A asma é a doença crônica mais comum na população pediátrica. Somente nos Estados Unidos, acomete aproximadamente 4,7 milhões de crianças. Na faixa etária de 5 a 19 anos, é responsável por cerca de 0,29 mortes por 100.000 habitantes e 209 anos de vida ajustados por incapacidade (disability-adjusted life years – DALYs) por 100.000 habitantes e no mundo todo. Infelizmente, as exacerbações agudas de asma são uma das principais causas de utilização de serviços de saúde relacionados à doença.
O tratamento da asma inclui o uso de medicamentos de primeira linha, como os beta-2-agonistas de curta duração inalatórios e corticosteroides sistêmicos. Em caso de crises moderadas a graves, a adição de brometo de ipratrópio inalatório aos beta-2-agonistas é indicada. Todavia, terapias de segunda linha em crises refratárias ao manejo farmacológico inicial são bastante variáveis, dentre outros fatores, devido à escassez de evidências robustas. Estas terapias incluem broncodilatadores intravenosos (IV), sulfato de magnésio (MgSO4), terbutalina ou aminofilina, assim como nebulizações com MgSO4, Heliox e ventilação mecânica não invasiva (VNI) ou invasiva (VMI). É importante lembrar que há divergências em várias diretrizes.
O uso de MgSO4 ainda é muito controverso. Revisões sistemáticas prévias mostraram que sua utilização pode reduzir as admissões hospitalares em pediatria e melhorar a função pulmonar. Por outro lado, uma revisão da Cochrane mostrou que o número e o tamanho dos estudos limitam as evidências sobre eficácia e segurança deste agente farmacológico. Para atualizar as evidências sobre a eficácia e segurança do MgSO4 IV como segunda linha de tratamento em crianças com crises agudas de asma, uma recente revisão sistemática com metanálise foi conduzida por pesquisadores da Polônia, Estados Unidos e Chile e foi publicada no Paediatric Respiratory Reviews.
Metodologia
A busca de dados para a revisão sistemática foi feita em cinco bases desde sua criação até 04 de abril de 2023 (PubMed, Embase, Web of Science, Latin American & Caribbean Health Sciences Literature [LILACS] e Cochrane Library). Os critérios de inclusão foram:
- Ensaio clínico randomizado (randomized controlled trial – RCT);
- Idade inferior a 18 anos;
- Estudos com pacientes em exacerbação grave de asma;
- Uso de MgSO4 IV como terapia farmacológica de segunda linha na emergência ou hospital, comparado a qualquer um dos seguintes grupos controle: placebo, nenhuma intervenção ou qualquer outro tratamento padrão.
Análises secundárias de RCT não elegíveis, estudos retrospectivos, estudos sem procedimentos de randomização, estudos não realizados em humanos, publicações duplicadas e múltiplas publicações relacionadas ao mesmo grupo de estudo foram excluídos da revisão. Quando houve necessidade de mais dados ou esclarecimentos adicionais, os autores correspondentes foram contatados.
Os desfechos primários foram a frequência e a duração da hospitalização, além da mudança no escore de gravidade. Já os desfechos secundários consistiram no percentual de aumento em pico de fluxo expiratório (PFE), taxa de readmissão hospitalar, necessidade e duração do tratamento em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) e efeitos adversos.
A metanálise não foi realizada para todos os desfechos, somente quando havia, no mínimo, dois estudos considerando o mesmo resultado quantitativo em populações semelhantes.
Resultados
Os pesquisadores incluíram 11 estudos que atenderam aos critérios finais. Os resultados obtidos mostraram que a administração de MgSO4 IV foi associada a uma redução no risco de hospitalização (OR 0,15; IC 95%: 0,03–0,73) em quatro estudos, e à melhora da função pulmonar (MD 26,77% no PEFR; IC 95%: 18,41–54,79) em dois estudos. Não houve diferenças significativas na duração da internação entre os grupos. Além disso, os eventos adversos foram raros (0,3%) — apenas um estudo descreveu a ocorrência de hipermagnesemia.
Os pesquisadores destacaram que não foi possível realizar análises agrupadas para outros desfechos devido ao pequeno número de amostra de estudos e/ou considerável heterogeneidade.
Conclusão: sulfato de magnésio IV na crise asmática em pediatria
O estudo mostrou que as crianças com crise aguda de asma na emergência e que receberam MgSO4 IV como segunda linha de tratamento apresentaram melhora na função pulmonar e 85% menos chance de internação hospitalar quando comparadas ao grupo controle.
Comentário
O sulfato de magnésio atua como relaxante muscular e tem se mostrado, de fato, muito útil no controle da crise de asma em crianças. A questão que eu observo é que os estudos em geral abordam o uso de uma dose única como segunda linha de tratamento, mas já observei na prática clínica algumas prescrições com o uso regular deste medicamento a cada 6 ou 8 horas, por exemplo, com posterior desmame. Para tanto, ainda vejo necessidade de mais estudos, especialmente devido à necessidade de monitorização dos níveis séricos de magnésio.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.