Tempo de tela e saúde mental de crianças e adolescentes
Durante a adolescência, os jovens são particularmente vulneráveis ao estresse ambiental e apresentam a maior queda na satisfação com a vida. A proliferação de dispositivos digitais trouxe novas formas de entretenimento e interação social, mas também levantou preocupações sobre seus efeitos negativos na saúde mental dos jovens. Estudos observacionais sugerem uma associação moderada entre o uso excessivo de mídia de tela e problemas de saúde mental, mas a pesquisa é inconclusiva. Uma meta-análise recente indicou que níveis elevados de uso de telas estão associados a mais problemas comportamentais. No entanto, são necessários ensaios clínicos randomizados (ECR) para avaliar os efeitos de curto e longo prazo da redução do uso de mídia de tela na saúde mental dos jovens. Um estudo realizado na Dinamarca procurou justamente investigar o impacto de uma pausa de duas semanas no uso de telas no lazer em crianças e adolescentes. Os resultados foram publicados no JAMA Network Open.
Metodologia
Reduzir o uso de telas para lazer melhora a saúde mental de crianças e adolescentes? Para responder a essa pergunta, os pesquisadores conduziram uma análise secundária pré-especificada do ECR por cluster paralelo SCREENS (Short-term Efficacy of Reducing Screen-Based Media Use). A inscrição de participantes começou em 6 de junho de 2019 e terminou em 30 de março de 2021, sendo que a análise foi efetuada entre 1º de janeiro e 30 de novembro de 2023.
Oitenta e nove famílias foram incluídas, totalizando 181 crianças e adolescentes de 10 municípios do sul da Dinamarca. Todos os procedimentos do estudo foram realizados na casa dos participantes. As famílias foram alocadas aleatoriamente para um “grupo controle” e um “grupo de redução de tela” (“grupo intervenção”). As famílias do “grupo controle” mantiveram seus hábitos de tela até concluírem as medições de acompanhamento, quando então seriam convidadas a experimentar a condição de intervenção. Os participantes alocados no “grupo intervenção” tiveram que reduzir seu uso de mídia de tela no lazer para três horas por semana ou menos por pessoa e entregar tablets e smartphones. A intervenção de redução de uso de tela de duas semanas foi projetada para garantir um alto nível de conformidade com a redução na utilização para lazer. Famílias com crianças com idade inferior a quatro anos que vivem no domicílio foram excluídas.
A diferença média entre os grupos na mudança nas dificuldades comportamentais totais, medida pelo “Strengths and Difficulties Questionnaire” no acompanhamento de duas semanas foi o principal desfecho deste ECR.
Resultados
As 89 famílias (com 181 crianças e adolescentes) foram divididas da seguinte forma:
- “Grupo controle”: 44 famílias com 95 crianças (57/95 meninas = 60%); idade média 9,5 anos;
- “Grupo intervenção”: 45 famílias com 86 crianças (42/86 meninas = 49%), idade média de 8,6 anos.
Foi observada uma diferença média com significância estatística entre ambos os grupos com relação à pontuação total de dificuldades, favorecendo a intervenção de redução do tempo de tela (-1,67; intervalo de confiança de 95% [IC95%], -2,68 a -0,67; Cohen d, 0,53). Isso significa que o escore total de dificuldades tanto emocionais quanto comportamentais diminuiu 1,67 pontos a mais (em média) no “grupo intervenção”.
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Os pesquisadores demonstraram também que as maiores melhorias foram observadas para sintomas de comportamento pró-social (diferença média entre grupos, 0,84; IC 95%, 0,39-1,30) e de internalização (sintomas emocionais e problemas com colegas; diferença média entre grupos, -1,03; IC 95%, -1,76 a -0,29). Em suma, houve um aumento de 0,84 pontos de comportamento pró-social no “grupo intervenção”, mostrando que houve interações sociais positivas. Ademais, os sintomas de internalização tiveram uma queda, em média, de 1,03 pontos a mais no “grupo intervenção”.
Conclusão: tempo de tela e saúde mental
A análise secundária do ECR SCREENS indica que a redução, envolvendo todos os membros da família, do uso de tela no tempo de lazer por um período de duas semanas pode melhorar os pontos fortes e as dificuldades comportamentais de crianças e adolescentes. Os pesquisadores mostraram que a intervenção, na verdade, teve como objetivo minimizar o uso de tela de modo geral, sem especificar as atividades. No entanto, ressaltam que pesquisas futuras devem investigar os efeitos diferenciados dos vários tipos de uso de mídia de tela e avaliar se a participação coletiva da família é essencial para os benefícios observados. Novos estudos também se fazem imprescindíveis para confirmar a sustentabilidade desses efeitos em longo prazo.
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