SBP faz alerta sobre uso de telas por crianças com autismo
O Departamento Científico de Neurologia da SBP publicou a nota “Transtorno do Espectro Autista e Telas”, sintetizada aqui.
A definição de TEA consta desde 2013 no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quinta edição (DSM-5) da American Psychiatric Association (APA) e consiste em um conjunto de condições caracterizadas por algum grau de dificuldade no convívio social, na comunicação verbal e não verbal e interesses específicos por algumas atividades executadas repetidamente. O diagnóstico de TEA vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a proporção é de 1 caso em 59 crianças.
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Tecnologias, interatividade e impacto na saúde
Há algum tempo, o uso excessivo de telas por crianças vem sendo estudado e os dados das pesquisas mostram um impacto na saúde geral da faixa etária pediátrica, levando ao desenvolvimento de condições que podem se perpetuar na fase adulta, como sedentarismo, obesidade, hipercolesterolemia, tabagismo e distúrbios cognitivos e mentais. Desde 2020, com a pandemia de covid-19, as medidas de isolamento social em todo o mundo possibilitaram um aumento expressivo no tempo de telas, especialmente por crianças e adultos jovens. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a maior parte dos estudos existentes tem focado em métodos tradicionais de mídia, como televisão e videogames. Dessa forma, acaba existindo muito menos evidências disponíveis sobre novas formas de mídia, como tablets ou outras modelos de tecnologia interativa.
Características dos pacientes com TEA:
- Funções executivas menos desenvolvidas, se esforçando mais para usar a metacognição para fornecer um esclarecimento coerente de suas experiências (a metacognição consiste em um conceito relacionado à consciência e ao automonitoramento do ato de aprender);
- Mais dificuldade com o automonitoramento e a consciência de suas reações cognitivas e emocionais. Dessa forma, podem ter uma dificuldade particular em desenvolver a consciência de como sua atenção ou comportamento está sendo influenciado por “curtidas”, tokens ou outras práticas de design persuasivos.
Impactos do uso excessivo de telas:
- Prejuízos na estrutura e no funcionamento cerebrais em indivíduos neurotípicos e encefalopatas. A exposição a telas tem sido associada ao TEA e a outros transtornos do desenvolvimento, pois afeta o relacionamento e a comunicação entre pais e seus filhos, podendo trazer poucas chances de aprendizagem para bebês e crianças pequenas em comparação às atividades sociais da vida real;
- Interfere no sono (traz prejuízos à qualidade do sono);
- Interfere em comportamentos saudáveis;
- Atrapalha o funcionamento acadêmico;
- Comportamento compulsivo, e/ou excessivo em duração;
- Aumenta o sedentarismo e, consequentemente, os riscos de obesidade, síndrome metabólica, hipertensão entre outras complicações.
Pais, crianças com TEA e as telas
Os pais, responsáveis e cuidadores de indivíduos com TEA frequentemente apresentam elevados níveis de estresse na rotina diária, sendo mais propensos a utilizar a mídia móvel para acalmar esses pacientes. Nesse caso, dependendo de quanto os pais necessitam das telas para tranquilizar as crianças nos momentos de aflição, o uso das telas pode evoluir com desfechos negativos ou positivos. No entanto, a SBP enfatiza a importância da adoção de abordagens mediadas pelos próprios pais que poderiam melhorar a sintomatologia de seus filhos ao longo do tempo.
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Conclusões da SBP
- Os pediatras devem orientar os pais e cuidadores sobre os prejuízos do uso de telas em crianças com transtornos do desenvolvimento, especialmente com TEA;
- Os pais devem ser informados sobre a consequência adversa do tempo excessivo de tela na saúde, cognição e nos desfechos comportamentais de longo prazo (um atual problema de saúde pública);
- É preciso um melhor entendimento da associação dessas experiências modificáveis referentes ao desenvolvimento neuropsicomotor com os desfechos em crianças com TEA, que poderiam proporcionar chances para moderar a predisposição genética;
- A Academia Americana de Pediatria (AAP) e a SBP já haviam indicado um planejamento da família com relação ao uso de telas por seus filhos para equilibrar o uso de mídia com comportamentos saudáveis. No entanto, não existem diretrizes específicas para TEA;
- Desfechos positivos no desenvolvimento infantil têm sido observados quando os pais estão socialmente envolvidos no desenvolvimento psicomotor de seus filhos.
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