. Adicionando o EAS, a especificidade foi de 62%.
Conclusão: procalcitonina associada à proteína-C-reativa (PCT+PCR)
O estudo mostrou que todas as estratégias baseadas em PCT apresentaram sensibilidade e VPN perfeitos. Dessa forma, esses resultados reforçam a segurança das recomendações da AAP.
A combinação PCT+PCR melhorou significativamente a especificidade em comparação com PCT+ACN. Ao adicionar o EAS, houve redução da especificidade para IBI, apesar da necessidade de se descartar infecção do trato urinário (ITU). Portanto, o EAS deve ser coletado em lactentes > 21 d para avaliar o risco de ITU. Os achados aqui corroboram a recomendação da AAP para que lactentes > 21 dias sejam avaliados quanto ao risco de ITU por EAS. No entanto, as decisões sobre antibióticos e PL para lactentes com EAS alterado devem ser tomadas separadamente, utilizando MI. Por fim, o VPN de todas as estratégias baseadas em PCT foi excelente para descartar IBI.
Comentário
As limitações do estudo incluem o fato de ser de único centro e ter número relativamente pequeno de IBI. Todavia, os resultados sugerem que, se validados externamente, a combinação procalcitonina associada à proteína-C-reativa (PCT+PCR) poderia se tornar uma alternativa preferível para reduzir procedimentos invasivos, exposição desnecessária a antibióticos e hospitalizações em lactentes jovens com febre.
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