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Psiquiatria25 março 2024

Efeito do exercício físico na depressão

Exercício físico pode ser um complemento efetivo ou um tratamento alternativo a fármacos e psicoterapia para depressão
Por Tayne Miranda
Diretrizes dos EUA, Reino Unido e Austrália recomendam atividade física como parte do tratamento para depressão. Essas diretrizes, no entanto, não fornecem informações claras e consistentes sobre a modalidade ou a quantidade de exercício que deve ser realizado.  A revisão sistemática com metanálise em rede realizada por Michael Noete e colaboradores buscou responder qual frequência e intensidade, bem como qual modalidade de exercício deve ser utilizada para tratar depressão, bem como se a recomendação deve diferir com relação a idade, sexo e gravidade do quadro depressivo. Também foram investigadas técnicas de apoio à autonomia e de mudança de comportamento que pudessem auxiliar no engajamento na atividade física. 

Método 

Ensaios clínicos randomizados que incluíam exercício como tratamento para transtorno depressivo maior (diagnosticado clinicamente ou autorrelatado através de escalas padronizadas) foram elegíveis para o estudo. Participantes com comorbidades físicas como arritmias também foram incluídos. Foram excluídos estudos com intervenção menor que uma semana.   Exercício foi definido como um movimento corporal repetitivo, planejado e estruturada feito para melhorar ou manter a aptidão física.  Os tamanhos de efeito foram calculados como as mudanças que foram além das condições de controle ativo (uma vez que mesmo nos grupos controle os escores de depressão tendem a diminuir no curso das intervenções).     Resultados  218 estudos, totalizando 495 braços e 14.170 participantes foram incluídos.   Observou-se diferenças qualitativas nas características dos participantes entre diferentes braços (algumas intervenções eram mais prescritas para pacientes com depressão grave e idosos, por exemplo), levando a crer que a alocação nos diferentes braços não foi perfeitamente aleatória, viés que foi considerado nas análises. Poucos estudos cegaram participantes e profissionais. Apesar das análises de sensibilidade indicarem que o tamanho de efeito não foi influenciado pelo viés de expectativa, as classificações de certeza de todos os braços de tratamento foram diminuídas para alto risco de viés.   Leia também: Depressão resistente em idosos: definição e abordagem Comparado com controle ativos, dança (n=107, k=5, g de Hedges= -0,96, IC 95% -1,36 a -0,56) foi associada a uma grande melhora na depressão. Foram associados a uma melhora moderada: caminhar ou correr (n=1210, k=51, g= -0,63, IC 95% -0,80 a -0,46), yoga (n=1047, k=33, g= -0,55, IC 95% -0,73 a -0,36), treino de força (n=643, k=22, g= -0,49, IC 95% -0,69 a -0,29), exercícios aeróbicos combinados (n=1286, k=51, g= -0,43, IC 95% -0,61 a -0,25) e tai chi ou qigong (n=343, k=12, g= -0,42, IC 95% -0,65 a -0,21).  Efeito moderado também foi encontrado quando exercícios foram associados ao uso de ISRS (n=268, k=11, g= -0,55, IC 95% -0,86 a -0,23) e psicoterapia mais exercício aeróbico (n=404, k=15, g= -0,54, IC 95% -0,76 a -0,32).   Quanto a aceitabilidade, a taxa de desistência foi menor que o controle para treino de força (n=247, k=6, OR: 0,55 IC 95% 0,31 a 0,99) e yoga (n=264, k=5, OR: 0,57, IC 95% 0,35 a 0,94). A taxa de desistência das demais intervenções foi análoga ao controle ativo.  Efeitos foram maiores para as mulheres do que para os homens no treino de força e ciclismo e foram maiores para os homens na yoga, tai chi e exercício aeróbico associado à psicoterapia. Yoga e exercício aeróbico associado à psicoterapia foram mais efetivos para participantes mais velhos do que para os mais jovens, enquanto treino de força foi mais efetivo para jovens.   Uma curva de dose/resposta foi observada em todas as atividades físicas, com atividades de menor intensidade apresentando efeitos clínicos significativos (g = -0,58, IC 95% -0,82 a -0,33), mas menos intensos que exercícios vigorosos (g= -0,74, IC 95% -1,10 a -0,38).   Os pacientes mantiveram os benefícios observados após 6 meses da intervenção. As intervenções para mudança de comportamento tiveram efeito moderado. Quando os participantes possuíam maior autonomia, os resultados eram menos intensos (g= -0,28, IC 95% -0,78 a 0,23) frente as situações com menor autonomia (g= -0,75, IC 95% -1,17 a -0,33).  Os efeitos foram análogos para exercícios individuais e em grupo, mas algumas intervenções funcionavam melhor em grupo (yoga) e outras individualmente (treino de força e exercício aeróbico combinado). 

Discussão 

Acredita-se que a combinação de interação social, atenção plena ou aceitação experiencial, aumento da autoeficácia, imersão em espaços verdes, mecanismos neurobiológicos e afetos positivos são responsáveis pela melhora causada pela realização de atividade física.    Saiba mais: Cetamina para o tratamento de depressão maior

Limitações 

Na maior parte dos estudos participantes e profissionais estavam cientes das intervenções recebidas e das hipóteses do estudo, o que pode ter levado a um viés de expectativa. Desse modo, a maioria dos achados da revisão estão sujeitos a vieses de publicação. 

Importância para a prática clínica 

Os achados sugerem que os clínicos devem defender que a maioria dos pacientes realizem atividade física. Também devem orientar quanto a intensidade do exercício e os tipos que funcionam melhor e são mais bem tolerados.   Se determinantes sociais permitirem, estimular o engajamento em exercícios em grupo ou programas estruturados.  Exercícios mostram efeitos moderados na depressão tanto sozinho quanto associado com outras intervenções.   Os exercícios mais efeitos foram dançar, caminhar ou correr, yoga e treino de força. Os benefícios tendem a ser proporcionais a intensidade do exercício.
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Referências bibliográficas

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